terça-feira, 24 de abril de 2012

EUA 1 x 0 Inglaterra

O milagre de Belo Horizonte

A Inglaterra chegou à sua primeira Copa do Mundo da FIFA no Brasil 1950 esbanjando otimismo. Muitos apostavam que o futebol do ponta-direita Stanley Matthews levaria os ingleses ao título da primeira edição do torneio depois da Segunda Guerra Mundial. Já os Estados Unidos fizeram uma longa viagem de navio rumo à América do Sul com um grupo de jogadores semiprofissionais, e pouco se esperava deles na competição. O acontecimento do dia 29 de junho de 1950 ainda é considerado uma das maiores surpresas da história e foi proporcionado por um lavador de pratos haitiano, um motorista de funerária e uma boa dose de sorte. Confira no FIFA.com como Davi bateu Golias no milagre de Belo Horizonte.

O resumo
29 de Junho de 1950, Estádio Independência, Belo Horizonte, Brasil
EUA 1 x 0 Inglaterra
Gol: Joe Gaetjens (USA) 38'

EUA: Frank Borghi, Harry Keough, Joe Maca, Walter Bahr, Ed McIlvenny, Charlie Colombo, Frank Wallace, Gino Pariani, Joe Gaetjens, John Souza, Ed Souza. Técnico: William Jeffrey
Inglaterra: Bert Williams, Alf Ramsey, John Aston, Billy Wright, Laurie Hughes, Jimmy Dickinson, Wilf Mannion, Tom Finney, Jimmy Mullen, Stan Mortensen, Roy Bentley. Técnico: Walter Winterbottom

Os adversários
Como criadores do futebol moderno, os ingleses chegaram ao Brasil com vários jogadores conhecidos no mundo todo. A torcida esperava que astros como Matthews, Wilf Mannion e Tom Finney atropelassem os adversários. Tudo parecia estar dentro dos planos para os comandados de Walter Winterbottom, que teriam uma estreia simples diante do Chile e um segundo desafio aparentemente fácil contra os americanos, que chegaram com um bom número de jogadores semiprofissionais nativos do país - diferente de 1930 e 1934, quando a maior parte dos seus atletas eram estrangeiros.

Em um país onde o futebol era uma novidade restrita a universidades e guetos de imigrantes, a maioria dos jogadores praticava o esporte depois do trabalho e nos finais de semana em troca de alguns centavos. Para o jogo diante da Inglaterra, os bancos de aposta pagavam 500 para 1 em favor dos americanos, que haviam perdido o primeiro jogo por 3 a 1 para a Espanha.

A história
Como já era esperado, os americanos foram pressionados desde o apito inicial. Com apenas um minuto e meio de jogo, Roy Bentley alcançou um cruzamento e forçou Frank Borghi — incrível goleiro americano e motorista de carro fúnebre — a mergulhar para fazer a defesa. A pressão sobre o arqueiro não diminuiu, sendo que os ingleses tiveram seis chances de marcar nos primeiros 12 minutos, inclusive com duas bolas na trave. Tudo isso sem o astro Stanley Matthews, poupado pelo treinador graças ao teórico baixo nível de dificuldade da partida. “Eu esperava poder segurar para que marcassem apenas cinco ou seis gols”, lembra-se Borghi sobre aquele dia.

O 37º minuto seria decisivo para os americanos, que até aquele ponto haviam chutado em gol apenas uma vez, resultando em fácil defesa do goleiro Bert Williams. A verdade é que os Estados Unidos não conseguiam manter a posse de bola. Os desarmes em cima da hora, a agilidade de Borghi e os desperdícios do ataque inglês eram as únicas coisas que os mantinham vivos no jogo. Mas a oito minutos do fim da primeira etapa, Walter Bahr — professor primário na Filadélfia — lançou uma bola alta do meio de campo que parecia fora do alcance dos atacantes americanos. Quando Williams se adiantou para defender, Gaetjens se antecipou e conseguiu vencer o então perplexo arqueiro inglês. Inconstante por um lado, mas atlético e ofensivo por outro, Gaetjens estudava contabilidade e lavava pratos em um restaurante do Brooklyn quando foi descoberto pelo técnico americano William Jeffrey às vésperas do torneio no Brasil.

Na volta do intervalo, os 10 mil torcedores que lotavam o Estádio Independência esperavam uma reação da favorita Inglaterra, mas o que viram foi a ascendente confiança americana impulsionada pelo gol de Gaetjens e pelas seguidas defesas de Borghi. Assim, os americanos passaram a crescer no jogo, conquistando a torcida, que por sua vez empurrava o destemido grupo de jogadores semiprofissionais para cima da frustrada Inglaterra. A última chance dos europeus veio a oito minutos do fim, mas Charles Colombo parou o arremate de Mortensen em uma disputa de bola que parecia mais uma jogada de rúgbi do que futebol.

Quando o juiz apitou o fim de jogo, os americanos foram carregados nos ombros em volta do campo pelos torcedores brasileiros, que certamente jamais esqueceriam aquele úmido dia de junho em que os Estados Unidos rugiram mais alto do que os leões ingleses.

O que eles disseram
"Pode-se pressionar e segurar um adversário por algum tempo, mas normalmente não se segura uma seleção que é tão superior à sua por tanto tempo — principalmente por termos marcado um gol tão cedo, relativamente falando. Teríamos saído felizes com uma derrota de 2 a 0. Nem mesmo em sonhos imaginávamos que venceríamos. Apenas pensamos 'vamos dar o nosso melhor e esperar por um bom resultado'."
Harry Keough, zagueiro dos Estados Unidos.

"Muita coisa deu errado. Foi um daqueles jogos em que estávamos destinados a perder. Chutamos na trave várias vezes no primeiro tempo e duas vezes no segundo. Eles marcaram totalmente por acaso e nós baixamos a cabeça. Depois disso, acho que pensamos que não seria o nosso dia e paramos de jogar. Poderíamos ter jogado com eles 100 vezes e vencido tranquilamente 99 delas."
Sir Tom Finney, atacante do Preston North End e da seleção inglesa.

O que aconteceu depois?
Os perplexos ingleses não se recuperaram da inesperada derrota, perdendo a terceira partida por 1 a 0 mesmo com a presença do titular Mathews, e voltaram para casa como fracassados aos olhos da mídia e da torcida. Mas 16 anos mais tarde a Inglaterra daria a volta por cima e ergueria a sua primeira e única taça Jules Rimet, quando disputou a Copa do Mundo da FIFA em casa. Já os americanos não conseguiram repetir o desempenho e perderam para o Chile por 5 a 2. Na volta para casa ninguém foi recebido como herói e os EUA só voltariam a participar do Mundial 40 anos mais tarde.
Fonte: FIFA

Nenhum comentário: