quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O TERCEIRO SETOR SE COMUNICA?

A comunicação e sua relação com as organizações do Terceiro Setor Thiana Orth*
O Terceiro Setor se comunica? Diante do crescimento exponencial doTerceiro Setor, há alguns questionamentos a serem feitos: tem ele se comunicado com a mesma proporção com que cresce? Como a grande imprensa pauta o Terceiro Setor? Alguns desses questionamentos foram abordados no livro "O quinto Poder – consciência social de uma nação",da jornalista Lilian Dreyer, que traz entre outros assuntos, acomunicação e sua relação com as organizações do Terceiro Setor.
Segundo a autora, as entidades do Terceiro Setor nem sempre sãocorretamente percebidas pela população brasileira, e é neste sentidoque ela enfatiza a importância da imprensa. A maioria das instituiçõesligadas ao Terceiro Setor aponta um aumento no espaço que a mídiadedica à sua cobertura, principalmente sobre os temas relacionados àresponsabilidade social e ambiental, porém ressalta que esta coberturanecessita de mais qualificação.
Dreyer lembra que se o Brasil quer serum país movido por cidadãos capazes de zelar pela boa gestão de seusrecursos e de produzir estruturas que consigam acolher toda apopulação, sem exclusões, terá de empenhar-se pela abertura dosprocessos de comunicação. E para isto terá de superar uma defasagemhistórica. Existe falta de clareza quanto à própria conceituação doTerceiro Setor, o que segundo a autora pode estar na origem de muitasincompreensões que se mostram nas coberturas da imprensa.
No Brasil, a designação genérica Terceiro Setor se configurou a partirdos anos 90, em adição ao Primeiro Setor, que é o governo, e ao Segundo Setor, que é o mercado.
O termo ONG – Organizaçãonão-governamental popularizou-se, porém não define a origem dessasinstituições e em termos jurídicos não existe. Segundo a Abong –Associação Nacional do setor, as ONGs aparecem no formato de fundaçõesou de associações, podendo ser OSFL – Organizações Sem FinsLucrativos, OSC, Organizações da Sociedade Civil ou OSCIP –Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. Contudo, aprópria Abong esclarece que essas nomenclaturas são apenas regulaçõese o sentido de atuação das ONGs se dá através dos temas e objetivosque mobilizam, bem como através de suas práticas e dos compromissosque cada entidade possui. Neste cenário, onde existem diferençasmarcantes entre as instituições que participam do Terceiro Setor, aimprensa continua a exercer um papel de suma importância, pois éatravés dela que suas atividades podem ser mostradas e algunsconceitos esclarecidos. Mas estará o Terceiro Setor fazendo sua parte?
Segundo André Trigueiro, um dos jornalistas entrevistados por Lilian Dreyer, há um desafio para a mídia e outro para o Terceiro Setor. O damídia é a contextualização. É necessário entender em que contexto oassunto se envolve, do contrário qualquer um fala o que quiser e assimapenas se reproduz o que está sendo dito há muito tempo. Trigueiro explica que o comportamento da mídia em tratar os temas semcontextualização se dá pelo modelo de "jornalismo apressado" e utilizaa expressão "mares do imediatismo" para elucidar que o profissional damídia tem dificuldade em aprofundar seus próprios conhecimentos. "OBrasil é um país que tem inúmeras limitações ao conhecimento maissofisticado", considera Trigueiro, e é por isso mesmo, segundo ele,que o valor do mesmo é enorme para a sociedade.
O acesso à informação não é mais problema, já está disponibilizadoinclusive para a população de baixa renda, o problema atual, para ojornalista, é o da contextualização, e nesse quesito tantos osveículos de comunicação como seus profissionais terão de mudar suaforma de produzir notícia. Um acontecimento apresentado como se eleexistisse por si só, de forma isolada, não está bem apresentado. Temosque entender em que contexto o acontecimento se envolve. Já o desafiodo Terceiro Setor é saber jogar. Para Trigueiro a mídia brasileirapossui uma tendência em seguir utilizando as mesmas linhas editoriais,bem como as mesmas formas de cobrir diferentes assuntos, numa espéciede automação, como que se todos os assuntos pudessem ser encaixadosnuma única fôrma. Por um outro lado, há um movimento em sentidocontrário, de profissionais que já estão percebendo a importância derepensar modelos do que é notícia. Um dos motivos para essa abertura,segundo o jornalista, é a constatação de que as pessoas já estãosaturadas de consumir a mídia que deprime.
Os jornalistas não são preparados para entender a dimensão emocionalda notícia, afirma Trigueiro. Ele cita um movimento chamado Imagens eVozes da Esperança que busca refletir sobre a responsabilidade nãoapenas de informar, mas de fomentar sentimentos, tanto positivos comonegativos, dos profissionais de mídia. Neste sentido, o jornalistaRicardo Azeredo, professor da disciplina de Comunicação Comunitária,da ULBRA – Universidade Luterana do Brasil adverte que as organizaçõesdo Terceiro Setor que buscam atrair a mídia pelo apelo emocionalnegativo estão equivocadas. Segundo ele, existe uma tendência dasentidades em se colocarem como "miseráveis", o que pode até renderalgum espaço, mas o que a imprensa busca são as iniciativasconsistentes, que mostram credibilidade, profissionalismo e sabemvalorizar suas ações. Movimentos que prezam por ordenar sua gestão,com metas e processos bem definidos, conseguem ter potencial paramudar a sociedade e isso vira notícia.
Outro ponto importante abordado por André Trigueiro é o fato daorganização se predispor a ser interessante para a imprensa e tentarentender como o jornalista pensa. Ele ressalta que surgem situaçõesque podem ser visualizadas para geração de notícia, como por exemplo,se está ocorrendo a São Paulo Fashion Week, é o momento da associaçãodas costureiras do morro mostrar seu trabalho e promover um desfile, oque poderá vir a ser pauta em algum telejornal. "Se o jogo é esse, éprecisa saber jogar".
Referências: DREYER, Lílian. O quinto poder: consciência social de uma nação.
Porto Alegre: L&PM, 2008. *Thiana Orth é jornalista, mestranda em Comunicação Social, na PUCRS

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