sábado, 27 de setembro de 2008

Zona da Mata e Vertentes

Campanha movida a sola de sapato e cafezinho Tribuna de Minas
Juiz de Fora-MG
"Quem for eleito prefeito de Juiz de Fora será uma espécie de governador da Zona da Mata e região". A frase, proferida de maneira firme, poderia parecer um tanto pretensiosa se dita por um dos seis candidatos à PJF. No entanto, vinda do atual chefe do Executivo e concorrente à reeleição em Matias Barbosa, Joaquim Nascimento (PP), dá a dimensão exata do quanto as eleições juizforanas determinam o clima que envolve a disputa na região. Respeitadas as peculiaridades locais, o discurso dicotômico entre segurança e renovação - e mesmo aquele que tenta agregar as duas linhas -, tão explorado em Juiz de Fora, ganha ressonância num raio de cem quilômetros. Na última quarta-feira, a Tribuna percorreu seis cidades da Zona da Mata e Vertentes - Barbacena, Santos Dumont, Lima Duarte, Matias Barbosa, Rio Novo e Goianá - para conferir o clima das campanhas, e constatou que a leitura dos candidatos sobre os problemas de suas cidades e a forma como se apresentam ao eleitor diferem pouco.
Em todas, a estratégia passa por muita sola de sapato, corpo-a-corpo e cafezinhos. Sem um gerador de TV para ampliar o alcance da imagem dos concorrentes pelo horário eleitoral gratuito, a campanha é levada à base de alguma criatividade, muito conservadorismo e nenhuma "invencionice". Em comum, a falta de recursos próprios e a dependência das transferências dos governos federal e estadual. "A cidade pequena guarda essa particularidade da proximidade com o político e as pessoas cobram muito a presença efetiva do candidato. E o eleitor fica satisfeito", afirma Joaquin Nascimento, que disputa com Luiz Carlos Marques (PT).
Temas como saúde, educação, infra-estrutura, emprego e desenvolvimento econômico dominam os programas de Governo, com peso maior ou menor para cada um, dependendo do município. A exceção é Lima Duarte, onde a proposta primordial de um dos concorrentes é implantar política de desenvolvimento sustentável do ponto de vista ambiental, explorando o turismo como fonte principal de emprego e renda. Em Rio Novo, a fórmula tradicional chega a ser alvo de contabilidade. "Já passei por 2.800 residências, todo o comércio da cidade, além de indústrias e igrejas", enumera o candidato do PHS, Luiz Carlos Cabral. Seu adversário, Liviston Xavier (PSDC), faz a mesma peregrinação e acredita que terá visitado todos os eleitores antes de 5 de outubro. O terceiro nome na disputa, Antônio Moura Varotto (PPS), trilha caminho diferente. O ex-prefeito, com a marca da oposição, prega o fim do continuísmo na cidade.
O mesmo discurso é adotado na vizinha Goianá. Lá, o concorrente do PMDB, Geraldo Coutinho, se propõe como alternativa ao grupo que tem se revezado no poder, que tem a ex-prefeita Maria Elena Zaidem (DEM) como candidata. "No primeiro mandato, ela até fez um bom Governo, mas foi em função da falta de tudo. Há 16 anos, a gente vive a mesma administração, por que antes da emancipação ela já era vice-prefeita de Rio Novo". Maria Elena se defende. "Quando peguei a prefeitura pela primeira vez, tudo estava por fazer. Agora, que a base está pronta, dá para errar menos", pondera.
Rádio vira ‘arma’
Nessas pequenas cidades, os ataques são reservados para o rádio, já que a maioria desses municípios possui emissora própria que possa atuar como geradora dos programas eleitorais. Em Barbacena, o veículo esquenta o clima entre as tradicionais famílias Andrada e Bias Fortes, que têm o prefeito Martim Andrada, candidato à reeleição, e a ex-vereadora Danuza Bias Fortes como respectivos representantes na disputa. Danuza diz que investe em campanha propositiva, mas que vem sendo atacada pelo adversário. Fiel da balança, Alessandro Bertolin (PMN) confessa que não deixa por menos quando o assunto é entrar na briga com as duas famílias mais tradicionais da política na Cidade das Rosas. "Procuro falar para o eleitor que o ataque entre eles é apenas teatro. Passada a eleição, eles sempre acabam ocupando bons cargos no Governo, independente de quem vença. E isso tem causado sofrimento aos barbacenenses", diz Bertolin.
Apesar do esforço, a tática nem sempre cola da maneira esperada. "No final, são todos meio parecidos", critica o auxiliar de serviços gerais, de 22 anos, Júlio César da Silva. Ele é eleitor em Santos Dumont, onde o binômio renovação versus continuísmo é levado a cabo pela disputa entre o atual prefeito Evandro Nery (PT) e Carlos Alberto Azevedo (PPS). Já em Lima Duarte, o embate ocorre entre Geraldo Gomes (atual prefeito pelo PV) e Paulo Alencar (Paulo Gigante - PRB). Na cidade não há comícios ou muros pintados. Um acordo garante a limpeza do município. "A cidade cresceu muito, e o candidato tem é que andar", conta o eleitor Rinaldo de Paula, 43.
Barbacena E ntre os Andrada e os Bias Fortes, um novato. Tentando quebrar a hegemonia dos grupos que se revezam há anos no comando da cidade, Alessandro Bertolin (PMN) concorre contra Martim Andrada (PSDB) e Danuza Bias Fortes (PMDB) pelo posto máximo do município. Mas não sem alguma dificuldade. "Minha campanha está orçada em cerca de R$ 4.500. A dos concorrentes chega a custar mil vezes mais". Entre os representantes do tradicionalismo, farpas não faltam, principalmente pelo rádio. Danuza alega que vem fazendo uma campanha mais propositiva, calcada em uma proposta de desenvolvimento participativo e comenta que vem sofrendo ataques do atual prefeito. Martim não concedeu entrevista, alegando indisponibilidade de agenda.
Santos Dumont Na cidade do Pai da Aviação, a divulgação das candidaturas é feita em cima de bicicletas. Essa é a alternativa, mais barata que os carros de som, adotada por muitos dos candidatos a vereador e pelos cabos eleitorais de prefeitáveis. "Chego a percorrer 20 quilômetros por dia, pedalando. A gente pega carrapato e tudo", conta o cabo eleitoral Walmir Rosa. Com 46 mil habitantes e 37 mil eleitores é mais difícil percorrer todos os domicílios. Por isso, Carlos Aberto de Azevedo (PPS) investiu em quase um comício por dia. "Essa é a nossa TV". O candidato à reeleição, Evandro Nery (PT), conseguiu aparecer na TV ao participar do programa eleitoral do PT. Só que em Juiz de Fora. No rádio local, os dois têm os mesmos 15 minutos.
Lima Duarte Contando só com uma rádio comunitária, horário eleitoral gratuito é uma realidade distante na cidade de 16 mil habitantes. Mesmo assim, nada de comícios nem de muros pintados. Um acordo entre os concorrentes Paulo Alencar (Paulinho Gigante, PRB) e Geraldo Gomes (atual prefeito pelo PV) garante a limpeza da cidade. "Eles vão atrás, conhecem todo mundo, e a campanha tem sido bem programática", conta o eleitor Rinaldo de Paula, ressaltando que, nas visitas que fazem, ambos procuram destacar as propostas. Enquanto Gomes propõe que a cidade se transforme em um pólo de sustentabilidade ambiental e produção de biodiesel, Paulinho Gigante acredita na possibilidade de atrair empresas através da influência do companheiro ilustre de partido, o vice-presidente da República, José Alencar.
Matias Barbosa A 16 dias da eleição, Matias Barbosa sofreu uma reviravolta. O candidato Carlos Antônio Castro (PP) teve o registro indeferido por rejeição de contas públicas e desistiu de concorrer. Em seu lugar, o PP indicou o atual prefeito, Joaquim Assis Nascimento, para a disputa contra Luiz Carlos Marques (PT). "A eleição estava toda virada para o PT, mas com a entrada do prefeito, voltou a ficar confusa", relata a comerciante Clara Helena Reis, 49 anos, eleitora matiense. Na prática, o prefeito considera que teve apenas 15 dias de trabalho. "Numa campanha normal, eu tenho como visitar todos os domicílios da minha cidade, como fiz da vez anterior. Essa situação excepcional vai me privar disso", diz o postulante à reeleição. Já a candidatura petista é calcada na economia. "É uma campanha muito simples. Há quatro anos acabou sendo mais cara, porque foi disputada por um maior número de candidatos", diz Marques.
Rio Novo Embora a dicotomia entre novo e antigo seja explorada em Rio Novo, cidade com 6.295 eleitores, em alguns casos, a cópia do discurso juizforano é mais evidente. Os assessores de Antônio Varotto (PPS) apresentam seu "produto" como alternativa de "mudança com segurança", uma vez que se dizem aliados com as forças estaduais do PSDB, se apropriando do discurso da sigla em Juiz de Fora. O atual vice-prefeito, Liviston Xavier (PSDC), por sua vez, é o mais jovem na disputa e trabalha esse dado junto a essa camada da população, tendo como principal plataforma o emprego. Luiz Carlos Cabral (PHS) propõe como alternativa sua experiência em gestão. O lema é preparar a mão-de-obra para receber empresas atraídas pelo Aeroporto Regional. De fato, a geração de emprego e renda promete ser o desafio. Para se ter idéia, dos 8.900 moradores de Rio Novo, 2.340 são atendidos pelo Bolsa Família e 17% vivem com menos de R$ 60 per capita ao mês.
Goianá Goianá vislumbra o desenvolvimento econômico a partir da entrada em atividade do Aeroporto Regional da Zona da Mata. O lema, nas campanhas dos dois concorrentes, é acabar com a estagnação da economia, com atração de indústrias. Uníssono entre as metas dos prefeitáveis da região, está a disponibilidade de oferta de ensino profissionalizante. É isso que vem sendo levado aos eleitores, de porta em porta, mas com um cuidado: o horário. "Campanha aqui é só até 20h. Muita gente acorda às 4h para trabalhar nas fazendas", pondera o candidato Geraldo Coutinho (PMDB). Já Maria Elena Zaidem (DEM) espera concluir as visitas a todas as casas antes de 5 de outubro. Ela defende um Governo mais participativo.

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