domingo, 8 de junho de 2008

Grená, Verde e Branco

PAPO DE BOLA

Adilson Dutra

UMA VITÓRIA EM GRENÁ, VERDE E BRANCO

Mesmo que não tem simpatia pelas cores do Fluminense, "as três cores que traduzem tradição", como diz o hino do clube, se viu envolvido com a decisão da última vaga para a final da Libertadores, a outra já havia sido conquistada pela Liga Desportiva Universitária, a LDU, de Quito/Equador. O tricolor estava a toa na vida e foi levado pelo seu amor, pelo seu amigo ou por um vizinho para enfrentar a fila e a fúria de um trânsito violento só para ver o seu tricolor de coração enfrentar o Boca, o temível, até então, Boca Juniors, da Argentina. Diferentemente da letra de Chico Buarque, torcedor histórico do Fluminense, o tricolor não amou daquela vez como se fosse a última, como em "Construção", ele guardou forças e está pensando em juntar grana para ir ao Japão para ver passar na avenida principal um samba popular e criar uma página feliz para sua história esportiva. Não sei se o Fluminense conhece os passos dessa estrada, não sei se vai dar em nada, mas Renato Gaúcho diz que sabe de cor os segredos e conhece as pedras do caminho que levam ao título mundial. Sobre Renato Gaúcho, um treinador competente, podemos dizer que veio sem muita conversa, sem muito explicar e que veio para o Rio porque gostava de falar e de mar. Não sei se tem uma tatuagem no braço ou um dourado no dente, mas tenho certeza de que tem uma mente brilhante e que para as meninas afoitas, em seu tempo de craque do Grêmio, Flamengo ou Seleção Brasileira, era um mestre sala e o camisa sete mais bonito do mundo da bola. Na quarta-feira, o velho fraco se esqueceu do cansaço e vibrou. Vibrou com o gol de Washington, com as peripécias de Conca e com a destreza de Dodô. A marcha alegre, com os cânticos e os hinos tricolores, se espalhou pelas arquibancadas do Maracanã e fez coro com Chico Buarque: "Quem canta comigo, canta o meu refrão, meu melhor amigo é o meu Fluzão". Evandro Mesquita, outro tricolor famoso, dizia a todo o momento; "Estou a dois passos, do paraíso", no que era acompanhado daquele coro de oitenta mil vozes. Voltando ao Chico e a sua "A Banda", até a moça feia debruçou na janela após a histórica vitória sobre o Boca Juniors. Em certo momento, até acreditou que aquela banda tocava só pra ela, como se não houvesse mais tricolores no mundo e, como a marcha alegre se espalhava, a avenida ficava coberta de pó de arroz e a lua cheia surgiu para enfeitar toda uma cidade. Que vitória, Fluminense. Épica. Feita com tijolo sobre tijolo, com paredes sólidas e o time jogando como se lembrasse a máquina de Francisco Horta, que com seus olhos embotados, sentou prá descansar como se fosse sábado. O torcedor menos letrado, não é só de gênios, artistas e ricaços é feita a torcida do Fluminense, chora, não o choro da tristeza, mas o choro de quem já brincou de bola, soltou balão e teve que fugir da escola por opção, mas jamais vai esquecer esta lição: Vencer, no futebol, é tão duro quanto vencer na vida, perguntem só ao garoto Fernando Henrique, que dias antes a torcida pedia: "Pai afasta de mim este goleiro". É Fernando Henrique, é duro beber desta bebida amarga, tragar a dor e engolir a labuta. Mesmo calando o Boca, resta o peito e o silencio torcida após a épica vitória. Quem te viu, quem te vê Fernando Henrique. Hoje o samba saiu, procurando você. Sua noite foi de gala e suas defesas foram reconhecidas. Hoje o samba saiu, procurando você, Fernando Henrique, mas, por favor, não dê na vista, mande a torcida bater palmas com vontade e faz de conta que é apenas um turista. Tricolores de todo Brasil, cante o hino e cante Chico Buarque de Holanda, cante nos dias tristes, nas noites claras, com o peito marcado de lembranças do passado. Vá, tricolor, colecionar mais um título e coloque mais um retrato, não em preto e branco, mas em Verde, Grená e Branco

Um comentário:

Fernando disse...

Só de ler essa matéria eu já fiquei arrepiado!!!!
Parabéns ao Fluminense e a todos os tricolores rumo ao título!!!!!