domingo, 8 de junho de 2008

Itaocara-RJ - 06º Distrito - Batatal

Márcio Seixas da Costa Criado pela Lei n° 247/91, o distrito de Itaocara esperou quase um século para atingir essa posição na administração municipal. Embora não se possuam documentos relativos a sua fundação, foram feitas pesquisas com moradores mais antigos e com remanescentes das famílias dos fundadores: Teixeira, Braz, Pena, Moraes e Nassif, obtendo-se assim, algum histórico sobre esse povoado que sempre participou dos destinos do município de Itaocara. Aí residiram e ainda residem descendentes de José Antônio Teixeira, reconhecido efetivamente, como fundador da localidade. Na política destacaram-se seus filhos Luiz, Dário e Artur, participantes incontestes de toda a movimentação política até a década de 70.Por ocasião da elevação do povoado a distrito, na gestão do Prefeito Municipal Dr. Robério da Silva - 10 mandato - que contava como Secretário Municipal de Educação e Cultura com o professor William Rimes, foi elaborado um bom trabalho sobre o lugar, tempo em que foram recolhidas não só informações históricas, como geográficas, a fim de se estabelecerem os limites do novo distrito em área desmembrada da sede (25 km2).Nesta página que representará o distrito na revista documentário editada nesse momento histórico dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, é possível acrescentarem-se mais alguns dados, não só pelo tempo já decorrido desde a publicação daquele relato, como também pelas novas pesquisas feitas com o fim de ficarem para a posteridade mais algumas informações, que poderão responder a indagações futuras. Claro que não foi possível recolher tudo o que se desejava, porém fica mais uma colocação ao que já foi pesquisado.OS TEIXEIRAS E OS NASSIFESEm meados do século passado, chegaram por estas paragens AIbano José Teixeira, sua esposa Isabel Maria Teixeira e o filho de 9 anos Antônio José Teixeira, este nascido em Viana do Minho, Portugal, a 29 de março de 1856. Aqui iniciaram uma ampla atividade na agricultura e no comércio. Assim é que, em 1884, casando-se Antônio José Teixeira com Estevina da Silva Pena, continuou exercendo essas atividades em suas terras e nas que sua esposa herdara de seus pais. Ampliou suas propriedades adquirindo as fazendas Serena, Cachoeira Alegre e dos Namorados. De espírito progressista, montou em 1900 o Engenho da Aguardente Teixeirinha que, por muito tempo, gozou de grande preferência, sob gerência de seu filho Artur que fazia questão de manter a qualidade do produto. Seguindo seu leme empreendedor, criou a Fábrica de Artesanato em Cerâmica, entregue aos filhos Manoel e Dário; instalou a 1 a agência dos Correios, da qual foi o 10 agente; doou o terreno para a construção da Estação Ferroviária da Leopoldina, da qual também o 1° Transformador de Energia Elétrica. No município vizinho de Cantagalo criou a Fábrica de Chapéus "Palheta" e desenvolveu aíatividade imobiliária, já com a participação do filho Otávio.Aproveitando-se da dedicação dos 16 filhos, edificou um grande patrimônio, mais tarde como herança entre eles. Em Batatal construiu confortáveis residências para si e para os filhos que permaneceram ao seu lado na dinâmica vida que levava. Viajava para Portugal todos os anos, o que era uma coisa extraordinária para a época. Por lá ficava uma bom tempo e, ao voltar, trazia todas as novidades possíveis, inclusive afamados oleiros para aprimorar a arte da cerâmica. Importava barris de vinho português para seu uso e para abastecer o empório que administrava. Gostava de viajar, de vestirse bem com belos ternos de linho, e comer bem com mesa farta. Era vaidoso com chapéus e os tinha da melhor qualidade. Filiou-se à Loja Maçônica em 12/11/1898. Viveu seus últimos anos com D. Leopoldina Teixeira, de quem teve 13 dos seus 16 filhos. Não há mais nenhum descendente vivo da 1 a geração. Hoje, netos, bisnetos, e tataranetos espalharam-se entre Batatal, Nova Friburgo, Niterói, Rio de Janeiro, Bom Jardim e outros lugares.Com o progresso do lugar outras famílias vieram juntar-se aos Teixeiras: os Braz, os Moraes, os Penas, os Nassifes. De todos, estes últimos tiveram atuação mais perene no lugar.José Nassif e Rosa Nassif chegaram a Batatal em 1907, trazendo seu primogênito Miguel com apenas dois meses de idade. Contam que nascera no navio que os trazia do Líbano. Aqui Ihes nasceram os outros 11 filhos. Iniciando-se como mascate, JoséNassif logo montou seu estabelecimento comercial, contando também com a ajuda dos filhos. JoséNassif viveu 75 anos, falecendo em 1958. Dona Rosa Nassif também viveu 75 anos, falecendo em 1962. Dos descendentes diretos ainda vivem e residem no município os filhos Farid, viúva de Antônio Teixeira, Nagib, Pedro, Mário, José e Isabel.CORONEL TEIXEIRANo fim do 2° reinado era comum doarem-se títulos militares àqueles que demonstrassem atuação marcante na vida do país. Assim o Sr. Teixeira obteve o posto de Tenente Coronel da Guarda Nacional, do qual todos muito se orgulhavam. Nos anos 60 a Estação Ferroviária recebeu o nome de Coronel Teixeira, uma homenagem póstuma ao grande empreendedor, com a influência do então Senador Vasconcelos Torres, político e amigo da família.Em Batatal as ruas levam os nomes dos fundadores, dos filhos dos fundadores e de outras pessoas gradas ao lugar. A praça central recebe o nome de Praça D. Leopoldina, a matriarca da família Teixeira. DESATIVAÇÃO DA ESTRADA DE FERRO Em 1964, a localidade sofreu uma grande perda: a desativação da estrada de ferro, que tinha ponto final de linha em Portela, 3°distrito. O trem fazia uma viagem por dia até o Rio e Niterói, na época capital do Estado do Rio de Janeiro, viagem essa que levava 10 longas horas, caso não houvesse atraso. Havia ainda um trem misto, para passageiros e mercadorias, que ia de Portela a Cordeiro, de grande utilidade numa época em que os transportes rodoviários eram tão deficientes. A passagem do trem pela localidade trazia grande movimentação não só de passageiros, como de biscateiros que aproveitavam a ocasião para vender toda sorte de marcadorias: doces, ovos, frangos, frutas, salgados, etc. Aglomeravam-se na plataforma até que o agente desse a partida com a batida de um sino e a resfolegante locomotiva "Maria fumaça" rangesse suas rodas sobre os trilhos e partisse. Os moradores tudo fizeram para evitar tão desastrosa ocorrência: pedidos, abaixo-assinados, cartas, nada adiantou. Veio a desativação com a promessa de aproveitarem o leito da ferrovia e construírem uma rodovia asfaltada. Esta só veio na década de 90, mais de 30 anos depois, num trecho de Itaocara a Laranjais, passando por Batatal. EDUCAÇÃO, UMA PRIORIDADE A primeira escola instalou-se numa das salas da residência do Sr. Teixeira. Dali, ocupou outra sala também de sua propriedade na esquina da residência do Sr. Antônio Teixeira. Mudou-se depois para uma sala anexa ao depósito da cerâmica, até que em 1952 foi construído prédio público em terreno doado pela família Erthal. Daí para cá, tem passado por várias reformas e ampliações: quadras de esportes, refeitório, instalações sanitárias, play ground, pátio arborizado. Dentre as árvores há um espécime do pau-brasil obtido por ocasião do Eco/92 e doado pelo casal de exprofessores Sebastião e Noemi Teixeira, ele neto do fundador. A escola com várias salas e dependências administrativas leva o nome de Coronel José Antônio Teixeira.Possui Batatal uma razoável rede de escolas públicas: E.E. Coronel José Antônio Teixeira de caráter urbano, do pré-escolar à 8° série; E.E. Altevo do Valle e Silva, E.E. Amendoeira; E.E. José Gomes dos Santos; e E.E. Prof' Catarina Costa Faria, estas últimas da 1ºà 4º série.NOVAS FAMÍLIAS Outras famílias vieram juntar-se às pioneiras e também marcaram suas passagens por estas terras batatalenses. A família Moraes dedicou-se à fabricação de rapadura, montando um bem equipado engenho de propriedade do Sr. Lourival Moraes. A famílias Campany e Corrêa também são alguns dos desbravadores do lugar.Por volta de 1948, o Sr. Eugênio Erthal, seu Geninho como era conhecido, adquiriu a Fazenda Éden do Sr. Waldemar Lengruber Monerat, estabelecendo a sociedade Agro-Industrial Erthal Ltda., especialmente produtora de aguardente. A Fazenda da Amizade é administrada por um dos filhos, Guilherme Erthal, esposo de Maria da Penha Teixeira Erthal, Mariazinha Teixeira, descendente do Coronel. Os filhos e netos do Sr. Geninho continuam o trabalho do venerando industrial, sobressaindo-se como progressistas empresários no ramo. O SONHO SE FAZ REALIDADE Batatal conta, em sua parte econômica, com a indústria aguardenteira, pecuária, artesanato de barro (cerâmica), hortifruticultura, pesca, comércio. Por ser em toda sua extensão banhado pelo rio Paraíba, já foi muito farto em peixes. Hoje, com a poluição que o desgasta dia a dia, a pesca tem se tornado mais fraca. Conta-se ainda com uma máquina de pilagem de arroz.O distrito está a 7 km da sede e à mesma distância do distrito mais próximo, Laranjais. É cortado por várias estradas vicinais, de terra batida.Entretanto, é cortado também por estrada asfaltada, que vai da sede ao 2° Distrito de Laranjais, beneficiando o comércio e o escoamento dos produtos. O comércio se prioriza em lojas de confecções e secos e molhados, bares, lanchonetes, restaurantes. A localidade é bom servida em comunicação com telefones residenciais, comerciais e públicos (orelhões). O transporte de passageiros e de estudantes é feito por linhas de ônibus, que ligam o distrito às cidades vizinhas.A elevação a distrito se fez possível graças ao louvável esforço de uma comissão especial determinada pelo então prefeito municipal, Df. Robério Ferreira da Silva, presidida pelo vereador local Joséas Constantino, tendo como participantes Dr. Giovani Mercante, vereador; Dr. Sebastião Adib Cunha Nassif, engenheiro; Df. João Batista do Couto Neto, arquiteto; Walter Luiz Rimes, agrimensor; e José Nassif Júnior, presidente da Associação de Moradores.CAPELA DE SÃO SEBASTIÃO A vida social e religiosa é bem desenvolvida. O catolicismo é predominante, tendo como santo padroeiro São Sebastião, venerado em uma capela muito bonita e bem cuidada. Um fato memorável, ainda na lembrança de muitos moradores se deu por ocasião de uma grande enchente do rio Paraíba. Foi destruída uma capela na localidade de São Sebastião do Paraíba e a imagem do Padroeiro foi levada água abaixo, parando exatamente na beira rio em frente à capela de Batatal, também sob a veneração de São Sebastião. A imagem foi recolhida por moradores ribeirinhos e levada, intacta, para a capela de Batatal. Tempos depois foi reconduzida, em procissão, para a capela de origem. A festa do Padroeiro é celebrada em 20 de janeiro, atraindo muitos fiéis que vão em busca de bênção contra a "peste, a fome e a guerra", em procissões e outros atos litúrgicos.Existem alguns templos evangélicos que procuram levar o sentimento de espiritualidade e amor a Cristo, aos que os procuram. O CACACHOPAlém da festa do padroeiro, outra festividade, neste caso, de caráter profano, vem ganhando notoriedade, já na sua XVI realização. Dá-se no dia 12 de outubro o "Cacachop", abreviatura de camarão, caximbau (cascudo) e chop. O camarão de água doce, o pitu, é muito apreciado e já foi abundante na região, especialmente no local denominado Camarão, na Fazenda da Cachoeira Alegre. Devido à pesca indiscriminada e predatória, pois pega-se com a mão, facilitando o trabalho, tem diminuído bastante, também pela poluição das águas e a existência de represas rio acima, que diminui o volume da água. Têm-se até feito movimentos em defesa desse crustáceo, já quase em extinção, através de proibição da pesca na época da desova. O caximbau também é muito apreciado e os organizadores do evento abastecem os freezers com antecedência. Durante os festejos, servem os dois produtos cozidos no molho de tomate, acompanhado de pirão e arroz. Música, shows, variedades, barraquinhas completam a animação da festa que dura, em média, três dias. A idealizadora foi Mariazinha Teixeira Erthal, que realizou a primeira no ano de 1979.ESPORTE E SAÚDEO esporte não é muito desenvolvido, embora apreciado desde a fundação da localidade quando os filhos do Sr. Teixeira reservaram um espaço para a prática do futebol. Surgiu assim o Luso-Brasileiro Futebol Clube, que tem sido uma escola de craques. A equipe está sempre participando de campeonatos municipais. No campo, a Prefeitura já construiu o vestiário e espera-se a colocação do alambrado para estabelecer com mais clareza, as delimitações do espaço. Cogita-se ainda da iluminação elétrica para jogos noturnos, o que contribuiria para o desenvolvimento do esporte, já que, sendo atletas amadores, têm o dia ocupado com o trabalho.O atendimento em saúde é feito por um posto de saúde público com consultório médico e gabinete dentário. Atende bem a população, e os casos mais graves são conduzidos para a Casa de Saúde João XXIII e para o Hospital, ambos em Itaocara, onde ainda existem várias clínicas especializadas. Destaca-se na localidade de Batatal a Fundação Espírita Ismael, albergue de assistência à velhice. Embora em obras, possui excelentes acomodações e é um modelo de respeito à terceira idade, esperando poder contar sempre com a solidariedade de todos para manter seu atendimento, bem como ampliá-lo.ILHA SERENAA panorâmica local é muito bonita com o belíssimo visual que o Paraíba oferece, assim como as serras da outra margem, inclusive o imponente penhasco denominado Serra da Bolívia, cartão postal de Itaocara. Das margens do rio descortina-se a Ilha Serena onde se desenvolve a agricultura e a pecuária. Possui grande extensão de terras planas e já pertenceu à família Guinle que, no final do século passado, aí montou uma descaroçadeira de algodão, plantação muito desenvolvida, na época.BATATAL, UMA ESPERANÇA DE PROGRESSOBatatal tem seu nome originário de uma planta rasteira, muito comum na região em outros tempos e que produzia uns tubérculos semelhantes à conhecida batata-doce. Os batataienses anseiam por melhorias na localidade, já que, com a condição de distrito, deve merecer um maior empenho por parte das autoridades: mais ruas calçadas, postos bancários, favorecimento financeiro aos pequenos e médios agricultores, aterro no Loteamento Manoel e Maria Teixeira facilitando a construção de novas residências nos lotes já demarcados, policiamento local, muito embora a população seja pacífica por excelência. Espera-se que a virada do novo milênio venha trazer outros tantos progressos ao lugar. O que não lhe falta é um povo ordeiro e trabalhador, sempre esperando novas e melhores oportunidades. Pela proximidade do Paraíba, bons serviços de energia elétrica e comunicação, trecho de estrada e jazidas da calcário em seu solo, é região bem propícia para a instalação de indústria de cimento, proporcionando mais empregos e evitando que os jovens abandonem sua terra em busca de condições favoráveis a sua subsistência.A localidade sempre esteve e estará pronta a participar da vida pública de seu município. Seus moradores se orgulham de suas origens, procurando manter vivas as tradições e enaltecer sempre aqueles que, no passado, trouxeram tanto progresso a sua terra querida. Sebastião Teixeira e Noemi Cruz TeixeiraFontes de pesquisa:1) Publicação "Batatal" pelo professor William Rimes, patrocinada pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura - 1991; 2) Lei n° 65 de 27/08/1981, que institui a zona urbana do município de Itaocara; 3) Entrevistas: Nagib e Elma Nassif; Sebastião Teixeira e Noemi Cruz Teixeira; Ana e moradores da localidade.

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