segunda-feira, 10 de março de 2008

A ousadia de mudar de profissão

Marcelo Maroldi* Tem um dia na sua vida que você acorda e não quer ir trabalhar. Bem, eu já tive. Às vezes passa a ser duas vezes por semana, ou três, ou mais... e aí mora o perigo. Logo, o problema se torna mais evidente, e você já o transfere para a noite anterior: Puxa, amanhã tenho que ir lá trabalhar! Essa inquietação pode ter várias causas, claro, uma delas a insatisfação com a profissão escolhida ou com a atividade exercida na profissão. É muito comum, mais do que se pensa. Um vizinho quer ser pintor, mas sobrevive dando aulas de inglês. O primo quer ser médico, mas não tem condições financeiras de estudar para isso. Aquela moça aspirava ser bailarina, mas se mencionar seu desejo aos pais, que a sonharam dentista, estes morrerão de angústia. Acredito que a vida é confusa demais para se passar tanto tempo (1/3 do dia ou mais) numa atividade de que não se gosta. Mas, ainda assim, mudar de profissão é uma atitude considerada radical, até mesmo para os mais radicais. A mudança causa medo, causa insegurança, torna confusa a cabeça das pessoas. Tem que ser muito decidido - ou muito tonto - para abandonar uma carreira de sucesso, um emprego, um salário, uma vida social para correr atrás de um sonho. Em teoria, até que é um preço justo trocar 6 anos de estudo, digamos, pela tentativa de realização de um sonho, não é? Não, não é. A maioria das pessoas jamais faria algo assim. Elas abrem mão de seus sonhos, vendem-nos covardemente por uma oferta de emprego, um pedido familiar ou uma promessa de vida mais fácil. O sonho fica quase sempre em segundo plano. O importante é a tal da estabilidade. Muitos ainda acreditam, como nossos avós e pais, que qualquer trabalho serve, pois o que importa é levar o dinheiro para casa. A felicidade pessoal não estaria relacionada ao trabalho, o trabalho é somente a maneira de se conseguir sobreviver. A sua felicidade é à margem do trabalho, o trabalho é só algo que se tem que fazer. Sinto muito, mas eu não penso assim, vovó. Eu cruzei com algumas pessoas que estudaram em universidades públicas, em boas universidades públicas, fizeram cursos concorridos, que lhe rendem salários altos, mas eles não estão bem. Eles querem outra coisa. Uma amiga minha, desde a faculdade, sonhava em abrir uma loja de perfumes. Quando ela vai tomar coragem? Respondo: Nunca! Vivemos em uma sociedade que privilegia algumas atividades e despreza outras E eu não falo somente de salários, isso já é óbvio. Eu falo do status (ou a falta dele) que algumas profissões têm. Você pode ser um imbecil, ter comprado seu diploma, ser mal educado, grosseiro, etc., mas, se você for médico, o olham de outro jeito. E se você for "apenas" um professor do ensino médio o chamam de professorzinho. Eu bato palmas para os que ousam mudar. Talvez eu seja somente um pessimista por acreditar que a vida não é essa maravilha que falam por aí (aliás, já ousou dizer isso para alguém? Vão ficar com pena de você, meu amigo. Se você não acha que a vida é uma grande festa e é ma-ra-vi-lho-sa, você é um perdedor, ou um depressivo, ou algo assim. A vida tem que ser maravilhosa, a de todo mundo é! Se a sua não é, tem algo de errado com você). Mas, se isso for minimamente verdade, não há um único motivo para eu não fazer o que eu quero fazer, não importa se eu ganhar pouco, ou se não serei convidado para a posse do novo presidente do clube da cidade. E, também, não quero que me digam o que fazer! Quero fazer o que eu acreditar que vá me fazer feliz, e se errar, eu volto atrás. A vida não é isso, tentativa e erro? Por que é tão complicado ser o que se quer, afinal? *Marcelo Maroldi é Jornalista e Poeta http://www.jornalonoticiario.com.br/

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente, pelo que observamos os médicos e advogados aprendem a ser assim, ou são tratados assim, desde q entram na universidade. Excelente texto, apesar de eu divergir de algumas coisas.