"O tempo perguntou pro tempo
Qual é o tempo que o tempo tem
E o tempo respondeu pro tempo
Que nem mesmo o tempo sabe
Qual é o tempo que o tempo tem."
Talvez o tempo tenha levado (justamente) parte de alguma memória minha, levado consigo a lembrança de ter aprendido, um dia, sobre o trava-línguas. Aprendi (ou reaprendi) com meus filhos que, deliciosamente, aprenderam na escolinha: o trava-língua... ou será que eles aprenderam alguma coisa sobre o tempo? Será que ensinam sobre o tempo? Será que se conhece sobre o tempo? Será que se conhecem sob o tempo? Mas, qual tempo; onde está o tempo; quem é o tempo? O que fazer com tempo? O que é o tempo?...
Ainda há pouco me peguei olhando, com carinho, para um guardanapo de pano (substituídos pelos dinâmicos guardanapos-de-papel-usou-jogou-fora) da minha avó, que o tempo não traz mais. Mas será?
Será que minha avó passou com o tempo, ou será que foi o tempo de minha avó que passou? E aquilo que guardo com o tempo em mim que, seguramente, não passou? Passou? Bem, dizem por aí que "na vida tudo é passageiro, menos trocador e motorista"... isso quer dizer que haverá sempre trocador e motorista? Quem explica? Quem explicará o tempo? Quando estiver tentando chegar a uma conclusão sobre isso já terá passado algum tempo, talvez você tenha até perdido o ônibus e não será nem passageiro... nem trocador... nem motorista...Mas o tempo é assim mesmo: meio doido, meio são, mas é implacável.
É meio dia, meia noite, hora de chegar, hora de ir, tempo da moda de não ter tempo só para que saibam que você faz alguma coisa e que é (ou procura ser) alguém. Tempo de decidir ou de não decidir nada, tempo de ver ou de ter ouvidos de quem quer ouvir, ou quer aprender a falar... tempo de tomar remédio e tem que ser na hora certa (céus, sou péssima para isso... adoro dose única... porque é mais fácil de não errar). Tempo de acertar... será que teremos tempo para corrigir os nossos erros? Será que vamos sobreviver aos nossos tempos? Tempo do tempo-de-cabeça-pra-baixo.
Lixo agora é luxo. Reciclagem, economia, reaproveitamento de coisas, tudo pela sustentabilidade... do tempo. O tempo que é usado para enriquecer e viver na facilidade do descartável, do luxo que vira lixo. Já deu tempo para ver que corremos o risco de não sobrevivermos por conta do tempo que passou sem que ninguém se desse conta do tempo que passou na vida, no mundo, no outro. Mas você tem responsabilidade? Meu caro, devo lhe dizer que é tempo de ter responsabilidade e de acreditar que a vida (de todos) está em suas mãos.
Grande vantagem: o tempo traz conhecimento, experiência, conforto, mudança, esquecimento, aborrecimento, impaciência, visão, alternativas, dores, amores (o tempo é implacável), envelhecimento, crescimento, resultados, acertos, erros, consertos... sol, chuva, alagamento, barro e seca... o tempo!
Nada como sobreviver a ele ou sobreviver com ele, ou passar por ele, mas viver nele, dando tempo ao tempo...
O tempo é implacável! E verá um dia que não viveu tempo algum, apenas esteve lá perdido no tempo, se deslocando para o passado e para o futuro... e seu presente lhe dando um presente: oi! Você envelheceu, tudo aconteceu como se você não estivesse ali, lá ou cá (onde está você?). A brisa sussurra em seu rosto e lhe dá imenso prazer... parece o tempo a lhe dizer: "viva, eu ajudo a todos, eu ajudo... eu sou o tempo, o tempo é tudo, tome as rédeas... não sou tão implacável, não me faço implacável... eu, o tempo, nem eu mesmo sei qual é o tempo que o tempo tem... quem precisa sabê-lo é você... sou eu!"
*Rosana Piva é psicóloga e psicanalista.
Fonte: www.jornalonoticiario.com.br
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