quinta-feira, 20 de março de 2008

Chico Anysio

Edu César*
Por décadas muitas gerações se divertiram com ele. Alberto Roberto, Bento Carneiro, Bozó, Coalhada, Divino, Jovem, Justo Veríssimo, Lobo Filho, Nazareno, Neyde Taubaté, Painho, Professor Raimundo, Roberval Taylor, Salomé, Tavares, Tim Tones... Já notaram que falo de Chico Anysio, um dos mestres vivos do humor. À entrevista com o moço de Maranguape:
-Há muitos anos você não tem destaque na grade da Globo, como nos grandes tempos. Por que a Globo não dá mais atenção aos teus projetos?
-Verdadeiramente eu não sei. O que me parece é que a Globo acha que o que já fiz foi suficiente e agora ela quer me dar um descanso.
- Você fez uma participação na "Praça é Nossa" nº 1.000. Trocar de emissora para desenvolver novos projetos, qualquer que fosse não seria uma boa?
- Até poderia ser, mas não há o que me faça sair da Globo. Eu ajudei a fazer esta emissora e me sinto como se fosse um dos seus donos. Eu sou um artista absolutamente global.
- Há alguns anos, você disse que a Record seria a grande concorrente da Globo. Ela brigará mesmo pela liderança ou a Globo ainda tem fôlego no posto?
- Eu já não acredito que a Record venha a brigar com a Globo pela liderança. A Globo é uma emissora com os pés no chão e uma bagagem respeitável. A Record não é administrada por gente de TV, o que lhe dificulta muito.
- Como você avalia a TV brasileira após o fim da era Boni na Globo? Qual a tendência dela para o futuro na sua visão, em termos de qualidade de programação?
- Não tenho a menor idéia. E sabe de uma coisa? Pouco me importa o que virá por aí, porque já não será nada para mim.
- Na TV paga há canais "flashback", apenas com seriados antigos. Não seria uma boa a Globo fazer um canal semelhante para exibir o melhor do que já produziu?Claro que seria. Não sei porque ela não faz isso.Sendo você um dos sinônimos do humor brasileiro, qual avaliação pode fazer do momento atual do gênero na TV brasileira?
- Não posso lhe dizer nada porque eu não vejo TV aberta.
- Dos seus mais de 200 personagens, quais te marcaram mais especialmente, por qualquer motivo que seja?
- Muitos, por muitíssimos motivos. Fica difícil destacar um dos demais.
- Roberval Taylor foi homenagem a Helio Ribeiro, lenda do rádio brasileiro. Além dele, quais outros comunicadores de rádio você aprecia ou apreciou?
- José Mauro, Gabus Mendes, Oswaldo Moles, Haroldo Barbosa, Max Nunes, Aloysio Silva Araújo, Radamés Gnatalli, Ghiaroni, Amaral Gurgel, Raymundo Lopes, Ivany Ribeiro e mais uma centena.
- Tim Tones praticamente antecipou-se à onda de tele-cultos que vemos hoje em dia. O que você acha da maciça quantidade de programas religiosos na TV?
- Se eles estão no ar, devem dar resultado. Se não derem um bom resultado no índice, devem dar no dinheiro que pagam para que a TV os ponha no ar.
- Você já fez papéis sérios, como em novelas e filmes, nos últimos anos. É mais difícil fazer qual gênero: drama ou comédia?
- Comédia, é claro.
- Passando ao futebol: és oposicionista a Eurico Miranda. Até quando você acha que persistirá o comando dele no Vasco?
- Até quando ele quiser, porque depois dele virá ele novamente, com o filho na presidência indefinidamente.
- Como você vê o momento atual do futebol brasileiro, tanto dentro quanto fora de campo?
- Não estamos vivendo um momento glorioso, porque há muitos equívocos a nos enganar. Kaká nunca foi o melhor do mundo e Robinho nunca será. Vivemos nos enganando e, na verdade, temos um time longe daqueles do passado.
- Copa de 2014 no Brasil: na sua opinião, é bom para o País ou não recebermos o maior evento do futebol?
- Não sei. Num dia em que o Brasil jogar no Maracanã, com TV direta, e houver um jogo entre Irã e Polônia em BH, não imagino quantas pessoas irão ao Mineirão. Vai acabar que só haverá grande público nos jogos do Brasil, e isto significa quase um fracasso.
- Há alguns anos repercutiu muito uma declaração sua, ao Lance!, sobre não confiar em goleiros negros. Mantém a opinião ou ela mudou?
- Mantenho. Também não gosto de nadadores negros, cavaleiros negros e jogadores de water polo negros. Mas ao mesmo tempo acho que os negros são imbatíveis no basquete, nas provas de atletismo até 400 metros e depois dos 3 mil, no futebol, no football americano, no baseball, nos saltos em altura, em distância e triplo etc.
- Trabalhaste no rádio como comentarista esportivo. Se te convidassem hoje para sê-lo novamente, aceitaria ou não?
- Nunca mais.
- Quais seus profissionais prediletos na crônica esportiva, de ontem e de hoje, seja do rádio, da TV, do jornal, enfim?
- De ontem, o Raul Longras, que foi o primeiro a me acreditar. De hoje, o José Carlos Araújo e (com muita saudade) o Osmar Santos.
- Mudando de assunto, és também compositor. Como você avalia a música brasileira atual, tanto de melodias quanto de letras e artistas?
- A música brasileira está parada, porque só se faz no Brasil de hoje a música inglesa (rock) e a americana de periferia (funk). Os grandes compositores há muitos anos não compõem mais.
- Voltando ao humor: cite cinco humoristas do momento de seu apreço, estejam na TV ou em outras áreas, como o teatro.
- Bruno Mazzeo, Clarinha Gueiros, Heloísa Perissé, Cláudia Jimenez e Claudinha Rodrigues. Pedro Cardoso, também, antes que eu me esqueça.
- Esta é difícil, mas perguntarei de igual maneira: cite cinco humoristas que você considere os maiores da história.Brasileiros?
- Vamos lá: Oscarito, Mazzaropi, Walter D'Ávila, Brandão Filho e Rogério Cardoso.
- Para encerrar: você acha já ter feito de tudo no humor, ou ainda podemos esperar boas surpresas do Chico Anysio em breve?
- A vida não é cheia de surpresas? Vamos aguardar. Edu César* é Jornalista Gaúcho. http://www.papodebola.com.br/

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