quinta-feira, 20 de março de 2008

Luiz Alfredo

Edu César*
Luiz Alfredo, hoje narrador da RedeTV! e com importantes passagens por Globo (rede nacional e afiliada no Paraná), SBT e Record. Ele é filho de Geraldo José de Almeida, um dos grandes locutores da era Pelé, que marcou época ao narrar o tri da Seleção na Copa de 70. A seguir, um papo muito especial com o Luiz. Repete!!! - Fale um pouco sobre seu pai, Geraldo José de Almeida, que foi um histórico narrador de rádio e TV das décadas de 50 a 70. - Ganhou, com apenas 17 anos, um concurso para locutor comercial na Rádio Record e, logo depois, com 19, já era locutor esportivo ("speaker", como diziam). Em 1958 (39 anos), na Copa da Suécia, estava na Pan-Americana (hoje Jovem Pan), que formou rede inédita com a Continental do Rio de Janeiro, liderada pelo Waldir Amaral, outro grande do rádio esportivo. Na final, bateram o recorde mundial de transmissão ao vivo na época, com quase oito horas seguidas. Foi nessa época que criou a expressão "seleção canarinho". No bi de 1962 estava na Rádio Record. Em 63 foi para a Excelsior (hoje CBN) e, logo em seguida, para a televisão, a TV Excelsior, que os historiadores classificam com razão como a pré-Globo. A adaptação do rádio para a TV, difícil sempre, foi bem sucedida. Em 70 estava na Globo narrando o tri, em dupla histórica com o grande João Saldanha. Nessa época seus jargões e apelidos ficaram consagrados. "Olha lá, olha lá, olha lá, no placarrrrrr", "Por pouco pouco, muito pouco, pouco mesmo", "Que que é isso, minha gente", "mineirinho de ouro Tostão", "gauchão Everaldo", "garoto do parque Ri-ve-li-no", "canhotinha de ouro Gérson" e "o craque café Pelé" foram algumas das expressões mais famosas. A dupla com o amigo João Saldanha chegou, brilhante, até a Copa de 74. Em 75 foi para Porto Alegre, na então TV Difusora (Band hoje) e viveu, como gostava de destacar, dias maravilhosos. Já doente voltou para São Paulo, trabalhando na TV Record e com grandes audiências. Morreu em agosto de 76, aos 57 anos, num domingo de futebol. - Da época do Geraldo até a sua, se vão de cinco a seis décadas. Quais você crê ter sido as grandes mudanças na narração de TV neste período? -No começo do futebol na televisão havia dois modelos no ar: a narração mais conversada e a que seguia, eletricamente, o modelo do rádio. De lá para cá a grande mudança foi a adoção da linguagem coloquial, simples e a consolidação da narração num ritmo adequado à TV. Hoje, evidente, há muito mais narradores, mas alguns retrocessos que podem ser um fecho de ciclo, como aconteceu no rádio. Considero retrocesso a imitação dos principais narradores, no jeito, na linguagem, na entonação, nos jargões. Os que constroem seu próprio caminho estão numa estrada mais difícil! - De todos os estádios e/ou palcos esportivos onde narraste, quais os melhores para trabalhar e quais não dão saudade? - No Brasil o Maraca, a Arena da Baixada, o Beira-Rio e o Morumbi. Fora daqui, mais qualidade e melhor tratamento ao torcedor e aos profissionais. Os estádios da Alemanha, o Olímpico de Seul, o Olímpico de Los Angeles, o Olímpico de Barcelona e alguns ginásios americanos e espanhóis, se a minha memória não falhou. - No Brasil precisamos de muito mais respeito à imprensa e ao torcedor.Sempre bate essa curiosidade quando se conversa com narradores: fale sobre a diferença entre narrar no estádio e vendo pela TV, no estúdio. - No estádio você tem a visão geral, dá pra prever mais os movimentos e reconhecer mais rápido os jogadores. No estúdio você depende muito da geração das imagens, já que só conta com o monitor. Mas dá para levar legal. Outra diferença é que no estádio você sente mais o clima da torcida. - O "off-tube" surgiu com a globalização e o grande número de transmissões do exterior.Na sua opinião, a cobertura esportiva brasileira é satisfatória? Não faltaria, por exemplo, um pouco mais de jornalismo investigativo?Acho a cobertura, de um modo geral, bem satisfatória. - O jornalismo investigativo, no sentido de aprofundar mais os casos, é importante também, e pode ser mais valorizado. Um belo exemplo na TV é o primoroso "Histórias do Esporte" (ESPN Brasil), dos jornalistas Roberto Salim, Ronaldo Kotscho e Beto Duarte. - Acha que o jornalista deve declarar para qual time torce? Se lhe perguntarem seu time do coração, responde ou sai pela tangente? - Em tese não vejo problema nenhum. Mas, na prática, essa é uma questão que passa pela paixão do torcedor e, eventualmente, pelo fanatismo, um terreno delicado. Quando me perguntam eu entendo a curiosidade, mas tento sair dessa. - Qual o tipo de preparação feita por você quando vai transmitir algum evento, no aspecto de estar bem informado a respeito dele? - A busca da informação deve ser sistêmica, estar no dia a dia do profissional. A informação específica do jogo é complementar, mas também vital. Eu, por exemplo, fico ligado no esporte o dia inteiro, assistindo a tudo que é jogo, lendo jornais etc. E o melhor de tudo é que eu gosto disso! Sobre o evento a ser transmitido, procuro fazer um trabalho de preparação específico e bem detalhado, usando todos os recursos possíveis, incluindo a Internet e as checagens necessárias. - Resuma um pouco sua trajetória no jornalismo esportivo. - Comecei na TV Record em 1982, primeiramente como repórter. Pude diversificar, atuando como apresentador, comentarista, produtor e editor. Foi uma escola fundamental. A narração chegou naturalmente. Faço questão de lembrar o Paulinho Machado de Carvalho e o Blota Júnior como os meus padrinhos profissionais. Depois fui para a Globo, em 84. Em 89 fui para o SBT, comandado pelos Luciano Callegari – pai e filho - para ser titular nas eliminatórias e na Copa de 90. Em 91 voltei para a Globo, com destaque para 92, com a Olimpíada de Barcelona, a Fórmula 1 e o Mundial de Tóquio ganho pelo São Paulo. Em 94 fui fazer a Copa do Mundo de futebol de novo no SBT e, em 96, me transferi para a TV Record, onde fiquei até 1999. Depois fiquei trabalhando nas várias praças e, principalmente, em Curitiba, na TV Paranaense. Em 2005, um convite do Flávio Adauto me levou para a TV Cultura. Desde 2006 estou, feliz, na RedeTV!, sob o comando dos super competentes José Emílio Ambrósio e Terence Paiva. - Nesses anos todos atuando no esporte, quais as coberturas mais marcantes que fizeste, pelo lado bom e/ou ruim? - Sou um cara muito feliz, tive muitas chances e pude ir às mais variadas coberturas, dos mais diferentes esportes. Algumas das lembranças mais importantes: a prata na final do vôlei nas Olimpíadas de 84, o ouro do Aurélio Miguel no judô em Seul 88 ("meu" primeiro ouro), o ouro do vôlei masculino em Barcelona 92 (primeiro ouro olímpico do Brasil em esporte coletivo), a cesta da Hortência em Vigo/Espanha 92, no último segundo do jogo e que deu a vaga olímpica às meninas, o Grenal do Século em 88, o mundial de futebol do São Paulo em Tóquio 92, todas em trabalhos pela Globo. E mais: a alegria do tetra na Copa de 94 (SBT), a final da Copa do Brasil 95 (SBT) com o recorde de audiência, as vitórias do Senna como a de 86, no dia seguinte da eliminação do Brasil na Copa pelos franceses (Globo), o recorde mundial do futsal na vitória em Macau (RedeTV!) e o título da volta do Popó (RedeTV!). Edu César* é Jornalista Gaúcho
Fonte:www.papodebola.com.br

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