terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A tirania, Fidel e Pinochet

SAGRADO LAMIR DAVID* 
Juiz de Fora-MG 
As conseqüências das nossas ações agarram-nos pelos cabelos sem nada se importarem com o fato de, entretanto, nos termos corrigido" - Nietzsche. Todo tirano, para se realizar, deve estar acima do bem e do mal. Mas jamais escapará ao julgamento da própria consciência; naquilo que, para atingir seus intentos, sacrifica seus semelhantes, sem julgamento, usando apenas sua própria e inquestionável vontade. Contudo, como mostra a história, que, pelo que pretendo provar, experimenta a sensação de não precisar se repetir, nenhum ditador, em nenhuma época, recebeu da humanidade a condescendência de permanecer vivo e tentar provar que sua culpa poderia ser redimida por suas boas ações. Ou tiveram tal chance Napoleão, Mussolini e Hitler? Claro que não! Uma vez destituídos do poder, foram impiedosamente julgados pelo tribunal da cidadania, e pagaram caro por seus crimes contra os inalienáveis direitos humanos. Até Robespièrre, suposto inimigo da tirania. Quem não se lembra, apenas como exemplo, do que fizeram com Hitler e Mussolini? E o próprio Napoleão, que penou seu castigo em dois exílios e, sucumbindo, desprezado, morreu esquecido na Ilha de Santa Helena, após o trágico Waterloo. Mas os tempos mudaram, como dizia, de início. 

Hoje, já não se fazem tiranos como antigamente. Pois, revestidos pelo verniz da democracia, especialmente no Terceiro Mundo, usam dos artifícios da ideologia e da economia para explicar - sem justificar - seus ofícios tirânicos, que alguns chamam, eufemicamente, de "democracia relativa", como em nossa ditadura militar; ou, modernamente, com o suposto fim das tiranias, de "presidentismo"... O primeiro, o ex-tirano chileno Augusto Pinochet, é considerado o recuperador da economia chilena, fato respeitado por todo o mundo financeiro internacional; entretanto, foi responsável pela sangrenta tomada do poder, que culminou com o trágico assassinato de Allende, além de impor ditadura com milhares de vítimas, ainda hoje, reclamadas pelas entidades do direito e da democracia. Recuperando, pressionado, o regime democrático, com novas eleições, manteve-se, estrategicamente, como chefe supremo das Forças Armadas, apoiado pelo poder econômico, que, com justiça, recuperou para sua evoluída pátria. Mas Maquiavel, sempre presente na história, ao tentar provar que o regime tirânico, onde só um governante temido é respeitado (e consegue governar), não ajudou Pinochet a conquistar a simpatia do povo. Hoje, nada mais é do que a trágica lembrança do que fez contra seus compatriotas que pensavam diferente no fatídico Estádio Nacional de Santiago!Temido, e, portanto, respeitado, controlou o poder político de sua pátria, por sua influência marcante no meio militar, mas jamais apareceu para o povo como líder da estirpe de O´Higgins! Esse é o dilema do líder perante o povo: amado e crucificado (como Allende)?! Ou temido e respeitado (como Pinochet)?! 

Fidel Castro, o novo Pinochet da esquerda, enfrenta o mesmo dilema maquiavélico, a ponto de colocar suas barbas de molho (não as reais, é claro!). Convocou, há algum tempo, antes de sua morte, o Papa João Paulo II a dar-lhe "uma mãozinha", pois não acredita, como Maquiavel, que "os regimes não se mantêm com Padres Nossos". Reze também, Fidel, pois a fé é maior do que a ideologia! 
 *Médico e Escritor

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