terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

CUBA - UMA BREVE HISTÓRIA DE UM POVO DE CORAGEM - II

Laerte Braga Fulgêncio Batista era um sargento estenógrafo quando encabeçou um golpe militar contra o presidente Gerardo Machado, em 1933. Era mulato e assim o primeiro descendente afro a chegar ao poder. Num primeiro momento isso lhe valeu as simpatias populares que ampliou com medidas contrárias aos norte-americanos. Passada a lua de mel e percebidos os verdadeiros propósitos de Batista, o general, se auto promovera, foi deposto e retorna eleito em 1940. Promulgou uma constituição de cunho liberal, foi novamente deposto e em 1952 dá novo golpe de estado com apoio de forças populares no pressuposto que o general retomaria as primeiras linhas de seu primeiro governo. Cuba transforma-se numa sucursal das grandes companhias dos EUA. No campo o controle dos “negócios” do açúcar e do tabaco. Na cidade dos cassinos e bordéis. A "indústria” da prostituição passa a ser a mais rentável da ilha. O governo de Batista suprime liberdades individuais, associa-se às máfias norte-americanas, aos grandes empresários do Norte e não demora a surgir a reação popular ao regime de terror e barbárie do general Fulgêncio Batista. A própria classe média começa a abandonar Batista. A violência e corrupção do regime eram às claras. As prisões estavam lotadas dos adversários de Batista e por um breve período, dentre eles, o advogado Fidel Castro, nascido em família de alta classe média. A área urbana possuía forte infra-estrutura e o capital proveniente do submundo ítalo-americano (dos Estados Unidos) financiava grande parte da economia. Batista era senhor de um grande bordel. Registre-se que àquela época o BBB ainda não havia aparecido, tudo era ao vivo em Havana e nem Boninho havia nascido. Só os predecessores. Em março de 1953 um grupo de estudante liderados por José Antonio Etcheverria criam um Diretório Revolucionário e um grupo armado tenta invadir o palácio presidencial. Etcheverria foi assassinado e o grupo se dispersou. Um outro grupo de estudantes iniciou novo movimento. Eram liderados pelo estudante de direito FIDEL ALEJANDRO CASTRO RUZ. A primeira ação do grupo foi uma tentativa de tomada do quartel de La Moncada. Muitos foram mortos, Fidel preso e condenado a 15 anos de prisão. Solto por interferência de alguns religiosos fugiu para o México e lá conhece Ernesto Guevara, o Chê. Começam a formar um movimento que chamam de Movimento 26 de Julho e iniciam a luta contra Batista. Foram 25 meses de guerrilha. Em novembro de 1958, ERNESTO GUEVARA LINCHI DE LA SERNA inicia sua marcha para Havana e no dia 1º de janeiro de 1959 Batista e seu governo fogem do país. O curioso é que os comunistas tradicionais apoiavam Batista e viam Fidel com desconfiança. Foi assim anos mais tarde na Bolívia, onde fracassaram e não cumpriram os acordos feitos com a guerrilha de Guevara naquele país. Fidel mobiliza a juventude, elimina o analfabetismo (40% da população) em um ano valendo-se de 100 mil jovens, faz a reforma agrária, desapropria propriedade de norte-americanos, indenizados pelos valores que declaravam ao imposto de renda cubano, cria atritos, por isso, com os Estados Unidos que, já no primeiro momento da revolução treinam militares de Batista para tentar derrubá-lo. Fidel, que até então não era comunista aproxima da União Soviética e em dois anos declara marxista o governo de Cuba. Em abril de 1961 cerca de mil e quinhentos exilados cubanos recrutados e patrocinados pela CIA (AGÊNCIA CENTRAL DE INTELIGÊNCIA), tentam uma invasão na Baía dos Porcos. Foram derrotados, 300 deles morrem e um mil e duzentos são feitos prisioneiros. Fidel leva-os a julgamento num estádio e a multidão de cubanos exigia que fossem fuzilados aos gritos de “paredón”. Castro, no entanto, troca-os por tratores e 50 milhões de dólares em alimentos e medicamentos. A nova crise com os EUA surge quando os soviéticos implementam um conjunto de bases em Cuba, com mísseis nucleares e Kennedy, presidente dos EUA, bloqueia o país, impedindo os cargueiros da URSS de ali chegarem. Um acordo põe fim à crise. A União Soviética desiste das bases e os norte-americanos aceitam respeitar a soberania da ilha. A totalidade dos investidores dos EUA em Cuba, quando do regime Batista, declarava seus bens ao imposto de renda em valores irreais, abaixo, muito abaixo do que de fato possuíam. Castro quando desapropriou as terras e empresas dos EUA valeu-se desses dados e isso provocou revolta entre os latifundiários e empresários, levando os Estados Unidos a decretar um bloqueio econômico, a forçar países latino-americanos a aceitarem a expulsão de Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos). Esse tipo de reação de organizações terroristas como a Casa Branca persiste até hoje. É parte intrínseca do capitalismo. A sonegação, a exploração do homem pelo homem não é privilégio da FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo) e nem da DASLU. Vem de longe, aqui é um dos braços das máfias centrais. A “Emenda Platt”, que no início do século passado, tornou Cuba um protetorado dos EUA, assegurando o direito de explorar a ilha, deixou ressentimentos e o anti-americanismo dos cubanos ganhou força com as posições dos sucessivos governos daquele país contra Fidel. Cuba possui um serviço de saúde universal, a rigor não tem desemprego, educação de boa qualidade a todos os cubanos (não existe analfabetismo) e com a ascensão de governos de esquerda (Chávez, Lula, Morales) em países da América do Sul, o retorno dos sandinistas ao poder na Nicarágua (Daniel Ortega), começa a romper o bloqueio norte-americano. Um detalha importante. EUA e Espanha são aliados hoje em ações contra Cuba e o governo socialista. Os níveis de crescimento de Cuba na atualidade são altos e as perspectivas de melhoria na economia são reais, o que mantém preservadas as bases do socialismo lançadas e consolidadas por Fidel. O prestígio do líder cubano foi fator de preservação do movimento revolucionário. A era RAUL CASTRO que se inicia a rigor hoje, como disse o próprio presidente, mantém intactos os ideais revolucionários. Cuba foi decisiva na consolidação da independência da Angola, ameaçada pelos portugueses e norte-americanos e o fascínio da revolução, na década de 60 do século passado, levou os Estados Unidos a patrocinarem e a fomentar golpes militares de extrema-direita na América Latina. Ditaduras cruéis a sanguinárias instalaram-se em países como o Brasil, o Chile, a Argentina, outras foram mantidas como no Paraguai, na Bolívia e na América Central, enquanto a “democracia” mexicana era administrada por Washington, até a conquista definitiva da colônia com o NAFTA (tratado de livre comércio entre México, Canadá e EUA). Fernando Moraes no seu livro “A Ilha”, best-seller até hoje, amigo pessoal de Fidel, narra um fato interessante. Nos primeiros momentos da revolução o governo importou um touro reprodutor do Canadá para criar um rebanho em Cuba. O touro não funcionou e custaram a perceber que o dito cujo viera de um país frio para um país onde o calor é permanente. Um curral com ar condicionado e a temperatura do Canadá permitiu que o rebanho cubano fosse criado.

2 comentários:

Pedro Bueno disse...

Meus parabéns. Não quero dizer com isso que penso que de fato tudo são flores, mas pela minha idade e pelo que lia no passado, Cuba se não fossem os embargos, digo no plural pois muitos países até mesmo o Brasil, viraram as costas para aquela pequena nação. Mas os meus parabéns é por ter sido o primeiro que transcreve o que ocorreu com a história de Cuba nesses últimos tempos. Felizmente hoje em dia há os "blogueiros" que não têm compromisso com donos das empresas jornalisticas e daí terem a liberdade de colocar suas ideias para quem desejar ler. Muito se fala da liberdade de imprensa, mas não se fala da liberdade de expressão do jornalista. Bem, mas que Cuba ache o seu caminho com toda a liberdade, mas não necessariamente ter a tão falada democracia que apregoam que os EUA têm, pois são os que impõem sua demonstração de liberdade pela força e pelas armas. Fiquemos só com o Iraque para exemplificar.

Pedro Bueno disse...

Complementando: Cuba, não fossem os embargos, poderia ser a matriz de muitos outros ensinamenos para muitos outros povos. Uniu-se a URSS por ter sido abandonada. Muitos dirão ao contrário, mas ninguém toma partido por um lado sem ser lhe dito isso ou aquilo. Ameaçaram a ser mantida sob tutela e com isso houve a adesão, infelizmente por aqueles que também usavam da força para ter outras nações sob dominio, principalmente no tempo d chamada "guerra fria".