terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Patrimonio histórico


Erguido no século 18, sobrado do museu da Sétima Vila do Ouro é reformado
O cartão-postal de Pitangui tem rico acervo, como peças sacras com mais de 200 anos

Pitangui – Fechado à visitação há cerca de duas décadas por negligência do poder público em investir na conservação de sua estrutura bicentenária, enfim o sobrado que abriga o Museu Sacro Monsenhor Vicente Soares começou a ser reformado. O imóvel, erguido no fim do século 18, é um dos principais cartões-postais de Pitangui, a Sétima Vila do Ouro e cidade mãe de pelo menos 40 municípios do Centro-Oeste mineiro, como Pará de Minas, Nova Serrana, Bom Despacho, Itaúna e Divinópolis. A primeira etapa da obra – trocas do telhado, do forro e do piso e rebocos das paredes interna e externa – deve ser concluída no primeiro trimestre de 2013. O aporte, de R$ 246 mil, é bancado pelo erário municipal.

A segunda parte da restauração – construção de banheiros no porão, que será rebaixado em 70cm, e de um provável elevador – ainda não tem prazo para sair do papel, pois carece de projeto executivo e da chegada do prometido financiamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas. A restauração total está estimada em R$ 1 milhão. A última grande reforma no casarão, que tem dois andares e 17 cômodos, ocorreu na década de 1960. A torcida dos moradores de Pitangui, a 130 quilômetros de Belo Horizonte, é para que o museu seja reinaugurado antes de 2015, quando a cidade completará 300 anos.

A reinauguração do cartão-postal é a senha para que o rico acervo do museu sacro, que precisou ser transferido para um prédio vizinho ao Banco do Brasil para que não fosse alvo de quadrilhas especializadas em bens históricos, retorne ao imóvel colonial, tombado em 1959 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); e em 2008 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Parte do acervo é formado por mais de 70 peças sacras, algumas com mais de 200 anos.

Propostas
Há cálices e crucifixos de pratas, armas antigas, objetos dos séculos 19 e 20 e milhares de documentos. Também chamam atenção dezenas de imagens, como as de São Benedito de Santa Efigênia, ambas com cerca de 1,5m e que datam do início do século 18. “Há 22 imagens em processo de tombamento”, conta frei Manoel Ricardo da Rocha Fiúza, do Conselho Municipal do Patrimônio, Cultural e Turismo de Pitangui. Há poucos dias, ele visitou a obra e foi informado por um dos operários que os colegas haviam encontrado, em gretas do assoalho, quatro moedas fundidas em 1803. “Estão grafadas em latim e foram encaminhadas ao Instituto Histórico de Pitangui”, afirma o frei. Ao lado de vários moradores da cidade, ele elabora propostas que serão apresentadas à prefeitura para as comemorações dos três séculos da Sétima Vila. O encarregado de carpintaria João Aguiar de Castro, que trabalha na restauração do sobrado, torce para que o museu seja entregue à população antes do aniversário de 300 anos: “É importante para manter viva a história tanto da cidade quanto do país”. Entusiasmado com a reforma, ele revela que parte da parede de pau a pique de um dos cômodos será coberta apenas com vidro para que o público tenha uma noção dos materiais usados na época da construção do museu, que já abrigou a sede da prefeitura, do arquivo do Judiciário e da casa da Câmara e cadeia.

“Caminhar pelas dependências do casarão é como voltar ao passado, à medida que observamos as técnicas de construção aplicadas nas paredes de pau a pique, portais e telhado. Também ao imaginarmos quantas decisões importantes foram despachadas no sobrado. O museu é essencial para uma cidade histórica como Pitangui, para manter viva nossas origens, atrair visitantes e pesquisadores e, consequentemente, aquecer a economia do município”, avalia o turismólogo Leonardo Morato. Ele e o amigo Vandeir Santos doaram ao acervo do museu peças e fotografias antigas. “Vandeir doou um ponteiro de ferro, do século 18, encontrado, num trabalho de campo, no interior de uma mina de ouro desativada. Eu doei cinco documentos – cartas, petições, requerimentos – do mesmo século. O material foi pesquisado no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa. O Conselho Ultramarino tinha a função de orientar e auxiliar o rei de Portugal nos pareceres, leis e decisões relacionados às colônias portuguesas. Os assuntos e solicitações diversas dos cidadãos nas Capitanias no Brasil eram despachados para a Corte portuguesa, por intermédio das câmaras municipais”, diz Leonardo.

Religião e questões sociais
Os moradores contam que o sobrado teria sido construído a mando do major Joaquim Inácio, rico morador de Pitangui no século 18, para servir como residência do presidente da província mineira. Inácio sonhava que a Sétima Vila do Ouro pudesse algum dia ser a capital. O Museu Sacro Monsenhor Vicente Soares de Pitangui conta com um arquivo que revela curiosidades do passado inaceitáveis nos dias de hoje, como ações chamadas de penhora das almas. São documentos, datados da primeira metade do século 18, nos quais devedores asseguravam a própria alma como garantia em caso de não pagamento do débito. Os papéis mostram como questões sociais se misturavam com a economia e a religião daquela época. É preciso lembrar que no século 18 as compras de serviços e produtos por meio de pagamento a prazo eram comuns, pois havia grande escassez monetária.

Documentos semelhantes já foram encontrados pela historiadora Cláudia Coimbra do Espírito Santo em Mariana e Ouro Preto, respectivamente a primeira e a segunda vilas do ouro no estado. Além de Pitangui, as demais são: Serro, São João-del Rei, Sabará e Caeté. É possível que novos documentos sejam incorporados ao acervo do museu. Isso porque os operários que trabalham na restauração do imóvel encontraram um cofre fechado no local. Ninguém tem o segredo, mas a expectativa é de que ele seja aberto nos próximos meses. A torcida é para que seu interior esteja recheado de papéis que ajudem a contar a história do município.
Fonte: www.uai.com.br 

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