por Clóvis Campêlo
Conheci-a há alguns anos atrás e, de início, não imaginei o que ela pudesse me propiciar.
Achei apenas que seria mais uma companhia para essa vida da qual eu tenho certeza que já vivi mais da metade.
Essas coisas são assim, simplesmente acontecem, não mandam aviso, não sinalizam, não deixam que nos preparemos para recebê-las.
No
entanto, não me fiz de rogado. Aceitei-a, não digo que com o coração
completamente desarmado, mas com a serenidade necessária.
A primeira
crise, porém,
mostrou-me que a nossa convivência não seria necessariamente pacífica.
Senti-me atingido e, o que é pior, privado de exercer algumas das coisas
das quais mais gosto.
A crise passou e voltamos a conviver, ou
melhor, coexistir pacificamente. Tive consciência, porém, de que alguns
limites estavam definitivamente estabelecidos. Eu não mais seria o
mesmo. Mesmo assim, a coisa não me pareceu tão trágica.
A crise
seguinte aconteceria ao retornar de uma viagem a São Luís do Maranhão.
Sabia que havia exagerado e extrapolado alguns dos limites durante a
viagem. Mas, sabem como é: a gente viaja, fica longe do nosso habitat
natural, perde algumas das referências diárias e termina saindo da
linha. Não imaginava, porém, que a sua manifestação seria tão violenta.
Confesso que assustei-me com o que tive de suportar. A partir daquela
data, sabia que teria de tomar mais cuidados. Guardei tudo na memória.
Precisava não mais me esquecer. Mas,
como todos nós sabemos, a memória é pragmática e utilitária e precisa
sempre reciclar os seus arquivos para puder acumular as informações que
realmente são necessárias naquele momento vivido. E todo aquele
conhecimento acumulado pela experiência do sofrimento saiu de cena.
Mesmo assim, dois anos se passaram e nada aconteceu. Eu inocentemente
com a guarda aberta e ela calada, quieta, como se nada tivesse a
reclamar.
Domingo passado, amigos, inesperadamente para mim, a coisa
estorou novamente. Nunca a vi tão violenta, descontrolada, raivosa,
vingativa. Temi perder o controle da situação, coisa que nunca havia
acontecido antes. Hoje, alguns dias depois, posso dizer que se situação
ainda não se normalizou. Arrefeceu, porém. E estamos mais uma vez
naquela fase de negociação, procurando estabelecer de maneira
conveniente o espaço que cada um pode ocupar em paz. Confesso que desta
vez passei a respeitá-la muito mais, tive a percepção
exata da sua força. Não quero mais o confronto, juro. Quero viver em
paz com ela. Deixo isso bem claro e evidente. Não dá para suportar a
dor. Terrível. A partir de hoje, farei tudo o que ela disser. Agora eu
sei quem é que dá as ordens. Não sou louco.
Rendo-me, portanto, à artrite gotosa.
Fonte: www.geleiageneral.blogspot.com.br
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