sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A estrela que perdeu o brilho

Estrada de 1840 que serviu a Família Imperial caiu no esquecimento

Banido ao ostracismo por força do progresso, um caminho sinuoso, em paralelepípedo, que se estende por 12 quilômetros de história e belas paisagens da serra de Petrópolis é conhecido e apreciado por poucos. A estrada Velha da Estrela (também chamada de Estrada Normal da Serra da Estrela) - aberta em 1840 com a honrosa função de facilitar o acesso da Família Imperial até o alto da serra - serve hoje praticamente apenas como opção de quem quer fugir de engarrafamentos na BR-040 (Rio-Petrópolis).

O trajeto, aberto por colonos germânicos, começa em Raiz da Serra e percorre a Serra da Estrela até Petrópolis, revelando paisagens com ângulos inusitados, como a que descortina a Baía de Guanabara e a Baixada Fluminense. Mas desse passado histórico restam apenas as vistas panorâmicas e a mata exuberante.

O caminho, que faz parte da Estrada Real (liga o Rio a Minas Gerais), se tornou, apesar do potencial turístico, alvo de favelização, principalmente na localidade de Meio da Serra, onde, até a década de 50, funcionou a fábrica de tecidos Cometa. A vila operária, que servia às famílias dos funcionários, se transformou em área de construções irregulares. A comunidade se expandiu tanto que hoje chega a ocupar o leito da histórica estrada de ferro Príncipe do Grão-Pará... , ligando Raiz da Serra a Petrópolis e que servia de meio de transporte para a Família Imperial.

De olho nesse potencial turístico inexplorado, a prefeitura de Petrópolis sonha em concretizar uma parceria com o município de Magé e o governo do estado para reativar a ferrovia, por meio de uma obra estimada em R$ 70 milhões. Com isso, a Estrada Velha da Estrela teria também resgatado seu potencial turístico, acredita o diretor de Turismo da prefeitura de Petrópolis, Aníbal Duarte:

- A reativação da estrada de ferro seria de grande importância para o turismo da região, ainda mais às vésperas das Olimpíadas e da Copa do Mundo. O projeto incluiria a estrada, que passaria pelo processo de revitalização que tanto merece.

O projeto de revitalização inclui a retirada de 250 imóveis das margens da estrada e do leito da ferrovia, o que seria feito em conjunto pelas prefeituras de Magé (por onde passam cerca de cinco quilômetros da estrada) e Petrópolis. Pela parceria, Magé ficaria encarregada de realocar cem famílias e Petrópolis, outras 150. Ao estado caberia a função de construir a nova ferrovia. O projeto, porém, segundo Aníbal, está paralisado desde a turbulência política que tomou conta da prefeitura de Magé e culminou com a cassação da prefeita Núbia Cozzolino.

- Esperamos que, com a posse do novo prefeito, o projeto seja retomado - acrescenta ele.

Enquanto os ventos da revitalização não sopram em direção à Estrada Velha da Estrela, ainda assim vale conhecer esse caminho alternativo Petrópolis. A cada curva, é possível admirar uma bela paisagem, mesmo com tantas construções irregulares e a ausência de mirantes.

Uma curiosidade é o fato de a estrada começar a 50 metros acima do nível no mar (na altura de Vila Inhomirim) e atingir 830 metros de altitude a menos de 11 quilômetros adiante, o que dá ideia de como é íngreme. O calçamento em paralelepípedo dá um ar bucólico à via, cortada por riachos, nascentes, pequenas cachoeiras e uma gruta. Na altura do Meio da Serra, é possível percorrer as ruínas da fábrica Cometa, que ainda preserva as chaminés. A cinco minutos de caminhada do complexo fica a cachoeira das Pedras Gêmeas. A má notícia é que suas águas já são poluídas...

Numa das curvas, uma velha casa, quase em ruínas, também faz parte do roteiro turístico, embora sem comprovação histórica: a Princesa Isabel teria pernoitado no imóvel algumas vezes a caminho de Petrópolis. Hoje, a casa é ocupada pela quarta geração de uma mesma família.

- Todos aqui na região se referem ao imóvel como a "casa da princesa" - conta, orgulhoso, Antônio Salomão, um membro dessa família.

Entusiasta da Estrada Velha da Estrela, o condutor de turismo Amauri Antonio de Menezes organiza grupos de caminhadas pelo trajeto, com paradas na antiga vila operária, nas curvas que revelam belas paisagens e nas ruínas da fábrica de tecidos:

- Toda esta região merece atenção especial por seu valor histórico. A recuperação da estrada e da ferrovia alavancaria o turismo, sem dúvidas.
Fonte: http://www.manifestolivre.com.br/

Um comentário:

Luiz Carlos Martins Pinheiro disse...

Amigo Carlos Ferreira

É uma bela íniciativa a de se restaurar a ligação ferroviária Petrópolis - Rio de Janeiro, a um tranporte regular competitivo com o rodoviário.

Os estudos a respeito são estimulantes e permitem que se faça a viabilidade técnica e econômica e posterior Engenharia Final, para que possa inclusive partir à licitação pública ao empreendomento e sua exploração ferro-turística.

Poderá incluisive complementar o TVA Brasil, permitindo viagens de Petrópolis para São Paulo - Campinas e vise-versa, com terminal comum em Barão de Mauá.

Abraços, saúde e Paz de Cristo,
Luiz Carlos/MPmemória.