domingo, 14 de agosto de 2011

Aírton Pavilhão

por Celso Augusto Uequed Pitol

O ano é 1962. Os jogadores da Seleção Brasileira convocados para a Copa do Mundo do Chile estão treinando em Campos do Jordão, região serrana do Estado de São Paulo, escolhida a dedo para acostumar os jogadores do "escrete" ao clima e à altitude dos Andes. O zagueiro Aírton Pavilhão, do Grêmio (o único convocado de fora do eixo Rio-São Paulo) recebe uma bola na frente da área e dirige-se até a bandeirinha de escanteio, no que é acompanhado pelo adversário do treino. Chegando lá, Aírton parecia encurralado: atrás de si, o atacante; à frente, o final do campo. De repente, para surpresa de todos, ele gira o imenso corpo de 1m89cm e posicionando a bola do lado de fora do pé esquerdo, chuta-a com o peito do pé direito fazendo um lançamento para o goleiro Gilmar, a alguns metros dali. A isto antigamente chamava-se "dar de Charles" (hoje, chamaríamos "dar de letra"), e era uma jogada muito utilizada por atacantes habilidosos. Eu disse atacantes – nunca um zagueiro comum faria uma coisa dessas. Eu disse um zagueiro comum – não Aírton Ferreira da Silva.


Todos ficaram boquiabertos com o lance, inclusive o treinador, Aymoré Moreira, que nunca vira nada parecido. E como nunca vira nada parecido, achou melhor dispensar Aírton do grupo que iria ao Mundial, com medo que ele repetisse e errasse a jogada durante o torneio. A verdade é que o único errado nesta história era o próprio Aimoré Moreira: Aírton nunca errou aquela jogada. Com isso, o Brasil perdeu a chance de ter tido o primeiro zagueiro, desde Domingos da Guia, a rivalizar em talento com os nossos melhores atacantes e a chamar a atenção do resto do mundo. A seleção de 1962 ficou mais pobre sem ele.

Mas Aírton era muito mais do que uma jogada de efeito. Era, para dizer tudo de maneira simples e direta, um zagueiro tecnicamente perfeito: excelente na saída de jogo, sem rival na bola aérea, habilidoso como um ponta-direita, forte como um halterofilista e, ao mesmo tempo, absolutamente leal em todas as disputas de bola, a ponto de receber elogios públicos de Pelé numa época em que os zagueiros de todo o mundo apelavam para os safanões quando enfrentavam o Rei do Futebol.
Colaboração: Alexandre Magno Barreto Berwanger 
 
 

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