domingo, 17 de julho de 2011

Literatura

 "Caparaó: a primeira guerrilha contra a ditadura"
Não mais de vinte homens, quase todos ex-militares, participaram da primeira guerrilha contra a ditadura militar no Brasil. Dois anos depois do golpe de 1964, apoiados por Leonel Brizola, então exilado no Uruguai, tentaram estabelecer um foco na serra do Caparaó, na divisa entre Espírito Santo e Minas Gerais. Uma tentativa de recriar, no Brasil, uma Sierra Maestra, uma guerrilha como a cubana, que a partir de um pequeno grupo bem articulado promoveu uma revolução. Além da perseguição militar e policial, enfrentaram sua inexperiência para sobreviver no ambiente inóspito escolhido para a ação, a desconfiança dos camponeses – que tentaram, sem nenhum sucesso, arregimentar – e as divergências internas, quando o idealismo dos primeiros instantes progressivamente vacilou. Em 01º de abril de 1967 os guerrilheiros foram capturados, numa emboscada organizada pela PM mineira.

A luta desses combatentes estava praticamente esquecida – ausente das principais obras de referência sobre o regime autoritário. "Caparaó: a primeira guerrilha contra a ditadura", resultado de quase dez anos de trabalho do jornalista José Caldas da Costa, é o mais completo relato dessa história. Foram cem horas de entrevista com alguns dos principais envolvidos na guerrilha e em sua repressão, e muita pesquisa em arquivos de jornal e documentos.

O livro narra as motivações desses ex-militares, cuja luta contra seus antigos comandantes assume o simbolismo de um embate entre subalternos e chefes. Descreve as articulações internacionais, o envolvimento do governo de Cuba, que treinou parte dos guerrilheiros, e a preparação da resistência. Relata também o dia-a-dia dos combatentes, seus projetos, e o que passaram na prisão, onde um deles veio a morrer em circunstâncias misteriosas.

Mas não se trata apenas de fazer justiça histórica à Guerrilha do Caparaó. O livro vai além: acrescenta informações e revela dados que modificam o que se sabia sobre esse levante. "Caparaó" redescobre os guerrilheiros quarenta anos após a resistência armada. Arrependem-se, hoje, com idades entre 60 e 75 anos, do que fizeram na juventude? Onde erraram? Onde acertaram? O que fizeram depois da prisão? E, principalmente, o que sentem em relação à democracia brasileira, pela qual ousaram lutar?

O livro, que traz prefácio escrito por Carlos Heitor Cony, está sendo lançado simultaneamente ao documentário Caparaó, de Flávio Frederico, vencedor do festival É Tudo Verdade de 2006.

Sobre o autor
José Caldas da Costa é jornalista e nasceu em 1960, em Alegre, Sul do Espírito Santo, no sopé da Serra de Caparaó. Escreveu para as principais revistas do Espírito Santo, atuou como repórter, redator e chefe de sucursal de A Gazeta (ES) e redator de O Globo, e voltou ao jornal A Tribuna como editor, respondendo por cinco anos (1996-2001) pela coluna política Plenário.

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