Por sua conduta ética, era ridicularizado tanto pelos corruptos como por setores tidos como elitizados da nação. Falava-se, pejorativamente, em "república do pão de queijo", quando o que muitos queriam era a possibilidade de realizar operações de risco, como o polêmico imbróglio Diniz-BNDES-Carrefour. Para muitos, era "ultrapassado", quando, na verdade, era um modelo de simplicidade e honestidade. Um político à antiga, no bom sentido do termo. No entanto, o homem era turrão. Certa vez, como não tinha sido avisado, mandou o Banco Central suspender a emissão de novas cédulas. Depois, liberou. De certo modo, Itamar jogava lenha na fogueira sobre sua imagem, como ao estimular uma constrangida Volkswagen a trazer de volta o Fusca, quando os carros novos estão cada vez mais sofisticados.
A morte de Itamar coincide com a explosão de nova denúncia no atual governo: a de corrupção no Ministério dos Transportes. Há anos havia comentários de bastidores sobre problemas na pasta, mas agora pelo menos parte dos fatos se tornaram públicos. Sensível à ação política, a presidente Dilma até agora poupou o ministro Alfredo Nascimento (PR). A presidente teme afastar Nascimento e provocar a ira de seus aliados políticos.
Itamar sofreu de Fernando Henrique Cardoso uma enorme traição. Tendo sido o presidente responsável pelo Plano Real, Itamar tinha 90% de chances de suceder a FHC, em 1998. Mas, como mancha em sua biografia, Cardoso conseguiu fazer aprovar, no Congresso, mudança nas regras do jogo, permitindo que o presidente pudesse se reeleger de forma imediata. Se o país queria a reeleição, isso teria de valer para o sucessor de FHC, jamais para ele próprio. Com essa manobra imediatista, FHC tirou de Itamar a possibilidade de retornar triunfalmente ao Palácio do Planalto.
Por: Monitor Mercantil
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