domingo, 12 de junho de 2011

Fluminense e Corinthians

Recordar é viver - A invasão corintiana em 1976
por Paulo Cézar da Costa Martins Filho*

Amigos, teremos Corinthians x Fluminense neste domingo, 12/06, e sempre que temos um Corinthians x Fluminense, vêm à nossa mente as recordações dos grandes jogos entre os dois grandes clubes. A glória tricolor nas finais da Copa Rio em 1952, a invasão corintiana na semifinal do Brasileirão de 1976, a revanche tricolor na semifinal do Brasileirão de 1984, a classificação corintiana na semifinal do Brasileirão de 2002, o título tricolor após meses de disputa no Brasileirão de 2010. A história nos mostra: Corinthians e Fluminense parecem ter nascido para quebrar lanças em batalhas memoráveis. (aqui, cabe dizer que a própria idéia do Corinthians surgiu durante uma partida do Fluminense, assistida pelos jovens que fundariam o clube paulista semanas depois).
Sempre que se fala na famosa invasão corintiana em 1976, vem à tona a polêmica: havia quantos paulistas no Maracanã? As reportagens da imprensa na época estimaram em torno de 40 a 50 mil - convenhamos, um número já espetacular, equivalente a aproximadamente um terço dos 146.043 presentes no Estádio Mario Filho. Por algum motivo, relatos posteriores quiseram aumentar o número - como se isto fosse necessário, como se o feito já não fosse extraordinário! Já li textos falando em 70, 80 e até 100 mil corintianos. Tenho a impressão de que o número aumenta conforme o tempo passa. Chegará então o dia em que constataremos, perplexos, que só havia corintianos naquela chuvosa tarde no Maracanã.

Aquela semifinal seria disputada em jogo único, e o Fluminense, por ter a melhor campanha, teve o privilégio de jogar em casa. A equipe tricolor era a melhor do país, uma verdadeira Seleção montada pelo presidente Francisco Horta. Mesmo com o desfalque de Paulo Cézar, o favoritismo na semifinal era muito grande: nem mesmo os viajantes corintianos possuíam real esperança de classificação. No entanto, veio dos céus um ingrediente extra para o clássico: um dilúvio bíblico, que inviabilizou o bom futebol do Fluminense no segundo tempo. "Choveu tanto que os fotógrafos tiveram que improvisar caixas de picolés para protegerem seus equipamentos", escreveu o JB.

Antes da chuva, ainda no primeiro tempo, o Fluminense abrira o placar com Pintinho, completando cruzamento aos 18 minutos. Até ali, a ordem natural das coisas estava sendo preservada, e o Tricolor estava se garantindo na grande final. Porém, quando eram decorridos 29 minutos, o Corinthians achou o gol de empate, numa improvável meia-bicicleta de Russo, em lance de escanteio. Seria apenas uma pedra no caminho do Fluminense, se não fosse o cruel dilúvio.

O Fluminense jogava para vencer: dominava o meio-de-campo e atacava muito mais. O Corinthians queria o empate, queria levar o jogo para a prorrogação e depois os pênaltis. E nisso a chuva ajudou muito: o segundo tempo foi muito prejudicado pelas péssimas condições do gramado encharcado. O campo do Maracanã virou um autêntico lamaçal, e a etapa complementar praticamente não viu futebol.

Também a prorrogação, de meia hora, se arrastou sem maiores emoções. Uma única oportunidade foi criada, no último minuto, pelo Fluminense, mas Doval perdeu o gol. E então fomos para a cruel e derradeira solução: o desempate com os tiros da marca penal.
Neca fez 1 a 0, Rodrigues Neto perdeu (defesa de Tobias). Russo fez 2 a 0, Carlos Alberto Torres perdeu (nova defesa de Tobias). Moisés fez 3 a 0, Doval fez 3 a 1. Zé Maria fez 4 a 1 e classificou o Corinthians. Sobre a disputa, escreveu n'O Globo o mestre Nelson Rodrigues: "Onde o Corinthians teve sorte foi na cobrança dos pênaltis. A partir dos pênaltis, a competição passa a ser um cara e coroa. O Fluminense perdeu três, não, dois pênaltis, e o Corinthians não perdeu nenhum. Eis regulamento de rara estupidez. Tem que se descobrir uma outra solução. A mais simples, e mais certa, é fazer um novo jogo. Imaginem que beleza se os dois partissem para outro jogo".

No domingo seguinte, o Internacional venceu o Corinthians por 2 a 0 no Beira-Rio, e sagrou-se bicampeão brasileiro. Os dois clubes disputaram a Copa Libertadores de 1977: o Corinthians foi eliminado na primeira fase, e o Internacional caiu na semifinal. A Máquina Tricolor, que vencera até o bicampeão europeu Bayern de Munique, deixou a nítida impressão de que poderia ter levantado mais taças. Mas havia uma invasão e um dilúvio em seu caminho...
*Paulo Cézar da Costa Martins Filho é Historiador
Fonte: http://www.jornalheiros.blogspot.com/
Colaboração: Alexandre Magno Barreto Berwanger

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