quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Literatura

"Gaiola Aberta - Tempos de JK e Schmidt"
Às vésperas da indicação do candidato do PSD à presidência da República, Carlos Lacerda declarou na televisão: "Juscelino não será candidato, se for candidato não será eleito, se for eleito não tomará posse, se tomar posse não governará". No dia seguinte, na sede carioca do partido, JK deu a resposta: "Deus poupou-me o sentimento do medo". Foi um delírio. A assistência não parava de aplaudir, de gritar. JK foi candidato, foi eleito, tomou posse, fez o que muitos consideram o maior governo que o Brasil já teve.

Hoje, Autran Dourado lembra com simpatia o episódio em seu livro Gaiola aberta - Tempos de JK e Schmidt. A frase não era de Juscelino, mas dele, que ajudava o poeta Augusto Frederico Schmidt a preparar os discursos do criador de Brasília. Schmidt perguntou a Autran se o homem de Diamantina tinha mesmo toda a coragem "que arrotava" e o romancista afirmou: "tem sim! Pode escrever esta frase aí".

O lançamento de Gaiola aberta é um momento para a História, pois Autran Dourado ganhou de maneira extremada a confiança e a intimidade de Juscelino. Muitas vezes despachava com ele à beira da banheira, o presidente em pleno banho. Há décadas, os amigos insistiam para que Autran escrevesse suas memórias, capazes de remexer em dolorosas feridas e arrepiantes pormenores dos bastidores do Poder. O romancista recusava, dizendo que não guardara documentos e, assim, não poderia provar o que contasse. Mas acabou sendo convencido, com o argumento de que, ao lançar o livro, ele já estaria morto ou velho demais, portanto acima das contestações.

Gaiola aberta é uma preciosidade para os estudiosos do período anterior ao Golpe de 64 e para as pessoas interessadas no Brasil. Porém não é um livro de História. Não cita uma data sequer. Trata-se, antes, da psicologia do homem que mudou os destinos do Brasil. Aquele sorriso otimista que era seu logotipo em nada se confirmava fora dos olhos do público. Na intimidade, Juscelino às vezes amanhecia "com a avó atrás do toco, botando fumaça pelas ventas". Mulherengo, chegava ao requinte de descrever aventuras em um caderninho que, mais tarde, perdeu. As perigosas recordações foram recuperadas ao custo de uma indicação de emprego feito pelo próprio presidente.

Autran mostra que a gênese da ditadura militar de 64 não ocorreu no governo João Goulart, mas no de JK, com várias tentativas de golpe magistralmente desmanchadas pelo criador de Brasília. Na época, as idéias que desembocaram no AI-5 já eram cochichadas pelos generais e por personalidades como Francisco Campos. Autran viaja, também, pela corrupção gerada pelo Poder e pelos que giram em torno dele. Quem quer entender JK não pode perder esta oportunidade. E nem quem quer entender Autran Dourado e as razões que o levaram a escrever maravilhas como A serviço del-Rei e seus demais romances.

O autor
Waldomiro Freitas Autran Dourado nasceu em Patos, Minas Gerais, em 1926 e é um dos mais importantes romancista e contista da literatura do país e um dos escritores mais premiados no Brasil e no ezterior. Filho de um juiz, passou sua infância em Monte Sião e São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas, Aos 17 anos foi para Belo Horizonte, onde cursou direito, enquanto trabalhava como taquígrafo e jornalista. Mudou-se (1954) para o Río de Janeiro, onde foi secretário de imprensa da República (1955-1960) no governo de Juscelino Kubitschek.

Um comentário:

Carlos Ferreira disse...

Waldomiro Freitas Autran Dourado, nasceu em Patos de Minas-MG e morreu no Rio de Janeiro-RJ no dia 30 de setembro de 2012.
Filho de um juiz, passou sua infância em Monte Santos de Minas e São Sebastião do Paraíso. Aos foi para Belo Horizonte,onde cursou direito, enquanto trabalhava como taquígrafo e jornalista. Formou-se em 1949.Mudou-se em 1954 para o Rio de Janeiro. Foi secretário de imprensa da República, de 1958 a 1961, no governo Juscelino Kubitscheck, que lhe rendendeu um livro de memórias: Gaioala aberta, onde aborda seu trabalho no governo de JK.