terça-feira, 31 de agosto de 2010

O pecado que derrubou Washington

José Ilan*

A vida muitas vezes imita a arte. Na cena final do filme “O Advogado do Diabo”, o excepcional Al Pacino, que encarna o próprio satanás, sentencia: “Vanity, my favorite sin”. Em bom português, “vaidade, meu pecado favorito”.

O líder Fluminense tropeçou no Maracanã. Tropeçou na escalação equivocada de Muricy, que botou em campo um Belletti de dar pena. Tropeçou na preguiça do time em todo o primeiro tempo. Tropeçou na fraca atuação de sua zaga, que abandonou Fernando Henrique à própria sorte no segundo gol. Tropeçou no próprio goleiro, que não estava em seus melhores dias. E tropeçou num São Paulo bem armado, corajoso e com Rogério Ceni decisivo. Todos estes tropeços fazem parte do jogo; erros, acertos – e o Flu tem acertado muito – como num dia após o outro.

Mas o tropeço indesculpável e mais decisivo foi no tal pecado diabólico: A vaidade de Washington. Como justificar que tenha cobrado o pênalti (duvidoso) que viria a desperdiçar? Dentre todos os jogadores do Fluminense, Washington era o menos indicado para a cobrança. Há poucas semanas, o atacante passava algumas horas por semana treinando pênaltis…. Com quem mesmo??! Será que Rogério sabe como Deco bate pênaltis?! Sabe como Mariano cobra?! André Luis?! Julio Cesar?! E Rodriguinho?! Conca talvez ele conheça; mas será que conhece metade do que conhece do ex-companheiro Washington??!

Após o jogo, um constrangido Muricy tentou justificar: “Washington e Conca são os batedores que treinam”. E recorreu a um clichê para defender o jogador: “Depois que perde é fácil criticar, queria ver dizer isso antes da cobrança”.

Mas vem cá: Fui só eu que pensei, perplexo, momentos antes da defesa: “Mas logo o Washington vai bater??!”

Será mesmo que ninguém mais percebeu o quanto o artilheiro estava tenso ao cavar exageradamente com o pé a marca penal, ao olhar por longos segundos a bola, ao fazer um trote hesitante e inseguro ao correr para a batida?! Não estava claro o quanto ele se preocupou com o fato do goleiro conhecer seus segredos até de olhos vendados?

Washington pediu pra cobrar porque queria dar uma resposta em campo ao clube que o aproveitou mal – segundo ele. Com seu time prestes a conseguir uma bela e difícil virada, se deixou levar pela vaidade de ser o herói da façanha e ainda por cima mostrar ao pessoal do Morumbi que era melhor do que eles supunham. Em nome disso, ignorou o apelo de Conca – melhor jogador em campo – que pegou a bola primeiro e faria a cobrança. Se o argentino teria convertido, nunca saberemos. Mas numa visão óbvia, tinha menos chances de perder.

Washington, que é bom atacante e entrou bem na ausência de Fred, desta vez se deixou levar pelo pecado da vaidade. Errou. E de certa forma, teve a grandeza de reconhecer. Disse se sentir culpado pelos pontos perdidos.

Não foi o único, mas pelo motivo fútil, foi mesmo o principal.
*José Ilan é jornalista
Fonte: www.globoesporte.com

Nenhum comentário: