quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Jornalista e o diploma

Incentivo à mediocridade: a gente vê por aqui Carolina Zogbi*
Demorei para digerir o assunto, mas agora me manifesto:
A polêmica decisão do STF em acabar com o diploma para o exercício do jornalismo. Reconheço que talento não precisa de faculdade, mas a gente nunca deixa de aprender, e, aprimorar-se é preciso. É preciso assistir aulas, saber a teoria da prática, ouvir conselhos de pessoas que estão no mercado há tempos e fazer contatos. Isso é faculdade.
Muito jornalista de sucesso não tem diploma, ok. Mas ele fez por merecer, aprendeu, mostrou que era capaz de ser um jornalista por merecimento, e sendo uma exceção à regra, juntou-se ao grupo. Outra coisa é chutar o balde, colocar o aprendizado acadêmico na vala comum, como de qualquer outra profissão que não exija conhecimentos específicos. Isso é desrespeitar a classe. Desrespeitar a profissão, e acima de tudo, incentivar o culto à ignorância.
Crescemos ouvindo que só seremos alguém se estudarmos. Fizemos vestibular, ralamos na faculdade, pagamos cadeiras que são caça- níqueis (e algumas são mesmo), mas são quatro anos de preparo, de aprendizado, de estágio. Isso que queremos: reconhecimento por termos lutado por uma profissão.
Quando escolhi o jornalismo eu queria mudar o mundo, mas agora o que acontece é cada vez mais a comercialização de matérias, o jornalismo virou publicidade. Se antes algumas matérias eram ''veladamente'' vendidas, agora está escancarado: todo mundo pode vender notícia. Um exemplo das consequências da decisão é de um colega meu, que mandou uma matéria para um veículo, e teve como resposta mais ou menos essas palavras: a obrigatoriedade do diploma caiu, o jornalista responsável foi demitido e agora só fazemos matérias com contrato comercial. Durma-se com um barulho desses.
Se diploma não é mais obrigatório, quero meu dinheiro de volta e os anos que investi nessa profissão, incluindo os quatro anos que frequentei a faculdade. Se antes uma ovelha conseguia pular a cerca, agora qualquer uma passa, porque a porteira está aberta.
O bom e velho jornalismo morreu, e meus sonhos de ajudar o mundo com uma profissão tão poética morrem um pouquinho a cada dia. Obrigada STJ, obrigada Gilmar Mendes, obrigada a este país que cada vez mais cultua a falta de cultura e estudos. Realmente, cada povo tem o governo que merece. E aos jornalistas acomodados com a decisão, só resta a constatação de que eles realmente não merecem algo que não valorizam. Para esses um conselho: virem presidentes e ajudem a piorar o país. *Carolina Zogbi publica o blog www.carolprimadonna.blogspot.com

2 comentários:

Anônimo disse...

"Se diploma não é mais obrigatório, quero meu dinheiro de volta e os anos que investi nessa profissão, incluindo os quatro anos que frequentei a faculdade. Se antes uma ovelha conseguia pular a cerca, agora qualquer uma passa, porque a porteira está aberta."

Ora, vc investiu na profissão? Não foi no estudo? Então o que vc desejava era reserva de mercado e não aprender.

Bem-feito!

MAM

Unknown disse...

Não é bem assim. "Teoria sem prática é cegueira e prática sem teoria é canseira”. Tenho 40 anos de profissão, venho com larga experiência dos Diários e Emissoras Associados de Assis Chateaubriand e um registro de jornalista profissional no Ministério do Trabalho como Repórter fotográfico. Sou dono de um jornal e me sinto jornalista de fato e de direito. Faço tudo dentro de um jornal, desde fotos, reportagens, artigos, editoriais, texto e arte final (diagramação informatizada) . Não devo ser preterido nessa briga de diploma ou não diploma, embora queira que doravante todo jornalista deva freqüentar faculdade e conseguir seu diploma. Depois das faculdades não mais surgiram grandes nomes da imprensa nacional.