sábado, 27 de junho de 2009

O Jornalista e o diploma

O Supremo agora decide quem pode e quem não pode trabalhar. Decidirá sobre horário de boates?
Hélio Fernandes*
Ministro Gilmar Mendes: “Na democracia é requisito essencial a existencia de uma imprensa livre e independente, mas também responsável”.
Lugar-comum, rotina, inutilidade, perda de tempo. Qualquer cidadão (mesmo não sendo jornalista) pode exigir: “Na democracia é requisito essencial a existencia de uma justiça livre, independente e rapida, mas também responsavel”.
Principalmente no Supremo, mais do que um Tribunal, um dos Três Poderes da Republica. Então por que perder tempo “acabando” com uma Lei de Imprensa que jamais existiu? E mais grave ainda: dias e dias estudando se o cidadão para trabalhar deve ou não deve ser diplomado. E depois de horas e horas de exibição de notavel cultura, não decidem coisa alguma, diretores de empresas é que decidirão.
Essa discussão vem de longe, tem precedentes notaveis nas mais diversas profissões, (excluida a de medico em suas variadas diversificações e mais nada). Mas periodicamente insistem, exigindo DIPLOMA para jornalistas.
Inicialmente, duas colocações.
01- A questão não é de DIPLOMA, que sozinho e vazio, não vale nada.
02- O importante é a convivencia universitaria, o relacionamento com pessoas e livros.
SOU A FAVOR do conhecimento, não ligo a minima para DIPLOMA.
De 1920 a 1925, Irineu Marinho dirigiu “A Noite”, o jornal de maior circulação do Rio-capital, e portanto do Brasil. Chegou a vender mais de 100 mil exemplares diarios, sem assinatura, poucas bancas, população quatro vezes menor. (Era a epoca do “pequeno jornaleiro”, que vendia o jornal pulando de bonde em bonde).
Em 1925, Irineu Marinho saiu de “A Noite” e fundou “O Globo”, só que morreria pouco tempo depois. Tinha na redação de “A Noite” entre 10 e 15 reporteres sem DIPLOMA, completamente analfabetos. Mas que intuição, que “faro” para a noticia.
Não sabiam escrever 10 linhas, contavam tudo para 2 ou 3 REDATORES, que transformavam a reportagem FALADA em reportagem que obrigava o leitor a comprar “A Noite” e desligar ou desprezar os outros.
Até o Ministro do Trabalho assumiu a tolice de na classificação profissional, colocar o REDATOR na frente do REPORTER, aberração.
Por que o Premio Pulitzer é exclusivo de REPORTER, não é concedido ao REDATOR? Porque este é um burocrata, certamente com DIPLOMA. A elite do jornalismo é o REPORTER.
Evaristo de Moraes, patrono dos advogados do Brasil, não tinha diploma. Num grande julgamento, absolveu o deputado Gilberto Amado que, em legitima defesa, sem saber usar arma, matara o deputado Anibal Teofilo.
Altamente polemica a questão, “acusaram” Evaristo de não ter diploma, que a lei não exigia. Mesmo assim, aos 48 anos, Evaristo se matriculou na Faculdade de Direito. Constrangimento para os professores, diversão para os alunos. Evaristo sabia mais do que todos. (E ainda deixou dois filhos, mestres do Direito e extraordinarias personalidades).
Defendo e exalto o titulo, mas jornalismo se aprende nas ruas, nas redações, nisso tudo, na paixão pela INFORMAÇÃO e pela OPINIÃO, que se “contrai e se contamina” com o virus do jornalismo. Le Corbisier, o maior arquiteto do seculo XX (estava no Brasil em 1936) não tinha diploma.
Niemeyer, Lucio Costa, os 3 Irmãos MMM Roberto, Paulo Casé, Sergio Bernardes aprenderam “genialidade” no Largo de São Francisco? Conclusão final, absurda, inconstitucional e constrangedora: o Supremo, além de não “decidir” nada, se diminuiu.
O Supremo “criou” jornalistas de primeira e de segunda categoria, com diploma ou sem ele. Perderam tempo, a decisão será de quem contrata, ou seja, dos proprietarios, que não têm diploma, mas VÃO EXIGI-LO.
PS- O Supremo diminuiu sua propria RESPEITABILIDADE, CREDIBILIDADE e AUTORIDADE. Não era orgão de CONSULTA, e sim INTERPRETE da Constituição. Decidindo quem pode e quem não pode trabalhar, os Ministros não ficarão surpreendidos se forem chamados a decidir: o Baixo Gavea tem que fechar às 22 horas ou pode funcionar até alta madrugada?
PS2- Essa é uma decisão (Acordão?) que exigirá dos Ministros o “DIPLOMA” da frequencia. E a duvida que só eles decidirão: terão que “frequentar” de toga? Ou basta a roupagem comum dos cidadãos não-iluminados?
*Hélio Fernandes é Jornalista

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