domingo, 14 de junho de 2009
O incrível mundo secreto dos Sarneys (02)
Marta Bellini*
O padrinho senador Epitáfio Cafeteira
O menino neto e sua mãe secreta foram nomeados por determinação do senador Epitácio Cafeteira Afonso Pereira, 85 anos, (PTB-MA), que é paraibano de João Pessoa, mais milita como político no Maranhão e é o decano do Senado.
Na história recente Cafeteira notabilizou-se como relator do processo movido contra o senador Renan Calheiros, por quebra de decoro parlamentar em 2007, quando corajosamente disse não ter encontrado provas contra o então presidente do senado, e sugeriu sua absolvição. Para esclarecer o caso, o senador Cafeteira deu uma explicação a imprensa que seria facilmente compreendida pelos correligionários maranhenses: Falou em tom coloquial, cochichando, contando em forma de segredo, a trama misteriosa, para dezenas de jornalistas dos principais órgãos de imprensa do país."Eu devia favores ao Fernando (Sarney, o filho do presidente do Senado). Ele me ajudou na campanha. Eu era brigado com o Sarney e ele me ajudou na minha eleição". "Eu sabia que a nomeação do filho podia criar até um problema de família porque o João Fernando não é neto que transita na casa de Sarney". "É filho fora do casamento, e a mulher do Fernando não sabia."
Os jornalistas fingiram não compreender e insinuaram se essa não era uma espécie de pensão alimentícia à custa do senado, Cafeteira irritou-se. "Eu contrato quem eu quero e não sabia que tinha que pedir autorização de vocês da imprensa." Mesmo que ninguém tenha perguntado, Cafeteira fez questão de frisar que o senador Sarney não sabia da nomeação do neto. Sobre o fato de a exoneração ter sido feita por meio de boletim secreto, respondeu que essa pergunta deveria ser feita ao então presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN). Garibaldi disse que nem sabia da existência do boletim.
Cafeteira negou que o jovem fosse funcionário fantasma, apesar de ninguém conhecer João Fernando Sarney no Gabinete 56 da Ala Senador Tancredo Neves, onde ele teria atuado. Perguntaram sobre a contratação da mãe do garoto, o senador irritou-se outra vez: "Eu a convidei. Quem resolve quem trabalha no meu gabinete sou eu."Neste instante glorioso conheceu Fernando José Macieira Sarney (foto) filho de Sarney e dono do conglomerado de emissoras de rádio e TV no Maranhão, Sistema Mirante de Comunicação, afiliada da Rede Globo e dono do Jornal o Estado do Maranhão. Por influencia de sua esposa, Teresa Cristina Murad Sarney, que é da família Dualibi, foi eleito vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, CBF, com mandato assegurado até abril de 2015, quando Ricardo Teixeira pretende se aposentar, e passar para ele o bastão milionário do futebol brasileiro.
Fernando Sarney tem tanto dinheiro que o ministério O Ministério Público Federal, no Maranhão o acusa de evasão de divisas e pediu sua prisão preventiva, acrescentando ainda acusações de crimes contra o sistema financeiro, contra a administração pública, falsidade ideológica, fraude em licitação, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Consta ainda do seu rico currículo a acusação nunca comprovada de ter recebido uma propina de 53 milhões de reais na privatização da estatal de energia elétrica do Maranhão, a CEMAR. Está solto, respondendo em liberdade o processo, que corre em segredo de justiça, graças a um salvo conduto que conseguiu no Superior Tribunal de Justiça.
O jovem neto João Fernando Michels Gonçalves Sarney, que já tem no currículo o fato de ter sido assessor parlamentar fantasma, aos 22 anos, é um símbolo de integração regional, o avô paterno é senador pelo Amapá, embora seja maranhense como seu pai e a mãe, que é brasiliense, consagrou-se como miss Acre. Como se vê uma história real com ares de ficção fantástica, típica da literatura latina americana, com locações nos mofados corredores subterrâneos do Senado Federal Brasileiro, por onde circulam figuras fugidias, dessa e de outras histórias mal assombradas. Lobistas, concubinas, filhos ilegítimos, corruptos e corruptores, netos e amantes, convivem promiscuamente nesse espaço secreto, sob as nossas expensas. Ninguém vai ser punido, nenhum dinheiro vai retornar aos cofres públicos, pois, por mais estranho que possa parecer, tudo está dentro da lei, embora deslize pelos atalhos da falta de ética, da falta de decoro e de vergonha, coisas absolutamente fora de moda, por aquelas bandas. Entrou pela perna do pinto, saiu pela perna do pato...
*Marta Bellini é Professora Universitária em Maringá-PR
Fonte: http://blogdamartabellini.blogspot.com/
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