BAIXANDO O PAU

Marcus Aranha* Não que os velhos ao tornarem-se inativos, "apausentados", façam uma pausa duradoura numa vida inteira de trabalho. Não! É que no Brasil o "pau" costuma cantar nas costas dos aposentados. É no mês de março que, anualmente, o governo sempre toma decisões para infernizar a vida dos pobres dos inativos. Vejam só que o aumento dado para o salário mínimo dos trabalhadores foi em torno de 12%. Aos aposentados o governo concedeu cinco e um pouquinho. As autoridades devem pensar que aposentado é pra ficar em casa mesmo, a semana inteira de sandálias havaianas, com a mesma bermuda e a mesma camiseta de malha. E aos domingos não vai ao cinema; é obrigado a se contentar com Gugu ou Faustão. Praia com cervejinha, nem pensar. Cinema, teatro, show’s e outras diversões, não fazem parte da vida de aposentado. Assim sendo, aposentado, como inativo que é, não tem pra que querer aumento igual ao trabalhador ativo. Dinheiro de aposentado é pra comprar comida e remédio. E tem mais, Viagra não! Esse é remédio de luxo; não é coisa que, mesmo realmente "apausentado", ele tenha direito. Estão dizendo que o Governo vai dar Viagra... Chegou abril e pronto! Lá vem mais "pau" nas costas do aposentado. A partir de primeiro de abril (deve ser para dar a impressão que é mentira) sua santidade o governo autorizou um reajuste de 6% no preço dos remédios. Os aposentados puseram luto pela medida. Pela enésima vez eu digo "Aposentados são a alegria da farmácia". A maioria deles toma quatro ou cinco remédios por dia; cada um mais caro que o outro. Isso se quiser viver um pouco mais. E aí vem o pior: em vez de 6% as farmácias vão aumentar os preços em 10, 20 e até 30 por cento. E fica por isso mesmo... Eu sou aposentado e o ano passado tive provas que remédios que eu tomo, tiveram elevação de preços nesses níveis. Como a gente compra os mesmos remédios o ano inteiro, percebe mais facilmente com eles sofrem aumentos bem maiores dos que os que foram autorizados pelo Governo. Na ordem natural das coisas, eu e outros aposentados, necessitamos cada vez mais de remédios. A máquina cansada, com sessenta e cinco anos ou mais, inexoravelmente, vai apresentando mau funcionamento. E cada setor dela começa a pifar devagarzinho, necessitando de mais uma droga para manter-se ativo. E lá se vai o pobre do aposentado com uma nova receita na mão em direção a farmácia, onde é recebido muito bem, com um alegre sorriso dado pelo balconista. E não tem saída: ou paga com dinheiro, cheque pré-datado ou cartão de crédito. Mas que paga, paga! Este ano, pra "apausentado", além de queda, coice. O aumento do preço dos planos de saúde pode chegar a 11% a partir de primeiro de maio! Isso é o que o Governo vai autorizar. Ora todo mundo já sabe que é impossível demorar a morrer sem ter um plano de saúde. Somente com o SUS, o aposentado apressa o passo em direção ao cemitério. E como adoece mais, precisa fatalmente desses Planos; tanto para consultar aos médicos que podem ajudá-lo a minorar as consequências de suas doenças, como para submeter-se aos procedimentos médicos que, muitas vezes são as únicas medidas possíveis de evitar a morte. Procedimentos que usam materiais caríssimos, como a colocação de um stent numa coronária. A família do aposentado chega a se cotizar para que o coitado não embarque pra o beleléu antes do ajustado com a Natureza. Vejam, pois o que vão fazer que vão fazer com os inativos. Sobem os preços dos remédios, sobem os preços dos planos de saúde e baixam o pau nas costas dos aposentados. *Marcus Aranha é Médico e Escritor Fonte: Correio da Paraíba