Laerte Braga*
Marcelo Silva, ex-policial militar e ex-marido da atriz Susana Vieira foi encontrado morto na manhã desta quinta-feira, dentro de seu carro na garagem do Hotel Transamérica Flat, onde morava com sua namorada a estudante Fernanda Cunha.
Marcelo Silva foi uma das mercadorias de consumo rápido da “sociedade do espetáculo”. E “o espetáculo não deseja chegar a nada que não seja ele mesmo” (Guy Débort, “A Sociedade do Espetáculo – Contraponto, 1997). E do mesmo autor, “o espetáculo é a principal produção da sociedade atual”. Passados os festejos de fim de ano, o carnaval, vai recomeçar a era Big Brother, e em seguida a expectativa de novos espetáculos no curso do ano, de qualquer ano, na transformação do ser em testemunha passiva e manipulada dessa exibição permanente. Neste momento quem leva a pior é a mãe de Marcelo Silva.
A atriz Susana Vieira, ex-mulher de Marcelo, não vai mais pagar o aluguel do flat onde a senhora em questão mora, ou não está pagando desde a separação tumultuada e noticiada em um fantástico show da vida global. Errado? Nada disso é que a mercadoria comprada o foi de “porteira fechada” e até ser dispensada. Dentro de um mês ninguém mais vai lembrar-se do objeto descartável Marcelo Silva. Somos bilhões em todo o mundo que tentam transformar em “marcelos silva”.
Ana Maria Braga, objeto posto todas as manhãs no vídeo para ensinar a ser submisso e cozinhar dentro de padrões de um “chef”, já havia rotulado Marcelo Silva de “vagabundo” e que deveria “desaparecer da face da terra”. Marcelo não soube ou não quis, ou não teve condições de manter-se enquadrado na tribo. Por detrás de tudo isso o poderoso mundo de néon e luzes diversas que ornam a ordem econômica senhora absoluta de tudo e todos. Não importa o tamanho. Bola de sinuca numa arapuca do Pastinha ou Marcelo Silva numa dimensão maior, “uma evidente degradação do ser para o ter”. “Toda a realidade individual tornou-se social, diretamente dependente da força social, moldada por ela. Só lhe é permitido aparecer naquilo que ela não é”. Débort sempre. Parecer e não ser.
Há os que não percebem e se prostram como que dormindo eternamente nas mesas divididas com os algozes. São como a Bela Adormecida. O grande problema é que não existem príncipes com beijos mágicos. Acordam por si e estremunhados quando já guardados em pastas bolorentas nos almoxarifados dos hotéis suntuosos, sedes de imprestáveis, dos descartados.
É difícil entender as razões que levaram o ministro Marco Aurélio Melo a solicitar vistas de um processo em que a maioria dos juízes/ministros emitiu voto. Marco Aurélio é aquele vizinho de Salvatore Cacciola e quem concedeu o habeas corpus que permitiu ao banqueiro, ora preso, ficar foragido do País por longo período. Cacciola é aquele banqueiro que era sócio do governo FHC e costumava passar os fins de semana em Mônaco, nababescamente.
A decisão, mesmo que impostaS algumas condições, de manter o decreto do governo demarcando de forma contínua a reserva indígena Raposa, Serra do Sol, enterra de vez – exceto se alguma manobra existir por trás do pedido de Marco Aurélio – a pretensão de latifundiários escondidos no falso nacionalismo (com sede em Washington) de abrir espaços às grandes empresas que atuam na Amazônia, inclusive no campo da agricultura.
Uma das características do latifúndio, de banqueiros e grandes empresários é usar o termo “progresso”, ou “empregos”, como sinônimos de Brasil grande. E ainda levam generais para falar na FIESP/DASLU, ou sob patrocínio da FIESP/DASLU, sistema que emprega tucanos e DEMocratas em governos, assembléias, Congresso Nacional, Judiciário, etc.
A GENERAL MOTORS divulgou nos EUA um “pedido de desculpas” pelos erros cometidos ao longo desses anos e que colocou a empresa, a maior ou uma das maiores do mundo, em situação pré-falimentar. No Brasil, regada a forte “contribuição” da publicidade dos produtos CHEVROLET, a mídia atenuou as declarações dos executivos da empresa. Colocou-os na condição de cidadãos arrependidos, responsáveis, íntegros e prontos a reparar eventuais erros.
No corpo da nota não existe um pedido de desculpas como quis o JORNAL NACIONAL. Houve a admissão de crimes cometidos em atos irresponsáveis e que levaram a empresa a situação que vive hoje. E mesmo assim, se colocam na condição de cidadãos dispostos a reparar os “prejuízos”, na busca do dinheiro público para sustentar-se-lhes a farsa capitalista.
Nem são íntegros, nem estão arrependidos e nem estão prontos a beneficiar ninguém que não seja a eles próprios e ao modelo. Hollywood é pródiga em filmes onde o tempo é roubado e transferido a espaços diferentes, ou vice versa, ainda versa vice. Faz parte do espetáculo. “O tempo da sobrevivência moderna deve, no espetáculo, tanto mais vangloriar-se, quanto menor for o seu valor de uso. A realidade do tempo foi substituída pela publicidade do tempo”. O mesmo Débort, Ana Maria Braga não é diferente como objeto/mercadoria de Marcelo Silva. Só chegou a um patamar maior. Ganha uma data de validade maior nas academias e bisturis do modelo.
Uma das manchetes da mídia na quinta-feira dia que Marcelo Silva sumiu no pó:“Nicole Kidman, acostumada a ficar sob os holofotes, devia saber que branco e luz não combinam. Na première do filme "Austrália" em Londres, a atriz ignorou a regrinha e foi com um vestido gelo que valorizava seu corpo longelíneo. Contudo, sob a iluminação das câmeras e dos flashes, o modelito se tornou um mico. Ficou transparente e revelou o sutiã e a tanguinha em forma de "T" usados pela loira”. A enquete do dia é saber do distinto público que tipo de castigo a vilã da novela das oito deve sofrer.
Você pode votar e seu voto será levado em conta pelo autor da trama. A mocinha, a do bem, já decidiu vender suas terras para um plantador de eucalipto em nome do “reflorestamento”, logo do progresso.De um sábio espectador ao sair de uma sala de projeção na década de 60 após ter assistido ao filme “2001, uma Odisséia no Espaço”. “Levante a cabeça, faça um ar de intelectual para que pensem que você entendeu alguma coisa, embora ninguém tenha entendido nada, ou se recusado a de fato entender no medo do tempo real”.Profecia do “tempo espetacular?”Não. Só a genial capacidade de Stanley Kubrick em perceber e mostrar a dimensão exata do tempo e do ser. Na dor, ou no amor.
Marcelo Silva vai ser só cova rasa nesse tempo. Foi uma das bilhões de mercadorias humanas em todo o mundo do espetáculo. Durou pouco tempo em cena, não chegou aos píncaros da glória. Mas superou Pastinha. Conseguiu mais que um pão de nozes e quinhentos reais para ajudar no “torneio”. “Já foi lançada uma estrela/pra quem quiser alcançar...” Tem a forma CFT e se materializa aos olhos dos mortais comuns quando em momentos de intenso amor.
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