quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O FIM DA TRIBUNA DA IMPRENSA

Roberto Porto* Assim como aconteceu com o Diário de Notícias, Diário Carioca, O Jornal, Diário da Noite, A Noite, Correio da Manhã e A Vanguarda – se é que não estou esquecendo mais de um periódico – a combativa Tribuna da Imprensa, da Rua do Lavradio, no Centro do Rio, encerrou a carreira (só está on line no momento). Sei que muitos de seus inimigos mortais estão vibrando. Sei, também, que seus funcionários entraram em férias coletivas e depois serão demitidos. Eu, porém, lamento. E lamento muitíssimo. Trabalhei dois longos períodos na Tribuna e lá só fiz amigos – exceção feita a Valdir Figueiredo, que morreu sem me explicar a razão de deixar de falar comigo de uma hora para outra. Trabalhei com Hélio Fernandes, homem tido e havido como de temperamento difícil e irritadiço e jamais, em tempo algum, tivemos um único, escasso e reles desentendimento. De Hélio Fernandes Filho – que quase sempre esteve à frente do jornal – digo a mesmíssima coisa. Fui editor de esportes, por indicação de Argemiro Ferreira, e, depois, editor-chefe, deixando o esporte a cargo do amigo Roberto Assaf. Contratei muita gente, tive o prazer imenso de chefiar o falecido Arthur Parahyba Dias, e contornei na base da amizade, uma ou duas crises internas. Fui amigo dos fotógrafos, diagramadores, arquivistas, secretárias, telefonistas porteiros e contínuos, sempre prontos a me atender com presteza. Não chorei o fechamento do Correio da Manhã, que foi revivido às custas de empresários na época dos anos de chumbo – cheguei a parar no Dops uma vez sem ter nada a ver com o peixe, porque era apenas e tão somente redator da editoria de esportes. Mas já sonhei – ou tive um pesadelo – com o fechamento da Tribuna , misturando personagens e com uma angústia inacreditável. Diariamente, enquanto exerci o cargo de editor-chefe, conversava longamente por telefone com Hélio Fernandes. Ele gostava de saber a manchete que eu havia escolhido. E nossa conversa se prolongava quase que por horas a fio, pois Hélio, rigorosamente, sabia de tudo. De tanto ler suas colunas, acabei influenciado por ele em muitas das frases que utilizo aqui no Direto da Redação. Aconteceu o mesmo quando, por incrível que pareça, chefiei Nélson Rodrigues (1912-1980) na editoria de esportes de O Globo. Os dois, Hélio e Nélson, digo isso sem qualquer sombra de vergonha, me influenciaram na maneira de escrever. Pelo contrário. Tenho orgulho disso. Certa vez estava em São Paulo – já não me recordo a razão – quando Hélio Fernandes me telefonou dizendo que estava se demitindo do jornal. Retruquei na hora. “Se você está se demitindo, eu também me demito e volto para o Rio amanhã...” Hélio foi curto e grosso: “Você não pode se demitir...” e Simplesmente encerrei a conversa: “Nem você...” E tudo continuou como dantes no quartel de abrantes. Pela Tribuna, acreditem ou não, fiz duas viagens à Europa. A primeira, para cobrir o sorteio da Copa do Mundo de 1990, em Roma. A segunda, para escrever um caderno especial sobre o fim da II Guerra Mundial, percorrendo a Alemanha de fio a pavio.Sei que vou provocar polêmica ou polêmicas. Mas a Tribuna da Imprensa, acreditem Hélio Fernandes e Hélio Fernandes Filho, viverá para sempre em meu coração. E detalhe: o jornal nunca me deveu um único tostão. Nota do Editor: A coluna já estava publicada, quando recebemos nota oficial do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, com o seguinte teor: A edição impressa da Tribuna da Imprensa volta às ruas amanhã, pela primeira vez, desde que teve sua circulação suspensa no último dia 2. O jornalista Helio Fernandes disse que a partir de agora, temporariamente, a Tribuna terá distribuição semanal, sempre na quinta ou na sexta-feira. "O jornal não pode morrer", destacou. *Roberto Porto é Jornalista

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