quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Minas ainda há

Vou para Minas, mas cadê Minas? Disseram que se desfez, disseram que agora é mar. Mas, ué, lá não tem praia, lá tem boi, lá tem vaca, lá tem o verde que dá café. Posso sentir o cheiro. E sentir é saber. Que algo existe, sim, existe! Sinto e... Por isso, ainda há!De onde vem o leite que tomo de manhã? Não me enganem! “Ah, foi feito em laboratório...” Nada disso! E aquela vaquinha branca que vi sestrosa pelo mato? Minhas retinas não me iludem e se for ilusão, que mal há? Tenho certeza, Minas ainda há!De onde vem aquele pozinho pretinho com um cheiro irrepetível? “Shiii, hoje em dia isso se fabrica, moça!” Pela janela do carro observo, de um lado e de outro, cafezais em flor, lá no meio deles, do coração de uma casinha simples pareço ouvir: “Cheirinho de café quente, já colheu o resto?” Por lá não passou Mr. Ford, por lá Minas ainda há.Vou para Minas, sei que ela está lá! Sei porque sinto. Ando nas ruas de minha querida metrópole, olho para uma rosa, sinto seu aroma e sei. Tiro o calçado na minha varanda, piso numa nesga de terra e sei. Até ao acariciar meus cachorros olho profundamente seus olhares indecifráveis e entendo que Minas sempre haverá. Basta se querer que ela exista.Queijo com goiabada, cheiro de terra molhada, palmas na calçada: “Ô, de casa!” Cheguei em Minas. Uma rede, um quintal: “Ah, que bela amendoeira!” Será dali que saem aquelas amêndoas parrudas de Natal? Sabia que Minas ainda havia.Como passar um Natal sem Minas? Um Natal sem o interior, qualquer interior. Noel vem de uma cidade sonho? Vem da minha Minas. Todo real foi sonho antes.Carrinho de rolimã desce, sobe ladeira. Era o brinquedo preferido do menino magrinho, irmão de mais 16, na sua longínqua Minas. Hoje, bem-sucedido empresário, no Rio de Janeiro que adotou, ele garante: “Minas não sai de lá.”É por isso que eu vou para lá. Na minha viagem, talvez não ouça nenhum “uai”. Quem sabe não encontro algum capixaba, ou paulista talvez... Que interior rico tem São Paulo, que interior rico tem o Brasil. E pelo mundo afora já imaginaram quantos recantos não são, por assim dizer, mineiros? “Para que pressa, meu senhor, a gente já chega, é logo ali...”E o senhorzinho, então, vai indo, vai indo, até que avista Minas. Ela estava dentro dele.

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