sábado, 19 de julho de 2008

Operação Pasárgada

Bejani recebia R$ 1,2 mi mensal de propina, aponta PF 
ENVIADO ESPECIAL
Belo Horizonte - Quando o delegado Mário Veloso revelou, na última terça-feira, que a situação de Juiz de Fora era muito grave, ele se referia a um esquema generalizado de corrupção que rendia ao ex-prefeito Alberto Bejani (PTB) R$ 1,2 milhão mensal referente a pagamento de propina. O terceiro relatório parcial do inquérito da Operação Pasárgada, previsto para ser concluído na próxima semana, vai trazer todos os indícios de fraudes em contratos celebrados por várias empresas com a PJF. Como o material é farto e ainda não foi todo analisado pelos investigadores, apenas parte dos recursos repassados ao ex-prefeito em troca de vantagens já foi comprovada. Além da Polícia Federal, a CGU e os ministérios Público Estadual e Federal estão trabalhando na perícia dos documentos. O delegado espera que até o fim do ano o inquérito seja concluído. No entanto, como os relatórios parciais estão sendo entregues ao TRF, os envolvidos até agora já podem ser denunciados pela Procuradoria Geral da República.
Pouco mais de três meses após ser deflagrada a Operação Pasárgada, o que ainda causa certo espanto à PF é o esquema montado e encabeçado pelo Grupo SIM. De acordo com os investigadores, o lobista Paulo Sobrinho de Sá Cruz, apontado por certo tempo como líder da quadrilha, figura, na verdade, um escalão abaixo de Sinval Drumond, diretor do Grupo SIM. Nesse contexto, Juiz de Fora ganha destaque por ser considerada pelos próprios envolvidos com a “menina dos olhos”. Os valores repassados à empresa pela PJF - R$ 12,6 milhões - aparecem com freqüência nos depoimentos e nas escutas telefônicas. Apenas esse contrato, conforme a PF, levava todos mês para o bolso de Bejani R$ 100 mil. Fora isso, o Grupo SIM era acionado pelo ex-prefeito repetidas vezes para solucionar problemas financeiros de aliados e amigos.
Como não bastasse o envolvimento com a PJF, Grupo SIM já se preparava para abocanhar um contrato com a Câmara de Juiz de Fora no valor de R$ 700 mil por ano. A PF não tem mais dúvidas de que o negócio só não foi concluído por conta da deflagração da Operação Pasárgada no dia 9 de abril. Seria esse entendimento prévio com a turma de Sinval Drumond o principal motivo de o presidente licenciado da Casa, Vicente de Paula Oliveira (Vicentão, PTB) ter sido indiciado por formação de quadrilha e corrupção ativa. Ele, no entanto, nega tal intenção de acordo. Em sua defesa, o presidente licenciado confirmou que chegou a ouvir a proposta do Grupo SIM, mas a Procuradoria da Câmara teria se posicionado de forma contrária. De acordo com alguns vereadores, o contrato só não foi celebrado por conta de deficiência de saldo nas contas da Casa. Outro agravante seria o fato de que o mesmo serviço oferecido pelo Grupo SIM ser prestado por outra empresa que cobrava R$ 22 mil por ano.
A discrepância nos valores da equipe de Sinval Drumond em relação a outros prestadores de serviços da mesma natureza é tamanha que os investigadores não entendem ou consideram no mínimo estranho que o Ministério Público de Minas e o TCE nada tenham feito nos últimos anos para conter os desmandos. Mesmo agora, após as revelações, e ainda com a prisão de Sinval e Aquino, nenhuma providência foi tomada. O caso de Juiz de Fora é considerado emblemático. Após a CPI da Câmara confirmar, com base no inquérito da Operação Pasárgada, os danos causados ao município pelo esquema, a empresa ainda permanece prestando serviços normalmente para a PJF. O prefeito José Eduardo Araújo justifica a manutenção do contrato pela dificuldade de encontrar outro sistema para manter a máquina. O contrato da PJF com o Grupo SIM termina em novembro.

Leon Gilson depõe na PF, e Nininha Soares será ouvida na 2ª
Já no início da tarde, o ex-procurador da PJF, Leon Gilson Alvim, também prestou depoimento, mas na condição de testemunha. Ele conversou com o delegado por cerca de duas horas. Na saída, informou apenas que havia colaborado com as investigações. Na segunda-feira, será a vez da ex-secretária de Saúde e Governo, Maria Aparecida (Nininha) Soares ser interrogada. O depoimento estava previsto para a última quinta-feira, mas ela acabou não comparecendo, alegando não ter tomado conhecimento da intimação. Ontem, o delegado confirmou a nova data para ouvir Nininha.
A ex-secretária deverá ser a última pessoa de Juiz de Fora a ser ouvida antes do término do terceiro relatório parcial. Nessa fase das investigações, serão apresentadas as investigações feitas até o momento a respeito do Grupo SIM - Instituto de Gestão Fiscal, o TCE e a PJF. O delegado não informou quantos envolvidos serão indiciados, bem como o valor movimentado. De acordo com a Polícia Federal, os investigados nessa parte do inquérito interagem num esquema de favorecimentos em troca de pagamento de propina. Com base em provas testemunhais, documentais e digitais, o relatório mostra o desinteresse do TCE de julgar ações contrárias ao Grupo SIM no que diz respeito à sua contratação com dispensa de processo licitatório. No caso de Juiz de Fora, os investigadores citam uma denúncia protocolada no tribunal pelo vereador Bruno Siqueira (PMDB) em maio de 2007, onde ele questiona o contrato milionário da Gestão Bejani com a empresa de Sinval Drumond. Passado um ano, a denúncia não teve nenhuma movimentação no TCE.

Cúpula do TCE é indiciada por corrupção e quadrilha
Depois de muitas idas e vindas, o delegado Mário Veloso finalmente conseguiu, na manhã de ontem, interrogar os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Elmo Braz, Wanderley Ávila e Antônio Carlos Andrada. Os três, no entanto, recorreram à prerrogativa de só se pronunciarem em juízo. A atitude não impediu que todos fossem indiciados por formação de quadrilha, corrupção passiva e prevaricação.
Ontem, após ser interrogado, Antônio Carlos Andrada, que é corregedor do Tribunal de Contas do Estado, falou com a imprensa. Ele criticou o indiciamento por não saber os motivos que levaram o delegado a tomar tal decisão.
Para o conselheiro, a forma como o processo foi conduzido lembra a ação dos nazistas na Alemanha de Hitler. “Estou sendo indiciado sem saber sobre os motivos. Isso não é próprio do regime democrático. Permanecemos calados no depoimento como forma de protesto”, criticou Andrada.
Morosidade
Em relação à morosidade para avaliar a denúncia relacionada a Juiz de Fora, ele recorreu à falta de estrutura do órgão para fazer diligências, que acabam sendo feitas por cartas. Quanto à suposta liberação de certidões negativas para prefeituras ligadas ao Grupo SIM - Instituo de Gestão Fiscal, Antônio Carlos Andrada argumentou que até hoje não apareceu nenhum documento forjado e que o sistema do Tribunal de Contas de Minas para emissão desse tipo de documento é eficiente. Fonte: Tribuna de Minas

Dá nojo, causa náuseas, sensação de impotência, culpa por praticar a honestidade.
Tem culpados? 
- Tem sim, o eleitor, que num ato de irresponsabilidade, apostou "no quanto pior, melhor". 
Politiqueiros carreiristas que patrocinaram o caos, ou arregaçando as mangas ou se omitindo, para que após quatro anos, voltassem como "os salvadores da pátria". 
Parte da imprensa que de olho na verba publicitária da prefeitura e nos cargos de altos salários para parentes e apadrinhados, se omitiu, legislando em causa própria. 
A igreja e as autoridades públicas também contribuíram com o silêncio.
Só nos restam, às pessoas de bem, os muros das lamentações e a certeza de que Juiz de Fora viveu quatro anos de retrocesso.
Lamentável! Profundamente lamentável!

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