domingo, 13 de julho de 2008

O Jornalista e o diploma

Jornalista com Diploma ou Apoplético com Diploma? Heitor Reis* Mês passado, durante a posse da atual diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG, o presidente da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas, Sérgio Murillo de Andrade, disse algo assim: Quem briga por diploma é a indústria gráfica! Nós queremos jornalistas de qualidade. Esta manifestação me parece com o tom um pouco diferente do que já vinha sendo dito anteriormente. Ela nos aponta para o fato de que o buraco é mais em cima, ainda que a entidade de classe continue com um discurso ainda muito próximo ao de sempre... Venho abordando este assunto desde quando surgiu o debate não democrático, maniqueísta e simplista, sobre o Conselho Federal de Jornalismo (CFP), limitado a uma minoria dos envolvidos, com divisões dentro da própria categoria sobre o assunto, enfraquecendo-a diante do quase onipotente poder dos patrões, alguns dos motivos de seu fracasso até o momento. A sentença do STF sobre o diploma pode ter o mesmo resultado, também pelos mesmos motivos. A polêmica existente é sinal de que todos os argumentos sobre o assunto não foram devidamente digeridos pela partes envolvidas. E isto é desesperadamente ruim para todos, em qualquer assunto, como no aborto, por exemplo. Por outro lado, no caso específico do diploma, qualquer que for o resultado do STF, nada vai mudar no que realmente interessa, tanto para os jornalistas, quanto para o público que recebe as informações por eles tratadas, sob a mão-de-ferro dos capitalistas do setor. Estes estão a serviço dos grandes anunciantes, inclusive do governo, que administra um Estado privatizado por interesses de uma minoria. Uma República de direito, mas uma Reparticular de fato; uma democracia de direito, astronomicamente distante de ser uma democracia de fato. Mais detalhes em: Análise dos Tipos de Poder: www.bempublico.com.br/novo.php?acao=mostrar_artigo&idArtigo=2318 Trabalhar na Globo é crime: www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=453TVQ004 Rádios "piratas": o que a Band esconde? www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=472IPB001 Em MG, Aécio Neves exerce a mais cruel ditadura da mídia, onde não é veiculada uma única palavra contra seu governo, perseguindo qualquer comunicador que saia da linha. O PT se tornou cúmplice deste despotismo, ao buscar aliança com o caudilho do Palácio da Liberdade (?). Mais detalhes no manifesto do Sindicato dos Jornalistas e outros: O Ditador das Gerais: www.midiaindependente.org/pt/red/2006/09/359478.shtml Liberdade, essa palavra: www.youtube.com/watch?v=R4oKrj1R91g "Gagged in Brazil" - Censura na Imprensa: www.youtube.com/watch?v=UqEimwCupsQ Em todo o país um inconstitucional e impune oligopólio da mídia que manipula a informação destinada a um povo composto por ¾ de analfabetos e semianalfabetos. A fração dos analfabetos políticos, nos termos de Bertold Brecht, é ainda maior. A universidade de uma forma geral e a faculdade de comunicação, especificamente, produzem meros autômatos para a engrenagem do lucro empresarial. São profissionais incapazes de pensar por si mesmos e dispostos a vender suas inconsciências para quem lhes pagar mais, caindo na prenstituição, tanto nos EUA, quanto cá: http://www.cbj.g12.br/~borges/base2003/mod_doc.php?id=0160 Há exceções, sem dúvida, quase todos fora do grande sistema comercial, em tonalidades e profundidades variadas, como no caso do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Centro de Mídia Independente (CMI), Ciranda Internacional de Informação Independente, Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social, Adital – Agência de Notícias Frei Tito, Fazendo Média, Observatório da Imprensa, Carta Capital, Carta Maior, etc., com mais alguns outros gatos pingados trabalhando de forma independente na internet, entidades de classe, rádios e televisões comunitárias, porém com público reduzido. Lamentavelmente, ainda está muito distante o dia em que estas exceções se unirão para formar um Sistema Popular de Comunicação, com força suficiente para enfrentar os capitalistas. A cada Fórum Social Mundial, há um novo impulso neste sentido. Ano que vem, a gente se vê em Belém! http://www.forumsocialmundial.org.br/ O I Fórum de Mídia Livre está procurando novos conceitos, tese defendida ali por Ivana Bentes, Diretora da ECO – Escola de Comunicação da UFRJ, mês passado, para meu mais profundo deleite intelectual, político e social, cujo vácuo promovido por este avanço qualitativo abriu caminho para minha exposição, amplificando o tema que encontrou boa guarida entre os presentes. Ali se busca uma definição para o que seja realmente uma mídia livre, já tendo incorporado o mote que nos lembra os velhos gregos com "Mente sã; corpo são!" "Mente livre; mídia livre." Mencionei ali a quase absoluta dificuldade de se encontrar um estudante ou jornalista formado que já tivesse refletido seriamente sobre o Brasil ser uma democracia ou não, o que seria um verdadeiro governo do povo, um governo dos ricos (plutocracia), um governo dos corruptos (cleptocracia), uma ditadura do poder econômica ou uma corporocracia. Os vídeos do evento estão disponíveis em: http://tv.ufrj.br/tjufrj/index.php?vid=vt_jusiqueira_resumao.ram Todos que tem espaço na grande mídia (e muitos dos que não tem também) vivem repetindo que houve uma redemocratização no país, que as instituições da República funcionam plenamente, etc., como um dogma papal, um mantra, gerando uma Matrix, da qual raros conseguem escapar: www.youtube.com/watch?v=1V1yUcVLN3g O verdadeiro jornalismo, o jornalista de fato e a mídia realmente livre divulgam, com a freqüência e ênfases adequadas, idéias, fatos, pessoas e organizações que os poderosos se esforçam para esconder, minimizar ou criminalizar. O resto é assessoria de imprensa, omissão, manipulação, entretenimento ou mero diletantismo filosófico. Sem mudarmos a forma de ensino das escolas de comunicação, nada vai mudar, porque elas continuarão clonando nas mentes de seus comunicadores a mentira, a apoplexia e a padronização que o sistema quer impor a todos,para assegurar o lucro dos donos da mídia e dos donos do Estado! Sem darmos liberdade para que o jornalista exerça verdadeiramente sua profissão, não precisando vender a alma para o patrão, para garantir a boquinha, nada vai mudar! De que adianta um(a) imbecil se prostituindo com sistema, fazendo tudo que o verdadeiro jornalismo condena? Pouca importa se tem um diploma ou não. Se tem ou não o direito de se vender no mercado de mercenários para a comunicação?... O(a) jornalista de fato é um funcionário público para produzir informações de interesse público e como tal deve ser tratado. E não o funcionário particular de uma organização inimiga do povo brasileiro. Não um robot, mero instrumento passivo para reproduzir fielmente os Padrões de Manipulação da Grande Imprensa, enganando o respeitável público. Talvez a estratégia da Fenaj seja conquistar apenas esta insignificante migalha, diante da descomunal força de seus inimigos de classe, da limitada capacidade de organização da categoria e do povo brasileiro. Os donos da mídia jamais permitirão este país ser uma democracia de verdade, aceitando a democratização da comunicação. Quem nos assegura isto é a própria entidade: "Sem democratizar a comunicação, não haverá democracia no Brasil." Os senhores do Estado "oligárquico e autoritário" (Marilena Chauí) somente largarão o osso com muito derramamento de sangue ou com uma ação nos termos de Mahatma Gandhi (não-violência ativa), ambas alternativas extremamente distantes da cultura de nossa república das bananas e dos bananas. O jeito é ir comendo pelas beiradas... *Heitor Reis é engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da CMQV - Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (http://www.cmqv.org/).

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