quinta-feira, 12 de junho de 2008

Operação Pasárgada

CPI Amigo de Bejani recebeu comissão de Grupo SIM Táscia Souza Repórter Amigo pessoal do prefeito Alberto Bejani (PTB) há mais de 15 anos - a quem foi apresentado pelo ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello (PTB) -, o empresário Arlindo Geraldo Nogueira de Carvalho revelou ontem, em depoimento à CPI, que recebeu cerca de R$ 80.000 em dinheiro vivo, em fevereiro de 2007, por ter intermediado o contrato, sem licitação, entre a PJF e o Instituto de Gestão Fiscal - Grupo SIM. Questionado pelos vereadores que investigam as denúncias de desvio de recursos públicos e enriquecimento ilícito contra o chefe do Executivo, o empresário afirmou que gerenciava a atuação do Grupo SIM em Juiz de Fora e que, como comissão, embolsava 5% do valor pago mensalmente à empresa pelo município. “Apresentei o Grupo SIM ao prefeito”, declarou Arlindo. Segundo ele, o Instituto de Gestão Fiscal, cujo contrato com a Prefeitura é de R$ 12,8 milhões, recebe R$ 550 mil por mês, dos quais R$ 27.500 lhe eram repassados. Contudo, a quantia acumulada de novembro de 2006, quando a firma foi contratada pela PJF, a janeiro de 2007 foi paga a Arlindo em uma única parcela, quitada em fevereiro do ano passado, pelo empresário Sinval Drummond Andrade, sócio do SIM, preso durante a Operação Pasárgada. “Quando o Grupo SIM foi contratado, em novembro de 2006, a Prefeitura estava com problemas de caixa”, explicou a testemunha. “Então, só recebi a primeira parcela em fevereiro, no valor de oitenta e poucos mil, referentes a três meses: novembro, dezembro e janeiro. O Sinval me pagou em espécie.” Diante das declarações, os membros da CPI afirmaram que vão apurar a fundo como são feitos os pagamentos entre a PJF e o Grupo SIM. “Causa muita estranheza que uma empresa do porte do SIM realize este tipo de pagamento, em espécie e sem nota”, considerou o presidente da comissão, vereador Isauro Calais (PMN). “Entendemos que uma empresa séria deve pagar com documentos bancários.” A assessoria do Grupo SIM confirmou o pagamento feito a Arlindo Carvalho em fevereiro e alegou que está tudo registrado na contabilidade da firma. No entanto, a assessoria não soube dizer de que forma a quantia foi repassada ao empresário. Além disso, segundo informações do SIM, a empresa manteve uma “relação comercial” com Arlindo no final de 2006, quando ele ainda morava em Belo Horizonte, e o valor teria sido pago a ele no final desse contrato, no início de 2007. Já o amigo de Bejani afirmou que seu contrato com a firma só foi rescindido em novembro do ano passado, quando seus serviços foram dispensados, com a justificativa de que ele estaria “ganhando muito”. “Não pertenço mais ao Grupo SIM e estou, inclusive, movendo uma ação trabalhista contra eles”, destacou o empresário. A CPI não descarta a possibilidade de convocá-lo para prestar outros esclarecimentos. Casa estava no nome de Detoni Além da ligação com o Grupo SIM, Arlindo Carvalho declarou à CPI que a casa onde o prefeito Alberto Bejani morava, no Recanto dos Lagos, pertencia, na verdade, ao ex-secretário de Agricultura, Marcelo Detoni (PSC). “A casa foi adquirida do senhor Marcelo Detoni, e não do prefeito”, explicou. Ele confirmou, porém, que era Bejani quem ocupava a residência quando ele a comprou, em dezembro de 2006. “Quando eu conheci o prefeito, ele morava em uma outra granja. Depois, mudou para onde eu moro, mas não sei se era alugado ou emprestado”, alegou. O empresário afirmou ter pago R$ 100 mil pelo imóvel, em dez parcelas de R$ 10.000. Dois meses depois, ele também adquiriu, desta vez de Bejani, três terrenos no mesmo bairro, por R$ 350 mil. A quantia foi paga em duas parcelas de R$ 100 mil e uma de R$ 150 mil. Todas em dinheiro vivo. A disparidade impressionou o vereador Rodrigo Mattos (PSDB), que questionou o fato de a casa valer menos. “Por que essa diferença? Havia alguma construção nos lotes?”, indagou. Segundo Arlindo, em um deles existia apenas uma pequena casa, enquanto nos outros havia currais e baias para cavalos. Sobre a coincidência entre as datas das compras e a época da contratação do SIM, ele explicou que a empresa foi um dos motivos que o levou a se mudar para Juiz de Fora. “Sou nato de Liberdade e tenho fazendas lá. Aqui ficava estratégico para ir a Liberdade, a Belo Horizonte e gerenciar o contrato do grupo SIM.” Procurado pela Tribuna, Marcelo Detoni não quis dar declarações. Intimado, Carapinha deve ser ouvido hoje A CPI ouve hoje o empresário Francisco José de Carvalho Carapinha (Bolão) e seu caseiro, José Alvarez de Souza, conhecido como Zé Gambá. O caseiro é proprietário do caminhão Volkswagen, placa HFT 1648, apreendido pela Polícia Federal na fazenda do prefeito Alberto Bejani, durante a Operação Pasárgada. Ele chegou a ser convocado a depor na semana passada, mas não foi encontrado pela comissão. Em seu lugar, Bolão Carapinha também foi chamado a prestar esclarecimentos, mas uma liminar, expedida às 4h da manhã do último dia 3, conseguiu livrá-lo de comparecer à Câmara. Ambos foram intimados judicialmente e, se não comparecerem, responderão por crime de desobediência. Ontem, o relator da CPI, vereador Bruno Siqueira (PMDB) solicitou que a transcrição dos depoimentos seja feita no mesmo dia, também para “evitar qualquer manobra de advogados”. Além de patrão de Zé Gambá, Carapinha, que é vizinho de Bejani, também foi procurador na compra da casa onde o prefeito e a primeira-dama, Vanessa Loçasso Bejani, vivem, no Bairro Aeroporto. O negócio foi fechado em janeiro de 2006, por R$ 350 mil, pagos em três parcelas e em dinheiro vivo. Ainda ontem, Bruno fez dois novos requerimentos, aprovados pela CPI. O primeiro diz respeito à veiculação de publicidades de empresas de Juiz de Fora na rádio TOP FM, de Santos Dumont. O segundo é para que a Polícia Federal realize uma perícia para verificar a autenticidade do contrato de compra e venda da Fazenda Liberdade.

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