Na história dos shopping centers, a lenda é que o primeiro, no Brasil, foi o Iguatemi, de São Paulo, na Avenida Faria Lima. Na época, a rua chamava-se Iguatemi, o bairro era o Jardim Europa, na região conhecida hoje como Jardins, que engloba ainda os antigos Jardim América e Jardim Paulistano.
Minha memória ajudou-me a desmistificar a lenda, pois antes da inauguração do Iguatemi, eu atendia, no Rio, às Óticas Fluminense e fui à abertura de uma loja do cliente no Shopping do Méier, que trazia a novidade para o país.
Ao vencer uma concorrência para fazer um livro para a Confederação Nacional do Comércio que, em 1995, comemorou 50 anos de fundação, resolvi ir fundo no assunto, o que consegui com a ajuda do meu irmão Eduardo.
Fui a São Paulo e entrevistei o carioca Vitoldo Zaremba, ex-diretor de empresa aérea e que, nas suas constantes viagens, conheceu aquele modelo de comércio que crescia nos Estados Unidos.
Com a venda da Real, empresa da qual era diretor, sendo membro de uma família dona de excelente terreno no bairro do Méier, aprofundou-se no assunto e partiu para o empreendimento, através da venda de 14 mil cotas, vendidas em 45 dias.
Em 27 de agosto de 1945, na Dias da Cruz, rua principal do bairro, em parte de grande terreno do Colégio Metropolitano, inaugurava-se o Shopping Center do Méier, com um mix bem diversificado e ancorado por nomes de prestígio na época, como Sears, Cássio Muniz e Casa Masson.
Nessa data, o pioneiro Zaremba já vestira, em definitivo, a camisa de empreendedor de shopping centers. Associou-se, em São Paulo, à grande Construtora Alfredo Mathias, cujo titular era, inclusive, arquiteto de prestígio, e dessa união surgiu o Shopping Center Iguatemi.
O shopping Center, com suas 70 lojas e estacionamento para mil carros, em 27 de novembro de 1966 anunciava-se como o primeiro de São Paulo e o maior da América do Sul (essa mania de "maior" é cacoete do mundo de negócios).
Até há pouco, o maior shopping center do mundo estava na China, país de também maior população: South China Mall, em Dongguan (ao norte de Hong Kong). Como a maratona para ser o maior é permanente, não sei se permanece, pois uns três, em países diferentes, já estavam nessa corrida.
Sei que no Brasil os shopping centers substituíram as megalojas de departamentos como a Cassio Muniz, que vendia até aviões, a Mesbla, que também vendia carros, e o Mappin, que começou voltado para a classe A e foi à falência sem distinções de classe, raça ou credo.
O shopping center festejou seus primeiros 40 anos com quase 400 unidades espalhadas pelo país, originou unidades temáticas, criou modelos paralelos como os centros comerciais, onde as lojas são vendidas e são administradas pelo proprietários, surgiram os outlets centers (varejo que reúne fábricas), e inspiraram outros de céu aberto, verdadeiras catedrais de consumo, enfim, o diabo a quatro.
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio's, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e "Confederação Nacional do Comércio - 60 Anos" (CNC); co-autor, com Rafael Guimaraens, de "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos); e um dos autores de "64 Para não esquecer" (Literalis).
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