quinta-feira, 20 de março de 2008

João Guilherme

Entrevista com João Guilherme do Sportv Portal IMPRENSA, por Marina Dias
João Guilherme Miranda sempre sonhou em ser narrador esportivo. Desde pequeno, assistia aos jogos na televisão e improvisava uma narração em casa, com um gravador de rolo de seu pai. Era também o locutor dos jogos de futebol de botão em seu colégio, o que demonstrava que, em sonho ou vocação, João Guilherme tinha mesmo nascido para narrar o movimento dos jogadores. Atualmente, o jornalista trabalha na Rádio Manchete e no SporTV, canal de TV por assinatura, apesar de ter jurado que nunca havia pensado em atuar na televisão. "Rádio sempre foi meu grande sonho como narrador". Em vinte anos de carreira, João Guilherme Miranda tem muitas histórias e curiosidades. Em entrevista exclusiva para o Portal IMPRENSA, o narrador tenta explicar por que é tão difícil atuar em uma área do jornalismo que é pura paixão. Portal IMPRENSA: Como você começou na carreira de jornalista? João Guilherme: Comecei no rádio em 1988, na Rádio Carioca do Rio de Janeiro. Na verdade, eu fazia um curso de locução e o professor me indicou para trabalhar nessa rádio. Comecei por baixo mesmo, como "rádio-escuta", como todo mundo começa. Depois, virei plantonista, repórter e narrador. Comecei no rádio e fui pra televisão. IMPRENSA: Qual é a maior dificuldade da narração esportiva, na sua opinião? João Guilherme: Existem dois lados: a narração de rádio e a da TV. No rádio, a maior dificuldade do narrador é fazer com que a pessoa que esteja ouvindo o jogo em casa entenda e saiba o que está acontecendo - onde está a bola, com quem está a bola, que time está no ataque. Então, quanto mais detalhista for o narrador de rádio, é melhor. Já o narrador de televisão, tem como desafio transformar a TV em um grande bate-papo, ou em uma grande conversa, com informação para que o jogo não caia na monotonia. O cara tem que dosar bem esse lado de conversa com informação, esse é o desafio do narrador de TV. IMPRENSA: E você prefere trabalhar em rádio ou em televisão? João Guilherme: Eu adoro os dois, mas se tivesse que escolher "na dividida", eu ficaria com o rádio. Eu acho o rádio mais legal, mais solto. A gente é o que a gente é no rádio. Podemos extravasar mais nossas emoções e sermos mais livres. A televisão, até pelo veículo, tem a imagem, você segue um roteiro e o narrador é mais um complemento. No rádio, você cria a situação e, por essa liberdade, eu prefiro o rádio. IMPRENSA: O que você acha das críticas que são feitas a alguns narradores, dizendo que eles costumam fazer comentários "inúteis" e sem conteúdo? João Guilherme: Pois é. Eu acho que depois do árbitro de futebol e dos "bandeiras", a pessoa que mais é julgada e criticada é exatamente o locutor, principalmente na televisão, por causa de seu alcance. E por quê? Por que o locutor e o comentarista de TV estão analisando e transmitindo algo que é puramente passional. Futebol é paixão e emoção pura. Então, por exemplo, se eu estou vendo um jogo do meu time e o locutor faz um elogio, eu acho aquele cara excepcional, mas se o cara critica o meu time, eu, provavelmente, vou ficar irritado com o cara. É complicado lidar com um público que é 100% paixão e paixão não combina com razão. IMPRENSA: Você já passou por alguma situação assim? Que foi odiado ou amado por algum torcedor em particular? João Guilherme: Eu fiz a narração da final do mundial de clubes em 2000, Vasco x Corinthians, pelo SporTV, e quando o jogo terminou, um grande amigo meu, corinthiano, me ligou e disse: 'Não agüentei ver o jogo contigo, porque você estava torcendo demais para o Vasco'. Eu pedi desculpa e fique até meio chateado, mas entendi. Passou um tempo e o sogro do meu irmão, que é vascaíno doente, ligou pra mim e disse: 'Eu estava tentando ver o jogo com você, mas não consegui porque você torceu demais pro Corinthians'. Então, a partir daquele dia e comentários, eu passei a me desligar um pouco disso. Acho que a gente tem que entender e tentar ser o mais coerente e sincero possível com a gente mesmo. Não pode distorcer o fato, até porque a imagem é muito clara e diz tudo, e você (narrador) não precisa dizer nada. IMPRENSA: Você já criou algum bordão? João Guilherme: Eu tive a felicidade de criar um bordão, que se tornou conhecido nacionalmente. Quando o cara comete um erro ou faz uma jogada 'bizonha', eu falo assim: "Que desagradável" e isso pegou. Surgiu do nada: fui fazer um jogo e o cara foi fazer um drible, pisou na bola e caiu no chão e aí eu falei: "Que desagradável". As pessoas que estavam comigo riram, gostaram. Passou um tempo, eu estava passeando na praia e vi um grupo jogando bola. Um dos caras deu um chute e a bola foi parar no mar, e a galera toda falou: "Que desagradável", e aí eu vi que o bordão tinha pegado. IMPRENSA: O bordão acaba marcando o narrador? É importante para a sua carreira? João Guilherme: Eu acho que é a marca. O narrador deve ser conhecido, primeiro pela qualidade do trabalho, sendo um bom narrador. Existem narradores que não têm bordão, mas que são bem reconhecidos - como o Luciano Do Vale. Mas acho que o bordão é o carimbo, o cara vai ser pra sempre reconhecido por aquilo. Se fala, "Bem amigos", você já sabe que é o Galvão Bueno (narrador da Rede Globo). Acho que o bordão é fundamental pra marcar a presença do narrador. IMPRENSA: Nas ruas, as pessoas reconhecem a sua voz? João Guilherme: Pelo fato de eu trabalhar na televisão, fica mais fácil. Sempre tem alguma pessoa que reconhece, comenta, vem falar comigo. Muitas pessoas perguntam se me conhecem de algum lugar. Mas sempre tem alguém, porque a força da televisão é muito grande. Já teve casos, também, de quando eu trabalhava no rádio, entrar em um táxi e o motorista reconhecer a minha voz. Mas a TV ajuda muito, a imagem fica marcada. Fonte: Brasil Rádio News

Um comentário:

Unknown disse...

Para mim é o melhor narrador do Brasil atualmente. Tanto ni futebol, quanto no MMA (premiere combate) o João Gilherme sobressai. Aliás, ele tmbém tem bordões no MMA, tais como: "desligou o disjuntor", "é um tsunami" e "vai precisar de um GPS". Talento nato!!!