quarta-feira, 19 de março de 2008

Elis Regina

Márcia Martins* Vou seguindo pela vida Elis Regina Carvalho Costa (foto) completaria 63 anos no dia 17 de março. E, parece loucura. Mas a sua voz perfeita e afinada ainda ecoa forte nos meus ouvidos e na memória dos milhares e milhares de fãs que deixou espalhados no País e no exterior. Inexplicavelmente, Elis continua soltando a voz nas estradas. Ela não consegue parar porque ainda tem muito para falar sobre seu caminho de pedras que não lhe deixa sonhar. Como aconselhava a pimentinha na música “Travessia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, o jeito é ir seguindo pela vida, esquecendo aqueles que não merecem o nosso sofrimento e amando os que nos dão valor e importância. E, claro, sempre querer amar de novo. Mas, se não der, não vou sofrer. Mesmo que eu mande garrafas e mensagens por todo o mar e que novas cantoras apareçam na MPB, o meu coração tropical continuará a procurar nos Cds e vinis que tenho da Elis, as músicas mais tocantes, geralmente relacionadas com algum momento importante de minha vida. Foi assim, quando descobri os festivais de música, ainda menina, e que vi uma Elis agitando os braços e interpretando maravilhosamente bem “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, avisando que nunca havia visto tanto peixe assim. Valha-me Deus, nosso Senhor do Bonfim, desde aquela época, acho que eu tinha uns oito/nove anos (gente, aqui estou falando sério sobre a idade), virei fã da Elis Regina e sempre atenta ao que existia de melhor na MPB. Quando me apaixonei pela primeira vez, aos 16 anos, o meu primeiro namorado era também adorador da Elis Regina e o meu coração, sem eu saber porquê, batia feliz sempre que ele estava perto de mim. Durou pouco o namoro (gêmeos com gêmeos, quanta instabilidade). Não o amor, pelo menos da minha parte. Ainda guardo um bilhete escrito com sua letra na minha carteira de cigarro (sim, eu fumava...tenho alguns pecados) com declarações que ele me fez. E, neste caso, o passado é uma roupa que ainda me serve. Na minha inexperiência de namoro e inconsolada com o rompimento de comum acordo, fantasiei que nunca mais iria me apaixonar e que ele seria o meu único amor e que minha vida acabara naquele instante. Coisa de adolescente. Depois da experiência do primeiro namoro, ao contrário do que minha mente fatalista de adolescente pensava, outros amores passaram pela minha vida, permanecendo mais ou menos tempo, protagonizando capítulos maiores ou menores de minha história. Nos rompimentos, sempre eu escutava até cair, vencida pelo cansaço, a música que considero uma das mais lindas que já ouvi até hoje da MPB e considerada, na minha opinião, o Hino Nacional da Fossa. Atrás da Porta, do Chico Buarque Lindo de Hollanda e Francis Hime, na voz da Elis Regina, me faz chorar. “Juro que não acreditei, eu te estranhei, me debrucei sobre teu corpo e duvidei, e me arrastei e te arranhei e me agarrei nos teus cabelos”, é um trecho eletrizante e que me leva às lágrimas. Como já estava escrito, estava previsto, por todas videntes, pelas cartomantes, nos jogos dos búzios e nas profecias que um dia o Vieira me convidaria para escrever aqui no Coletiva, não é que a minha turma da Famecos, que se reencontrou após vários anos de distância, tinha o apelido de Saudosa Maloca. Para quem não sabe, um sucesso do Adoniram Barbosa (o colega Mário de Almeida explicou a história da música), que ganhou interpretação majestosa da Elis Regina. Pois não é que nas festas da Saudosa Maloca, “dimdondi nós passemo, dias feliz de nossa vida”, eu convivi com outra música inesquecível na voz da pimentinha, conhecida como o “Hino da Anistia”, e que sonhava com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu. E quem imagina que Elis Regina saiu de minha vida, no dia 19 de janeiro, aos 35 anos, data de sua morte, engana-se. O disco “Trem Azul”, de capa preta com Elis agachada no palco, confeccionado após a sua morte, é um dos mais tocados no meu velho aparelho de som que toca vinil (que raridade!). Aliás, a raridade é encontrar a agulha quando quebra. Mas tudo bem! E, sempre que posso e os recursos financeiros permitem compro os Cds da Elis dos discos que tenho em vinil. Ou ganho de amigas mimosas, como a Marcela que me presenteou no Natal com uma trilogia fabulosa. Ah, tomara que o Paulinho Moreira esteja atento para corrigir qualquer erro (ele é um exímio conhecedor de MPB). Como a Gabriela Martins Trezzi é minha super companheira e apreciadora das boas atividades culturais (embora tenha um desvio que não é meu ao gostar de funk), reacendeu a minha paixão de fã pela Elis ao assistir alguns capítulos da mini-série “Queridos Amigos”. A minha adolescente preferida e filha mais linda do planeta (que mania de achar que tudo de bom é meu....mas nesse caso é) encantou-se com uma música que é a abertura do referido programa, uma rara incursão da Rede Globo em algo de qualidade. De Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, a música “Nada será como antes”, tem resistido na boca da noite, um gosto de sol. Qualquer dia a gente se vê! *Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela PUCRS, trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou carreira profissional, na Zero Hora, em assessorias de comunicação social empresariais e públicas e atualmente está no Correio do Povo. Fonte: www.coletiva.net

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