por Roberto Porto*
Comecei no rádio a convite do narrador José Carlos Araújo e o aval de Jorge Guilherme Pontes, ex-chefe da Agência Globo de Notícias. A rigor, na tradicional Rádio Nacional da Praça Mauá, tinha obrigação de pautar os repórteres Deni Menezes e Eraldo Leite nos clássicos de domingo no Maracanã. Mas não era só isso. Participava também do Bate Bola Nacional, comandado por José Cabral, das 11 às 13 horas, e comentava jogos sem grande importância, pois os titulares eram Luiz Mendes e Washington Rodrigues. Até aí tudo bem – ou quase tudo bem – pois que rádio é ao vivo e não há jeito de corrigir um erro de informação ou uma bobagem dita no ar.
No Bate Bola comandado por Cabral, os repórteres eram Valdir Luiz (Botafogo), Zildo Dantas (Flamengo), Jaime Luiz (Fluminense), Agostinho Gomes (América) e Mário Silva (Vasco da Gama). Durante as duas horas do programa, Cabral, do estúdio, chamava um a um os responsáveis pelo noticiário dos clubes e ainda acionava Sídnei Amaral, repórter que fazia plantão nas principais bancas de jornais do Rio, onde podia entrevistar torcedores. A banca do Bira, na Almirante Barroso, era um dos points.
A preocupação da Rádio Nacional, na época, era fazer frente à Rádio Globo, que tinha igualmente um belo time de repórteres, mas o Bate Bola da Nacional ganhava o duelo pois ficava mais tempo no ar. Sentado ao lado de José Cabral, no refrigerado e imenso estúdio da Rádio Nacional, eu comentava as notícias e dava meus palpites quando um clássico do futebol carioca estava se aproximando. Tudo isso de segunda à sexta. Aos sábados e domingos – quase sem folgas – pegava o carro da emissora ou um ônibus e viajava até Bangu, Madureira, Olaria, Bonsucesso e até mesmo Campos dos Goytacazes, Itaperuna, sempre na condição de comentarista. Pedreira...
Certa vez, José Cabral acionou Zildo Dantas na concentração do Flamengo, em São Conrado, e o repórter, disse que não poderia dar notícia alguma pois estava “preso do lado de fora”. Foi preciso que a técnica colocasse um anúncio no ar para que a turma do estúdio – às vezes um repórter também ficava por lá – pudesse dar gargalhadas por causa de um sujeito que estava “preso do lado de fora”.
Mas houve uma tarde em que nem o pessoal da técnica – todos ótimos e experientes profissionais – pôde nos salvar. José Cabral voltou a acionar Zildo Dantas, no Flamengo:
- Alô, Zildo...O que você pode nos contar hoje sobre o Flamengo?
Com a voz rouca, Zildo foi curto e grosso:
- Não posso contar nada...
- E por quê?
– perguntou José Cabral.
E da sede do Flamengo veio a resposta inesperada:
- Porque está chovendo a píncaros por aqui...
Zildo havia trocado cântaros por píncaros e eu não soube mais o que ocorreu porque saí correndo do estúdio para não gargalhar no ar...
*Roberto Porto é Jornalista
Um comentário:
Pois eu sempre pensei que esta expressão fosse mais uma das "criações' de Nelson Rodrigues, como no "5º Ato de Rigoleto"!
Tempos bons que torcíamos pelo rádio!
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