quarta-feira, 12 de março de 2008
Bem-vindo ao mundo real
Márcia Martins
O carro enguiçou quando você retornava ao trabalho no primeiro dia após as férias ? E, pensando bem, você voltou tão cansado das férias - engarrafamentos, areia nos olhos, espaços disputados a tapa para colocar as cadeiras e o guarda-sol na beira da praia - que necessita de um novo repouso ? O salário mensal, pago no início de março, não sobreviveu até a primeira quinzena ? Alguém alterou o seu plano de telefonia móvel e agora lhe resta provar que você não é você ? A lista do material escolar do seu filho é um escândalo e nem ganhando sozinho na Mega Sena você conseguiria comprar tudo à vista ? Putz, o trânsito totalmente trancado nas principais vias de Porto Alegre exatamente naquela hora em que você precisa de fluidez para chegar ao seu ponto?
Fique sossegado. Você é mais um cidadão normal. Assim como eu, "uma pessoa comum, mais um filho de Deus, remando contra a maré". Não está vivendo o seu inferno astral. Não está incorporando um ente do mal. Nem sendo cobrado por aquela pequeninha inveja do mal que você sentiu do seu vizinho, aparentemente sem problemas, quando ele entrou na garagem do prédio exibindo com a naturalidade das pessoas felizes o novo modelo do carro. Não se martirize. Não vista a roupa de vítima. Não é seu tamanho. Carro pifado, cansaço das férias, falta de dinheiro, discussão com os operadores de telemarketing, material escolar em suaves prestações e tranqueira no trânsito ? Bem-vindo ao mundo real. Ou melhor, volte a sua rotina.
Como já ensinava o mestre Tom Jobim "são as águas de março, fechando o verão, e a promessa de vida no seu coração, no rosto um desgosto, é um pouco sozinho, é o projeto da casa, é o corpo na cama....". Portanto, caro leitor, anime-se. Não há nada a reclamar. E, se não houver saída, diminua o muro das lamentações. Porque é preciso, cada dia mais, que o ser humano se habitue a olhar para o lado positivo das situações (te cuida Paulo Coelho!!!).
Ok, você ralou muito nesta vida. Mas é melhor ter um carro, mesmo que ele estrague de vez em quando do que depender do transporte coletivo (me puxei, heim ?). O lado bom é que um dia, no futuro próximo, o seu automóvel enguiçado pode servir de entrada para a compra do carro do ano, como o seu vizinho. Fique ciente que ninguém (tá bom, não devo generalizar) retorna das férias relaxado e descansado. Pense que é salutar curtir as férias, apesar de todos os pesares (tumultos em locais de turismo intenso e gastos extras). Com o descompasso entre oferta de trabalho e pretendentes, sai ganhando tem consegue tirar férias. Sinal de que você permaneceu mais de um ano no mesmo emprego. E um dia, quem sabe, o salário será maior que o mês!
Nas águas de março, "tem chuva chovendo, conversa ribeira, o fim do caminho", e uma vontade renovada de ficar em casa acarinhada ao primeiro friozinho que aparece, em boa companhia, é claro. Um desejo explícito de rever os amigos que voltaram de férias e marcar encontros para os próximos meses. Uma aposta secreta de que o dinheiro suado gasto no material escolar do seu filho será recompensado com o bom desempenho no colégio (ótimas notas e pouca conversa, entendeu a indireta querida Gabriela Martins Trezzi ?). Uma esperança de que as operadoras de telefone fixo e móvel, finalmente, respeitem o consumidor.
Juro por todos os santos, pelo sangue de Jesus, Santo Antônio que eu adoro, por Oxum, Oxalá, Buda e Kardec (eu devo ter esquecido algum representante religioso....) que não estou maluca!!! Não bebi a esta hora da tarde (aliás, quem me conhece sabe que não posso beber), não tomei nenhum estimulante e nem cheirei ou fumei nada (e não estou fazendo apologia das drogas). Somente descobri que sou feliz. Nem que seja por momentos. E isso ninguém me tira. Sou feliz quando sei que posso contar com meus amigos fiéis, quando imagino que minha saúde esteja equilibrada, quando vejo meus afilhados Rafael e Camila superando, aos trancos, as dificuldades, quando meu pai vem me visitar e tanta gente no meu novo lar. Doses de felicidade
http://www.coletiva.net/
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