terça-feira, 14 de dezembro de 2021

A inacreditável venda do Tupynambás

por Matheus Brum*
Na edição de hoje da coluna do César Romero, na Tribuna de Minas, há a informação de que foi acertada a venda de parte do terreno do Tupynambás. O estádio, José Paiz Soares, está neste "lote" vendido. A princípio, segundo a coluna, no lugar haverá um estabelecimento comercial. Provavelmente, um supermercado.
O processo de venda foi todo feito nos bastidores. Zero participação da sociedade. Até mesmo a imprensa teve dificuldade de acesso aos termos da venda. E isso tudo é inacreditável. Assim como na polêmica venda do Salles de Oliveira, campo do Tupi, o Baeta é entregue à iniciativa privada sem que se saiba o que, de fato, vai ocorrer.
Há semanas busco contato com a diretoria do Baeta para entender essa venda. Nunca fui atendido. Soube da transação por outros meios. E é MUITO idêntico ao processo de venda do Salles: entrega-se um patrimônio histórico para a iniciativa privada sob justificativa de uma contrapartida que não se sabe a viabilidade de ser concretizada.
A diretoria, ainda na coluna do CR, disse que o clube vai ganhar um centro de treinamento de três campos próximo ao Expominas, na BR-040. A pergunta que fica é: o Baeta tem condição de cuidar deste CT? Há um projeto de médio/longo prazo para manter o futebol profissional?
Para além deste questionamento simples, há a questão histórica. Não dá para se desfazer de espaços como o José Paiz Soares sem uma discussão na sociedade. Até porque a dívida do Tupynambás não é pública. Não sabemos, de fato, quanto que custa para reformar o estádio ou o tamanho do débito do clube. Ou seja, os poucos diretores decidem sobre uma instituição que carrega o nome da cidade. É surreal!
E por que falo isso? Na hora do aperto, os clubes apelam para a prefeitura. E lá vai o poder público botar um aporte financeiro para salvar instituições que, nas últimas décadas, pouco entregaram de retorno social. Inclusive, a venda do Paiz Soares, é mais um exemplo disso: vende-se um patrimônio histórico sem nenhum debate, sem nenhuma forma de buscar um caminho diferente.
E mais, na hora do aperto a culpa é sempre da cidade. A cidade que não abraça, que não torce, entre outras besteiras que sempre dizem. Como querer que a cidade abrace algo que nunca foi feito um esforço para ser abraçado?
E assim a história do futebol e da cidade vai se apagando. É a miserável "marcha do progresso", que de progresso, no fundo, não tem nada.
Que alguém possa tentar embargar esse terrível ato, se é que há possibilidade de ocorrer!

*Matheus Brum é jornalista e escritor.

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