IMPRENSA, CULTURA E IMAGINARIO URBANO: EXERCICIO DE MEMORIA SOBRE OS ANOS 60/70 EM JUIZ DE FORA
A cidade, sua textura cultural, a densidade e a narratividade de suas articulações é um dos temas de ponta para quem quer discutir a cultura desse momento enigmático que vivemos. Foi esse o tema que Christina Musse escolheu para seu estudo. Não contente, elegeu ainda uma cidade — Juiz de Fora — cujas peculiaridades são fascinantes e zona de risco para o pesquisador. Uma cidade cujos sentidos de fronteira, de periferia, de margem, de cruzamento, são potencializados de forma única.
Outro ponto de análise importante desse estudo é a desconstrução da idéia de mineiridade, um dos grandes mitos regionais brasileiros, que, no caso de Juiz de Fora, sublinha seu aspecto outsider, enquanto vila, cidade, metrópole. Juiz de Fora, ao contrário do sentido de unidade do ethos mineiro, mostra-se como o território de expressão da dialética dentro/fora, do não-pertencimento.
Além do interesse histórico dessas formações narrativas, a opção por uma metodologia que privilegia a historicização, cumpre aqui um papel modelar. Esta é precisamente a base conceitual e teórica dos Estudos Culturais — campo do conhecimento em que a autora se move —: perceber que a construção de metáforas e formações discursivas não são pura criação espontânea. Ao contrário, são demandas concretas de períodos históricos específicos. Esta estratégia, num momento de parcos recursos e modelos teóricos que dêem conta da quebra radical de paradigmas e das questões transdisciplinares que se colocam com velocidade surpreendente, vem mostrando uma eficácia analítica significativa.
A mídia escolhida pela autora para tecer sua reconstrução dessa história não é certamente inocente. Esta mídia é a imprensa, uma mídia complexa, também de alta voltagem simbólica e que, a seu modo, reflete demandas e desejos bastante profundos da esfera pública, constituindo-se mesmo como um expressivo mediador cultural e adquirindo valor emblemático em determinados períodos históricos. Portanto, além de outras fontes consultadas, depoimentos gravados, material artístico e literário consultados, a imprensa ganha um espaço significativo nesse estudo.
Atenção especial foi dada ao período de transformação contracultural dos anos 60/70, momento bastante produtivo e de virada no panorama cultural da cidade mas ainda praticamente não estudado.
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