"Serra, Serrinha, Serrano: O império do samba"
A história de uma escola de samba sempre é a história do bairro, da região, onde surgiu e evoluiu. Há exceções, porém: Mangueira, Portela, Salgueiro e Império Serrano, instituições com cujos caminhos é possível contar o caminho do Rio de Janeiro no século XX. A trajetória do Império Serrano, por exemplo, confunde-se com a da cidade de forma dramática. Afinal, ascensão e declínio de ambos não apenas coincidem; estão relacionados. Nove vezes campeã do carnaval, sendo a última em 1982, não terá sido à toa que a agremiação cantou as glórias ,e as saudades, do estado da Guanabara em 1988. De lá para cá, foram alguns rebaixamentos, logo seguidos do regresso à elite, até que se estabilizasse na segunda divisão do carnaval. Em 2017, quando o Império Serrano completa setenta anos, somam-se já oito no grupo de acesso, período em que, também não à toa, o morro da Serrinha, berço da escola, teve escalada de violência sem precedente. Nada, porém, que ofusque uma história em cuja fundação o mais importante pilar é o da revolta contra o autoritarismo e em cuja origem suburbana, logo após a abolição, encontram-se trabalhadores rurais da velha freguesia do Irajá, gente vinda do Vale do Paraíba e da Zona da Mata mineira e estivadores do porto do Rio. Esse encontro garantiu, e parece garantir independentemente de carnaval e da passagem do tempo, que o Império Serrano se constituísse num dos mais sólidos polos irradiadores de cultura do Brasil, núcleo criativo referencial para a vitalidade do samba, casa de gênios como Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara, Beto Sem Braço e Arlindo Cruz. E ninguém melhor do que Rachel Valença para contar, 35 anos depois da primeira versão deste livro pioneiro, escrita com o saudoso Suetônio Valença, esse enredo brasileiro fundamental.
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