Marca registrada
por Edemar Annuseck*
por Edemar Annuseck*
“O relógio marca”..., abrem-se as cortinas começa o espetáculo,
ripa na chulipa, pimba na gorduchinha, bola no barbante de Ado, respeitável
público, tremulando, tremulando, tremulando as bandeiras, dez é a camisa dele,
indivíduo competente o Zico, passa de passagem, Placar na Suécia, um a zero, o
Brasil vence.
Frases famosas criadas por Waldir Amaral, Fiori
Giglioti, Osmar Santos, Willy Gonser, Geraldo José de Almeida, Jorge Curi,
Edson Leite, nos últimos cinquenta anos.
Elas identificavam os narradores por décadas, no rádio
esportivo brasileiro. Era gostoso ouvir Waldir Amaral falar após cada gol: “tem
peixe na rede do Vasco”, ou “o relógio marca”.
Jorge Curi com seu vozeirão anunciando o placar do jogo
“no P. E (placar eletrônico) do Maraca” ou “passa de passagem”.
Willy Gonser com o seu “tem bola no barbante de Ado”.
Osmar Santos gritando “chiruliruli-chirulirulá”.
Oswaldo Moreira, da Tupi do Rio falando
“respeitável público”. Fiori Giglioti quando ao apito do árbitro: “abrem-se as
cortinas e começa o espetáculo”. Eram marcas registradas desses grandes
narradores.
Como
surgia
Muitos profissionais contratavam publicitários, tinham
colaboradores e amigos, para criar frases. Lembro-me de Antônio Garini,
editor-chefe do Jornal da Manhã da Jovem Pan, grande incentivador de Osmar
Santos, sempre tinha sugestões. César, jogador do Palmeiras e Estevam Sangirardi
também colaboravam. As frases de efeito deram impulso à carreira de Osmar
Santos, interrompida na noite de 22 de Dezembro de 1994.
De 1973 a 1977 eu dividia as transmissões esportivas da
Jovem Pan com o Osmar.
No início da carreira, Osmar, espelhou-se em
consagrados profissionais como Pedro Luís, Edson Leite, Geraldo José de
Almeida, Fiori Giglioti, Haroldo Fernandes, Joseval Peixoto e outros. Aos
poucos foi criando seu próprio estilo. Infelizmente Osmar Santos já não pode
mais ser ouvido nas narrações esportivas.
Carbonos
Mas o Brasil recheou-se de “cópias” de Osmar Santos;
suas frases e seu estilo de narrar futebol foram copiados pelos quatro cantos
do país. Também Fiori Giglioti é xerocado por dezenas de locutores brasileiros.
E antes de Osmar e Fiori, o extraordinário Pedro Luís. Lá por 1973 quando o
Pedro Luís começou a ter problemas com a voz, aparecia Marco Antônio Matos, seu
espelho, cópia fiel do grande mestre. Pedro teve outros seguidores como Mário
Garcia, Wanderlei Ribeiro, Hamilton Galhano no rádio de São Paulo.
Nos estados em que se ouve o futebol do Rio, José
Carlos Araújo tem clones e mais clones. O rádio esportivo brasileiro sempre
teve muitas cópias; não é grande o número de narradores de ponta, com estilo
próprio.
Criatividade
A
narração esportiva brasileira pode ser analisada por
regiões. No sul, o futebol da Guaíba foi reconhecido a partir da Copa de
1966
na Inglaterra pelo som e transmissões emocionantes de Pedro Carneiro
Pereira e Mendes Ribeiro.
Depois da morte de Pedro Carneiro Pereira em numa prova de automobilismo
(*) no Autódromo de Tarumã em 1973 em Porto Alegre, Armindo Antônio
Ranzolin tomou o comando do
futebol. No Rio Grande do Sul surgiram muitas cópias de Pedro Carneiro
Pereira, Mendes Ribeiro
e Armindo Antônio Ranzolin. Aliás,
(*) Pedro Carneiro Pereira além de extraordinário narrador tinha como grande paixão o automobilismo de competição. Pedro participou de muitas competições até que veio a falecer quando participava de uma prova.
(*) Pedro Carneiro Pereira além de extraordinário narrador tinha como grande paixão o automobilismo de competição. Pedro participou de muitas competições até que veio a falecer quando participava de uma prova.
Haroldo de Souza contratado em 1973 pela Gaúcha inovou
no rádio dos pampas misturando o estilo gaúcho com a modernidade de Osmar
Santos. No Paraná depois de Willy Gonser e Airton Cordeiro, surgiu Himer Lombardi
que virou Lombardi Junior. Esteve conosco durante alguns meses em 1974, na
Jovem Pan. Em Curitiba tornou-se o grande nome do rádio esportivo de 1975 a
1994, quando veio a falecer. Inovou utilizando frases e vinhetas da Jovem Pan.
O estilo das transmissões dos grandes narradores
paulistanos de outrora se espalharam pelo interior do estado e norte do Paraná.
O carioca invadiu Brasília, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Alagoas,
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Manaus e outros estados do norte e nordeste.
Um detalhe interessante; 90% dos narradores esportivos
das grandes rádios de São Paulo vieram do interior ou de outros estados
brasileiros para se consagrar na maior cidade da América do Sul.
Ser
narrador esportivo
O narrador esportivo é um “vendedor de ilusões”. Cabe
ao narrador esportivo descrever o que ocorre num jogo de futebol, com precisão,
e, detalhes. Ao contrário dos locutores esportivos que estão mais preocupados
com vinhetas, abraços, piadas, reverberações exageradas, pornografia e poesias.
Sou fã dos narradores que me fazem “ver o jogo” sem
estar no estádio ou na frente da tevê. Narrador esportivo descreve os lances de
uma partida de futebol mostrando quem está com a bola, para quem foi passada,
qual a posição em que o lance ocorreu, sempre anunciando o placar e o tempo de
jogo. Essa é a função do narrador; as dúvidas ocorridas no desfecho de um lance
devem ser esclarecidas pelo repórter colocado atrás do gol ou na lateral do
gramado. Ao comentarista cabe comentar o jogo. Hoje poucos descrevem o jogo;
preferem interferir na seara do comentarista, dando sua opinião e esquecendo-se
de narrar. Alguns pela rapidez que querem dar a transmissão engolem palavras;
outros narram na base do - cruzou o zagueiro, cortou o zagueiro, defendeu o
goleirão. Quem cruzou. De onde cruzou. Para onde cruzou. Quem cortou. Como é o
nome do goleiro. Não dá nome aos atletas. Algumas transmissões são
completamente lineares; cobrança do tiro de meta e jogada que se estende até a
linha intermediária (entre meio de campo e grande área adversária) deve ser
narrado com um tom mais coloquial; um chute a gol ou jogadas que se sucedem
dentro das áreas devem conter a vibração que o futebol exige. Hoje em cada 10
narradores, cinco gritam aos quatro ventos: “pro gooooollllll... para fora”. É
uma forma de aumentar a emoção de uma jogada de ataque. Porém 95% desses lances
não resultam em absolutamente nada. Pura enganação. E você ainda ouve os
surrados - a bola passa raspando a trave, tirando tinta do poste – (a tevê
mostra que passou dois metros do poste), ou – balão de couro – (a bola de hoje
é fabricada com material sintético e balão é outra coisa), ou ainda – um
escanteio de mangas curtas -. E tem aquela do – estamos no intervalo do
primeiro para o segundo tempo -. Um jogo de futebol tem apenas um intervalo,
logo...
Um
pedido
Completei em Abril deste ano (2012) 48 anos no jornalismo
esportivo; não quero com este comentário ensinar a ninguém o “pai nosso”, mas,
gostaria que os jovens, os que estão ingressando nesta profissão levem isso
como uma colaboração de quem também cometeu muitos erros. Escrevo a título de
colaboração para que os futuros narradores sejam realmente narradores, que o
rádio seja sério, moderno, informativo, prestador de serviço, feito com muito
amor, sem palavrões e pornografia. O rádio precisa resgatar qualidade e
dignidade, que muitos jogaram na lata de lixo. Chega de baixaria, chega de
terceirização, chega de incompetência. O rádio precisa dar um basta a tudo
isso.
A falta de qualidade do rádio de hoje contribui
decisivamente para a queda de sua audiência e por extensão diminuição das
verbas publicitárias. Que se dê qualidade ao rádio esportivo e tenham a certeza
que a audiência voltará a crescer e as verbas publicitárias voltarão
naturalmente.
Falecidos
Este artigo serve para lembrar e homenagear aqueles que já nos deixaram e marcaram época no rádio esportivo brasileiro como
Pedro Luís, Edson Leite, Fiori Giglioti, Geraldo José de Almeida, Raul
Tabajara, Waldir Amaral, Jorge Curi, Doalcei Bueno de Camargo, Clóvis Filho, Oswaldo
Moreira, Orlando Batista, Pedro Carneiro Pereira, Mendes Ribeiro, Vilibaldo Alves, Humberto
Mendonça, Mário Garcia, José Italiano, Milton Peruzzi, Marco Antônio Matos, Hamilton Galhano, Walter
Fonseca, Antônio Rangel, César Bruno, Jairo Anatólio Lima, Jaime Cisneros, Adilson
Couto, Lombardi Jr., Machado Neto, Vinícius Coelho, Lauro Soncini, Aldo Pires de Godoy,
Rodolfo Sestrem, Lourival Budal e Célio Marinho.
*Edemar Annuseck é jornalista
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