sábado, 2 de dezembro de 2017

O PORTUGUÊS EM FIM DE CARREIRA?

por Paschoal Motta*

Oportuna a preocupação com advertência do Jornalista Otacílio Lage em artigo  publicado há algum tempo no Estado de Minas, de Belo Horizonte, onde é subeditor: “Aqui, o Português está sendo negligenciado, e só os tolos acham que podem aprender o Inglês, Espanhol, Italiano, Russo, Mandarim ou qualquer outro idioma, ignorando o nosso. Não vão sair do lugar.” E alenta lamento de Renata Santos, Daniela Catarina e Clícia Paula, estudantes do Ensino Médio também da Capital de Minas, carta pública a respeito da presença de língua estrangeira em vitrines de casas comerciais: “... sinceramente consideramos desrespeitosas ao consumidor e à nossa Língua-mãe.” Glória! Louvadas sejam.
 Ainda uma esperança antes de jogar de vez essa manchada e rasgada toalha da inteligência brasileira: proporcionar livros e mais livros gratuitos com campanhas maciças de motivar sua (não a) leitura e comercialização a preços compatíveis com o bolso minguado do trabalhador brasileiro na maioria mais humilde. Aliás, programas sociais governamentais, como Fome Zero, Bolsa Família e outros, podiam incluir neles um livro. “Você recebe este botijão de gás e este romance de fulano.” “Aqui, o dinheiro do salário-educação e este livro de poemas de beltrano.” “Este é de História do Brasil,  sua família vai conhecer mais onde moramos...” Manjaram?
Cuidar para que sejam de autores tupiniquins, porque já constatamos estudantes preparando “trabalho” de Língua Portuguesa em livro traduzido...
Precisamos de publicações de qualidade, mesmo que sem ilustração (nada contra desenhistas); a imaginação será mais aguçada. Texto é uma coisa, desenho, outra. Livros, e em papel de jornal ou reciclado, de bagaço de cana e de outras fibras que queimamos ou jogamos fora, pelo preço mais em conta. Os indicados para leitura em escolas de Primeiro Grau, reparem, são coloridos, em papel cuchê, lindos, mas impossíveis de comprar por pais de salário mínimo. Melhor como queria o jovem Poeta Castro Alves: “Livros, livros à mão-cheia, e manda o povo pensar... O livro caindo na alma é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar.”
 Quem lê qualquer texto de algum valor pensará melhor, se sentirá melhor, conscientemente liberto, orgulhoso do idioma que o liga a seu torrão natal, seu clima, sua paisagem, suas crenças, sua arte a seus compatriotas e aos demais do Planeta Terra. Terá meios (ou mídios?) para obter mais recursos para sua sobrevivência com humana dignidade. Quem lê estuda; quem estuda lê mais.
Vivemos dias de esperanças e esforços por renovações. Há muito que fazer: comecemos já. Leitura, mesmo que tardia. Quantos adultos jamais leram um livro, nem o Jeca Tatu, de nosso Lobato...
Se imensa cópia de colegas da Comunicação, de cotovelos calejados na janela que abriram pela metade, se esclerosou intelectual e linguisticamente, que, então, os comunicadores (jornalistas, professores e outros da área) salvados do fogo sodomítico da ignorância, batalhem pelo aprimoramento do ensino e educação da infância e da juventude. Encontraremos moças e moços conscientes, competentes e ativos. Vamos lá com eles! E com a decisão de obstinados, que, do outro lado, os meios de informação (ou mídia?) forcejam para alienar a todas e a todos até quando dormimos.

Para fechar, mais este registro, em avivamento de nossos temores e tremores quanto à destruição da Língua Portuguesa no caso específico brasileiro. Recentes advertências da UNESCO / Organização das Nações Unidas Para a Ciência, Educação e Cultura, através de seu diretor-geral, Koichiro Matsuura, afirmou, na celebração do Dia Internacional da Língua Materna, em 21 de fevereiro: “Quando uma língua morre, uma visão do mundo desaparece.” E acrescentou que um registro idiomático desaparece a cada duas semanas. Por seu turno, Musa Bin Jaafar Bin Hassan, presidente da Conferência Geral, da mesma Unesco, acrescentou: “As línguas não podem desaparecer sob o peso de outras. Têm que ser meios de expressão, que vivam e atuem junto às grandes línguas da Terra.” E ele considera isso de difícil solução no enfrentamento da globalização que coloca o Inglês numa posição predominante.  
E os professores de Português, aqui no Brasil, onde estão? Ou se escondem nalguma galáxia fora de nosso sistema linguístico? E os cursos de Letras Neolatinas, de Jornalismo, de Direito, de Publicidade? E a Academia Brasileira de  Letras e as congêneres espalhadas pelo território brasileiro? E o Ministério da Cultura? Não se movimentam? Estão surdos, cegos? Vesgos?

Dispomos de recursos de divulgação para desencadear campanhas, festivais, concursos, celebrações regulares que avivam a atenção da mocidade para o valor que representa a Língua Portuguesa em sua formação intelectual, cultural e emocional. É só querer; e para querer é preciso, antes, entender; e, entendendo, amar. As comemorações de nossas datas cívicas mais importantes são duma frieza tumular. Quem proporá programas abrangentes e motivadores para que toda a população deles participe, com alegria, com proveito, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, de um 7 de Setembro, por exemplo? Promover festivais artísticos, concursos literários, musicais, de artes plásticas, disputas esportivas, profissionais e amadoras, e mais envolvendo a sociedade, da criança ao adulto, com interesse consciente. Gastam-se milhões de reais com uns desfiles repetidos, aqui e ali, e pronto. E o povo, no hora - veja...

O Português é patrimônio cultural; representa nossos modos de ser, estar, agir e sentir; e nos distingue no concerto das nações. Exige de quem o divulga rigorosa e serena consciência crítica, respeito e responsabilidade para com as gerações passadas, atuais e futuras.

O termo mídia viciou velhos e vicia novos no besteirol da comunicação nacional. Teremos ânimo ainda para recolocar o meio em nossos meios com competência e alegria? Há meios? Há. Uma sugestão primária: conhecer um mínimo da Língua Portuguesa, gostando ou não dela.

Esse mídia nos envergonha, humilha e violenta.

*Paschoal Motta, escritor, jornalista e professor
(São Pedro dos Ferros/Belo Horizonte)

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