domingo, 14 de julho de 2013

Projeto "ANJO DA GUARDA"

          Anjo da guarda

Profissional em TI desenvolve sistema que pode salvar bebês esquecidos dentro de carros
Ideia de executivo da área de tecnologia para evitar asfixia de crianças pode ser concretizada em protótipo com equipamento que viria a ser produzido em série

O projeto de lei pode não ter vingado, mas a luta não foi em vão. Preocupado com o grande número de bebês e crianças esquecidos dentro de carro, muitas vezes com desfecho fatal, o profissional em tecnologia da informação Alex Fávaro desenvolveu a ideia de um sistema que evita a morte nessas situações. Criou o projeto de lei Anjo da guarda e precisava de 20 mil votos populares até o mês passado para que o tema entrasse na pauta de votação no Senado. Não deu. Mas o esforço de divulgação de Alex chegou à imprensa e a fornecedores da indústria automotiva, que se interessaram pela ideia. Depois de diversas reuniões, pelo menos uma das vertentes do projeto já pode virar realidade.

A ideia partia do uso de componentes que já existem no mercado. Os sensores de peso – mais comuns nos bancos dianteiros nos modelos que "avisam" quando há um usuário sem cinto de segurança, mas que podem ser facilmente instalados nos traseiros – são a base de tudo. Serviriam, ao contrário da função atual, para enviar um sinal, no momento em que o veículo é desligado, informando a presença de algo (ou alguém) nos bancos traseiros e com os cintos afivelados, já que os cintos também são usados para prender as cadeirinhas ou o bebê conforto na maior parte dos carros. Se a situação permanecer, o projeto Anjo da guarda sugere que o alarme externo dispare, chamando a atenção de transeuntes para a possível presença de criança no carro. Ao mesmo tempo, seria acionado um sensor de temperatura e, se constatados mais de 25 graus, automaticamente seria acionado o sistema de ventilação interna do carro, além de serem abertos os vidros. Mas, cinco minutos depois de disparado o alarme, se ninguém aparecer, independentemente da temperatura, os sistemas de ventilação interna e de abertura dos vidros são acionados de qualquer forma, a fim de permitir a entrada de ar.

VIA CELULAR
Durante a apuração feita pelo caderno Vrum (reportagem publicada em 6 de abril), o engenheiro eletricista com ênfase em eletrônica Ricardo Takahira, gerente de novos negócios da divisão eletrônica da Magneti Marelli, tomou conhecimento do projeto e se interessou pelo assunto. "Poderíamos desenvolver um veículo conceito com essa ideia", disse à época. Por meio da reportagem, Alex e Takahira entraram em contato e iniciaram uma série de negociações. Foi só o primeiro passo. Enquanto diversos veículos de comunicação divulgavam a ideia, Alex passou a buscar apoio em vários setores da indústria. Atualmente, um fabricante de alarmes estuda com interesse a viabilização do projeto, enquanto ele aguarda a conclusão da patente. E a Magneti Marelli, apesar de não mais atuar no desenvolvimento de alarmes, tem como dar corpo ao projeto por meio de um sistema que atuaria via celular.

Com a iminência de concretização da lei que obrigará todos os veículos a saírem de fábrica com rastreadores (polêmica Resolução 245/2007 do Conselho Nacional de Trânsito/Contran que já foi adiada várias vezes), a Magneti Marelli desenvolve um sistema em que poderiam ser ativadas outras funções, além da opção básica de localização do veículo. E uma delas contempla o projeto Anjo da guarda.

"O sistema de rastreamento é uma tecnologia que já existe. Uma espécie de caixa-preta é colocada em algum ponto escondido do veículo e passa a receber sinais da localização do carro via GPS. No conjunto existe um modem, que envia as informações para um servidor via sistema de celular (GPRS)", lembra Takahira. "Uma das entradas pode estar ligada ao sensor de peso do banco (já calibrado para o peso da cadeirinha, que não seria confundido com o da criança). O rastreador sabe quando o carro é desligado e ‘saberia’ que há algo ou alguém no banco. Então, uma mensagem pode ser enviada não para a central, mas para o smartphone do próprio dono, avisando que o banco de trás está ocupado", explica. Depois de algum tempo – o engenheiro acrescenta que tem que se discutir em cerca de quanto tempo o oxigênio existente dentro do veículo acaba –, outra mensagem poderia ser enviada. Seria, ainda, dada ao motorista a opção de abrir os vidros via smatphone.

"Se o motorista realmente esqueceu alguém ou até mesmo um objeto no banco do carro pode voltar para resgatar. Além disso, pelo smarphone ele teria também a opção de acionar a abertura dos vidros, como sugere o projeto Anjo da guarda. Seria dele o poder de decisão", finaliza Takahira, reafirmando a possibilidade de se fazer, pela Magneti Marelli, um "veículo-demonstração" para o sistema.

OUTRAS 
Além da função Anjo da guarda, o sistema da Magneti Marelli poderia agregar outros benefícios ao sistema, como o envio de informações, via smartphone, avisando, por exemplo, sobre o nível de combustível do carro, confirmando se as portas foram travadas e os faróis apagados etc.

CURIOSIDADE 
Quando criou e disponibilizou o projeto Anjo da guarda para votação, Alex Fávaro usou um canal existente dentro do site do Senado (www.senado.gov.br) no qual qualquer cidadão pode incluir e sugerir ideias. Funciona da seguinte forma: dentro do portal e-Cidadania está o ícone e-Legislação, com a possibilidade de inclusão de propostas de lei, que passa por aprovação (ou não) pelo órgão. Uma vez aprovada a ideia, abre-se o tema para votação e, obtido o número de apoios necessários, a proposta é avaliada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, podendo vir a tramitar formalmente no Senado. A proposta de Alex, que precisava de 20 mil votos até 19 de junho, foi a segunda mais votada, com apenas 1.727 votos (a mais votada teve somente 2.306). "Pelo que eu soube depois, até hoje nenhuma ideia chegou a alcançar o número de votos e ir à tramitação", diz Alex. "Essa mobilização não é fácil. No facebook, tive 570 mil visitas somente para visualizar algo sobre o projeto, mas essas pessoas não votaram. De qualquer forma, tudo o que alcancei foi uma vitória".
Fonte: www.uai.com.br

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