sexta-feira, 17 de maio de 2013

Futebol

Conflito e integração social: paradoxos do futebol em Belo Horizonte (1908-1927)
por Euclides de Freitas Couto

O presente trabalho discute o futebol em Belo Horizonte no período de 1908 a 1927, buscando compreender como esse esporte contribuiu para a integração social de grupos rivais presentes na elite local. Parte-se da abordagem teórica proposta por Simmel que considera que os esportes competitivos, ao criar o espírito de rivalidade entre os grupos sociais, contribuem decisivamente para a integração social desses grupos. Como fonte de pesquisa foram utilizados jornais e revistas que circulavam na cidade no período analisado. Porém, devido à escassez desses materiais, recorreu-se também à utilização do recurso da história oral como metodologia complementar de pesquisa.

01. INTRODUÇÃO
Esse texto tem por objetivo discutir a dinâmica sociocultural permeada pelo futebol na cidade de Belo Horizonte no período entre 1908 a 1927. As análises tomam como eixo principal um estudo multidisciplinar da representação do futebol como um emergente fenômeno social que contribuiu para a construção de identidades coletivas e para integração social da cidade. Partimos do pressuposto teórico simmeliano de que o conflito, elemento presente na maioria dos jogos esportivos, contribuiu decisivamente para a integração dos grupos sociais belo-horizontinos no início do século 20.

Para tanto, foram consultadas diversas tipologias de fontes incluindo crônicas e trabalhos relativos à história do futebol. Dada a escassez dos registros escritos em torno do período inicial do futebol belo-horizontino, o depoimento das pessoas que de alguma forma se envolveram com o futebol naquele contexto ou de pesquisadores que contribuíram para a reconstrução histórica daquele período, tornaram-se importantes fontes para a construção de documentos históricos. A utilização da história oral foi simultaneamente um exercício desafiador e instigante. As entrevistas buscaram analisar, através de testemunhos, o contexto histórico-social, o cotidiano dos moradores, bem como as formas tácitas de desenvolvimento de sociabilidades e de construção de identidades no período analisado.

02. ATLETICANOS E AMERICANOS: A IDENTIDADE DE DISTINÇÃO
Desde seus primórdios em Belo Horizonte, o futebol despontou como um esporte seletivo. As primeiras partidas disputadas no Parque Municipal, lugar freqüentado pelas elites locais, já demonstravam o caráter restritivo da sua prática. Entre os anos de 1904 e 1915, paralelamente ao ciclismo, o futebol ganhava praticantes e espectadores. As partidas realizadas nos finais de semana eram acompanhadas por uma assistência bem vestida e comportada que aplaudia de forma comedida, os lances mais emocionantes. Entretanto, os primeiros jogos da cidade, realizados no Parque Municipal eram eventos isolados, restritos aos freqüentadores daquele lugar como descreveu, em sua entrevista, Adelchi Ziller:
O campo do parque era improvisado, não havia arquibancadas, ninguém se preocupava com a organização do jogo. Era comum os garotos se reunirem ali na hora mesmo e jogarem a sua pelada. Quem estivesse por perto iria assistir.

03. ATLETICANOS E AMERICANOS: CONFLITO E INTEGRAÇÃO
A conquista dos dois primeiros títulos pelo Atlético e a péssima campanha realizada pelo América fizeram com que os alviverdes se mobilizassem em torno da preparação de uma equipe mais competitiva. A esta altura, o futebol na cidade já ampliava o seu universo social. Não só os familiares e amigos dos atletas acompanhavam os jogos. O espetáculo promovido pelo futebol passou a ser um ponto de encontro da elite da cidade. Os jogos realizados nas tardes de sábado ou domingo passaram a ser esperados com ansiedade pelos torcedores.
Em 1913, o futebol era já era considerado pela crônica esportiva, o esporte mais conhecido na cidade: 4
Aqui, desde que falle em sport, entende-se que se quer dizer foot-ball: estas duas palavras tornaram-se synonimas; todas as sociedades sportivas cultivam exclusivamente o foot-ball. E isso é triste. Nas nossas condições actuaes, varios outros generos de sports podiam desenvolver-se parallelamente a esse tão querido foot-ball. (Vita, n.1, jul. 1913).
Colaboração: Alexandre Magno Barreto Berwanger


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