segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Literatura

"Irineu Marinho – Imprensa e Cidade"
Uma imprensa independente – sem subvenção do Estado, sustentada apenas por anúncios e pela venda de exemplares – dirigida não só a formadores de opinião, mas para todos os segmentos de uma sociedade que se transformava a toque de caixa. No início do século XX, esses conceitos embalaram os projetos de toda uma geração de empreendedores na então capital da República, o Rio de Janeiro, inspirando o lançamento das bases da indústria jornalística moderna.

Resultado final de dois anos de pesquisa do Memória Globo nos diferentes acervos que disponibilizam as coleções de jornais relacionados à trajetória de Irineu Marinho, sua correspondência e registros de sua vida civil e de sua atividade como homem público e empresário, o livro foi escrito pela historiadora e socióloga Maria Alice Rezende de Carvalho. Não se trata de uma biografia, mas, sim, de uma vigorosa análise do jornalismo exercido no começo do século XX, filtrada através da experiência de Irineu Marinho e de seu jornal A Noite.

Fundado em 1911, o veículo destacou-se entre outros órgãos da "nova imprensa brasileira" pelo ímpeto com que encabeçou o movimento de renovação do modo de produção de notícias na cidade do Rio de Janeiro. Como empresa que se pretendia autônoma, livre das benesses e ingerências do poder político, buscava a autossuficiência financeira. Uma vez que o lucro dependia de leitores e anunciantes, A Noite buscou conquistar o leitor comum, mergulhando na cultura popular e modernizando a linguagem e a temática da pauta jornalística: o jornal publicava o resultado do jogo do bicho, envolvia-se nos problemas urbanos do dia a dia e investia no noticiário policial, atendendo a novas faixas de público, fora do alcance do jornalismo sisudo e beletrista praticado até então. 

O volume acompanha o desenvolvimento de A Noite em paralelo à trajetória de Irineu Marinho. Bem-sucedido como empresário, o jornalista vivia em constante conflito com o poder político. Perseguido por Hermes da Fonseca, esteve preso no governo Epitácio Pessoa e teve de se autoexilar sob a presidência de Artur Bernardes – a ausência do país lhe custaria o comando de A Noite em 1925, em meio a um conflito entre os acionistas pelo controle da empresa. Apenas quatro meses depois, porém, Marinho daria o troco a seus adversários, lançando um novo jornal: O Globo. Não pôde, contudo, testemunhar o êxito da empreitada. Um mês mais tarde, o empresário morreria de enfarte, aos 49 anos, deixando o comando dos negócios a seu filho, Roberto Marinho. 

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