quarta-feira, 7 de março de 2012

Patrimônio Histórico

Minas tem 84 bens tombados que nunca tiveram proteção

Risco ao patrimônio é ainda maior

No alto da Rua do Cartório, entre a mata de eucaliptos, uma pequena praça que serve de retorno e um descampado ermo, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus passa noites solitárias na comunidade do Marzagão, em Sabará, na Grande BH. Ali perto ficam os sobrados da antiga vila operária erguida para abrigar funcionários da primeira tecelagem implantada no local, nos anos 1920. A fragilidade do patrimônio estadual tombado em museus, igrejas e sítios históricos de Minas vai muito além das 40 edificações em 25 cidades onde os sistemas de alarmes deixaram de funcionar por falta de pagamento do programa Minas para Sempre, do Iepha.

Pelo menos outras 84 construções históricas em 43 cidades, que deveriam ser protegidos pelo instituto, nunca receberam equipamentos de segurança, como ocorre no Marzagão.

Os 84 locais históricos podem ser considerados privilegiados, pelo menos por terem sido alvo de um pedido de reforço do policiamento. Situação pior é a de locais que abrigam peças históricas e sacras importantes para comunidades religiosas e que nem sequer têm expectativa de receber investimentos em segurança. Como no Marzagão, o distrito de Pinhões, em Santa Luzia, também na Grande BH, tem um templo importante isolado na pequena comunidade. Ao redor da capelinha em estilo gótico de Nossa Senhora do Rosário, construída em 1906, há apenas um curral, um cemitério, a casa paroquial e uma praça desolada. Não há alarmes nas paredes, sensores de movimento em corredores, trancas sofisticadas nos acessos ou sequer vigilantes.
As marcas das invasões podem ser vistas nos acessos do templo isolado. A madeira original da porta lateral ficou lascada de tantos arrombamentos e precisou ser reforçada com tábuas novas e parafusos. Nas janelas, os pés de cabra dos arrombadores também deixaram rombos.
 
Onde o sistema foi restabelecido a comunidade voltou ter menos preocupações. Na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, em Ravena, distrito de Sabará, as reformas feitas no local seguem com mais segurança com o restabelecimento do sistema de vigilância eletrônica, reativado na última semana. De acordo com o vice-presidente do Iepha, Pedrosvaldo Caram Santos, oito dos 40 edifícios contemplados pelo programa Minas para Sempre, já estão com os sistemas operantes.
 
Contraste na vigilância
As finas portas azuis de madeira talhada em 1818 e as janelas sem vidros foram as barreiras físicas deixadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) para servir de segurança às relíquias da história colonial mineira abrigadas no Museu Aurélio Dolabella/Casa da Cultura. Os alarmes e sensores de movimento do prédio que fica em Santa Luzia, na Grande BH, ainda não foram religados, mesmo com o anúncio de renovação de contrato do instituto com as empresas de vigilância que administram os aparelhos, anunciado no dia 17. A situação de fragilidade só não é pior porque o município, a título emergencial, deslocou quatro seguranças para o prédio. A vulnerabilidade contrasta com a abundância em equipamentos que garantem a paz de imagens e obras tombadas da Igreja Matriz de Santa Luzia, edificada entre 1744 e 1778, a 10 metros do Museu, do outro lado da Rua Direita.

Além das trancas, cadeados e barras transversais que fortificam os portais do templo do século 18, no Centro Histórico da cidade, foram distribuídos aparatos de vigilância por todos os acessos e passagens da igreja barroca. São seis câmeras internas, nove externas e sete sensores de movimento pelos corredores e escadarias de madeira. Nem as escadarias dos sinos, que se erguem em torres com mais de 10 metros de altura, escapam ao mapeamento a laser dos alarmes. A igreja, tombada pelo município, tem uma central de segurança onde ocorrem os ajustes dos instrumentos e a gravação das imagens dos circuitos fechados.
Furto
O templo sem proteção teve 15 obras tombadas levadas por ladrões. Foram três anjos barrocos que compunham as decorações entalhadas nas paredes internas da igreja e 12 imagens de santos, inclusive a pequena Santa Luzia que é alvo de devoção em várias partes do Brasil. Declarações emocionadas pediram o retorno das peças pelos meios de comunicação da época e até pragas foram lançadas na tentativa de reaver o material, rogando que “ficassem cegos” os ladrões da Santa Luzia.

Aos poucos, cada uma das peças foi restituída. O custo, contudo, foi alto: todas as relíquias criadas no século 18 foram danificadas. A estatueta de Santo Hilário tinha rendas de ouro em sua túnica que foram perdidas e precisaram ser substituídas na restauração por tecido comum dourado.

As câmeras e os sensores vêm sendo instalados há 10 anos e inibiram arrombamentos desde então. Os ataques que o templo sofreu nos últimos anos são ações de vândalos, como os que atearam fogo a um dos portais, no fim do ano passado, e os rabiscos deixados por pichadores ainda visíveis em algumas paredes externas.

Seja por fé ou para admirar a arquitetura e a exuberância das construções tombadas, turistas e frequentadores apoiam a decisão de ampliar a segurança dos edifícios e criticam a não renovação dos serviços.
Fonte: http://www.uai.com.br/

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