domingo, 4 de dezembro de 2011

Transporte Ferroviário

De funileiro a restaurado​r
por Camila Mendes

Conheça a história de Edvaldo Souza de Oliveira, um dos responsáveis pela construção do ônibus de dois andares em São Paulo, que hoje restaura peças no museu dos transportes, e diz ser uma honra manter viva a história do desenvolvimento da metrópole.

Funileiro por profissão e um dos principais responsáveis pela construção e lançamento do ônibus de dois andares em São Paulo no ano de 1985, Edvaldo Souza de Oliveira é hoje, aos 66 anos, orestaurador das peças do museu dos transportes Gaetano Ferolla, em São Paulo.


Em entrevista ao blog São Paulo TREM Jeito, do Sindicato da Sorocabana, Edvaldo falou um pouco da sua experiência na CMTC e no museu dos transportes. Uma história surpreendente, que vale a pena conhecer.

São Paulo TREM Jeito – Como surgiu o interesse pela funilaria?
Edvaldo Souza de Oliveira - Sai da Bahia ainda menino para morar em Goiás junto com minha família. Lá conheci um funileiro que me ensinou tudo o que sei. Passava o dia na oficina com ele e iniciei com pequenos consertos em carros menores, que fazia de vez em quando. Aos poucos peguei gosto pela profissão e de lá para cá não larguei mais.

São Paulo TREM Jeito – Quando foi que a história do senhor começou a cruzar com a do transporte metropolitano de São Paulo?
Edvaldo Souza de Oliveira - Depois que aprendi a profissão, voltei para a Bahia com intuito de abrir meu próprio negócio, porém, em 1984, inicio do governo de Jânio Quadros em São Paulo, surgiu à oportunidade de trabalhar na CMTC (Companhia Municipal de Transporte Coletivo). Não pensei duas vezes. Peguei minha mala e vim embora. Mesmo tendo experiência com carros menores, comecei a trabalhar na oficina centralizada da Santa Rita, onde fazíamos todos os tipos de consertos nos ônibus.


São Paulo TREM Jeito – Qual o maior trabalho realizado pelo senhor na CMTC?
Edvaldo Souza de Oliveira – No mesmo ano que entrei para a CMTC, o então prefeito Jânio Quadros ordenou à empresa que criasse um protótipo brasileiro do ônibus de dois andares, igual ao de Londres. Para isso, a empresa contratou um engenheiro que passou a estudar o modelo do ônibus e desenhar como deveria ser feito.


Fomos seguindo as orientações dele e construímos o primeiro ônibus de dois andares de São Paulo, o conhecido onze mil, hoje, exposto aqui no museu.

O desenho do primeiro ficou colado na parede da oficina, e através desse passamos a fazer outros. Na era Covas eram fabricados trinta carros por mês.

São Paulo TREM Jeito – Durante a construção do ônibus, qual a maior dificuldade encontrada pela equipe?
Edvaldo Souza de Oliveira – Não sei se foi uma dificuldade. Tá mais para um desafio. Como ele tem três portas, durante a construção tivemos que rebaixar o chassi para ter a entrada do meio.

São Paulo TREM Jeito – E alguma curiosidade?
Edvaldo Souza de Oliveira – No dia da inauguração nos preparamos para levá-lo para fora do galpão, onde o prefeito estava aguardando, porém, quando fomos sair pela porta da oficina, o ônibus não passava.

Meses construindo sem se preocupar com a altura do prédio. Para passá-lo, tivemos que murchar os pneus e levá-lo ao local para apresentá-lo às autoridades, imprensa e população.

São Paulo TREM Jeito – Esse ônibus tem o apelido de “Fofão”. Isso tem alguma ligação com este episódio?
Edvaldo Souza de Oliveira – [risos]: Não, o apelido é uma homenagem ao engenheiro que fez o primeiro projeto. Nós o chamávamos de fofão porque ele era bem fortinho.

São Paulo TREM Jeito – Agora passando para o museu, como foi que você chegou até aqui?
Edvaldo Souza de Oliveira – Aconteceu em 2003. Eu estava na oficina da Santa Rita, quando um amigo que fazia a manutenção aqui me convidou e eu aceitei.

São Paulo TREM Jeito – Hoje, além da manutenção, o senhor restaura as peças do museu. Como isso aconteceu?
Edvaldo Souza de Oliveira – Bem, sempre fiz alguns reparos nas peças de um modo geral, mas a primeira que eu restaurei, foi o parafuso de um bonde de 1900.

Os bondes tinham bancos reversíveis e de tanto mudar a posição deles, durante as apresentações, esse parafuso se partiu de maneira que um pedaço ficou dentro do banco. O problema é que o tipo de parafuso utilizado não se fabricava mais e o objetivo do museu é manter ao máximo a originalidade daquela peça.

Então, fiz um estudo do material utilizado naquela época, desde o parafuso, a cor da tinta que foi pintado. Trabalhei durante semanas, recriei o parafuso e a cor da tinta com meus conhecimentos em funilaria, retirei o que estava quebrado dentro do banco, que também exigiu um trabalho de restauração.

O trabalho ficou tão bom que ninguém percebe que o banco teve um dano, e o parafuso é diferente dos outros. [risos].

São Paulo TREM Jeito – Para o senhor, qual a recompensa desse tipo de trabalho?
Edvaldo Souza de Oliveira – A experiência e o conhecimento adquirido, sem dúvidas, é a maior recompensa.

São Paulo TREM Jeito – Qual o segredo do seu trabalho?
Edvaldo Souza de Oliveira - O trabalho se torna importante, quando é feito com amor, cuidado e personalidade.

São Paulo TREM Jeito – Para finalizar, o que significa para o senhor fazer parte da história dos transportes em São Paulo, primeiramente criando e agora a mantendo viva?
Edvaldo Souza de Oliveira – Não existe nenhuma outra palavra que não seja honrado.

Postado por Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana
Colaboração: Rogério Centofanti

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