sábado, 26 de novembro de 2011

Transporte Urbano

Escolher apelidos para os ônibus da cidade é uma tradição carioca desde 1924

O carioca samba no Terreirão, faz compras no camelódromo, torce no Engenhão, peca na Vila Mimosa, fala no orelhão. Nem o prédio da prefeitura consegue se livrar: é o Piranhão. E os BRTs — corredores expressos para ônibus articulados — não vão escapar. Numa cidade tão fértil em criatividade, cada nova sigla — UPP e UPA — parece extraterrestre, um ET.

Não é de hoje que a criatividade do carioca faz sinal para embarcar nos ônibus. O hábito de apelidá-los surgiu em 1924, quando circulava no Rio um arremedo de coletivo montado num Ford T. Não demorou para ganhar o singelo nome de "mamãe me leva". Dois anos depois veio o "jacaré", pintado de verde e cinza. E a tradição prossegue até hoje, quase um século depois, com a eleição promovida pelo Jornal Extra escolha dos nomes dos novos ônibus articulados dos BRTs — os futuros corredores exclusivos projetados pela Prefeitura do Rio.

O grande sucesso da década de 1920 foi o "imperial", de dois andares, que apareceu em 1928, semelhante aos famosos ônibus de dois andares de Londres. Por razões óbvias, ficou marcado como "chope duplo". Uma curiosidade: uma das operadoras das linhas de ônibus da época era a Light.

— Em 1926, a Light trouxe um ônibus inglês apelidado de "jacaré" por causa da cor. Antes, em 1924, havia um feito num Ford T, o "mamãe me leva". O "chope duplo" chegou em 1928, importado da Europa e dos EUA — conta o presidente da Associação Nacional de Transportes Urbanos, Eurico Galhardi.

A viagem de nomes engraçados continuou em 1934, com os modelos da Volvo, cujo apelido trazia traços do requinte e do humor da época.

— De tão feio que era, foi chamado de "sinfonia inacabada" — lembra Galhardi.

Em 1939, a Segunda Guerra Mundial prejudicou a importação de autopeças. Surgia o ancestral comum a ônibus e vans: o "lagosta".

— Muitos deles eram montados em fundos de garagem e eram verdadeiros monstrengos, com a frente de um jeito, o meio de outro e a traseira de um terceiro jeito. Por isso, foram apelidados de "lagosta". Eram os lotações, parecidos com as vans atuais — diz o jornalista Sílvio Rabaça, autor do livro "Cem anos de ônibus no Rio de Janeiro", de 2008.

Mas o melhor estava por vir. Em 1947, desembarcava aqui o modelo americano Twin Coach, da General Motors. O gringo caiu no gosto do povo e ganhou a alcunha de "gostosão".

— Acabada a guerra, veio o "gostosão", com piso baixo, suspensão pneumática, porta pantográfica e ar-condicionado. Ele era muito confortável e tão bom quanto os de hoje — compara Eurico Galhardi.

E qual será o apelido dos novos ônibus dos BRTs?

As opções:
Batidão
Compridão
Expresso Carioca
Cariocão
GG
Ligeirão
Gonzagão
Papa-Léguas
Fonte: http://www.extraonline.com.br/

Um comentário:

Luiz Carlos Martins Pinheiro disse...

Amigo Carlos Ferreira

Uma bela história carioca. Parece-nos esquecido o camões, ônibus ingleses importados logo após a II Guerra Mundial, com baita motor dianteiro, descoberto ao lado do motorista.

Também não menciocionados os dasogênios, cujo apelido não nos lembramos mais (talvez rabo quente). E as jardineiras?

A pior infelincidade são os articulados. Com muito pouco mais se teria o Trem Leve Sobre Trilhos, infinitamente melhor do que eles e cogitado antes deles. Consta que será implantado na recuperação portuária, alongo da Avenida Rodrigues Alves.

Aliás não há nada pior do que os ônibus no Rio de Janeiro, verdadeiros caminhões encarroçados para passageiros. Duros, barulhentos, saculejantes, trepidantes, desconfortáveis, com uma crimonosa crataca e conduzindos como se transportasse sacos de batadas.

Por falar nisto JF tão pioneira e ferroviária, quando restabelecerá o transporte urbano e suburno por trilhos?

Abraços, saúde e Paz de Cristo.
Luiz Carlos/MPmemória.