domingo, 16 de outubro de 2011

Literatura

"O olho da rua - uma repórter em busca da literatura da vida real"
Se fosse apenas uma coletânea de reportagens, "O olho da rua - uma repórter em busca da literatura da vida real" seria uma viagem vertiginosa por um Brasil desconhecido mesmo quando está logo ali, virando a esquina. Com 20 anos de jornalismo, a gaúcha Eliane Brum tornou-se conhecida por um olhar original sobre a realidade, que carrega o leitor para as camadas ocultas pela banalidade cotidiana. As dez reportagens escolhidas - cinco delas urbanas, quatro na Amazônia e uma sobre a geografia íntima da autora - revelam as qualidades que deram à jornalista quase 40 prêmios de reportagem no Brasil e no exterior: um ângulo sempre surpreendente, a apuração rigorosa e uma narrativa tão rica em detalhes que o leitor a lê com o prazer de uma ficção. O percurso começa por um nascimento nos confins da Amazônia, pelas mãos de parteiras da floresta, e se encerra com uma morte em São Paulo, quando Eliane testemunha os últimos 115 dias de vida de uma merendeira de escola. Pelo caminho, o leitor descobre o Povo do Meio, um punhado de brasileiros desconhecidos do próprio Brasil. Enreda-se nos romances arrojados dos vira-latas da Brasilândia. É apresentado às putas que gozam do garimpo do Zé Capeta. E embarca numa espantosa viagem pelo interior do corpo da jornalista, entre outras histórias extraordinárias.

A narrativa da vida real de Eliane Brum, marcada pela delicadeza mesmo nos temas mais duros, captura a atenção do leitor na primeira frase e o leva até o ponto final. Mas, em seu terceiro livro, Eliane vai ainda mais além. Ela faz também uma reflexão sobre o ofício de repórter. E o faz com a sinceridade (e um certo despudor) que caracteriza sua prosa. Para cada reportagem, a jornalista escreveu um texto inédito sobre os dilemas que enfrentou, as escolhas que fez e os erros que cometeu. O resultado é uma análise profunda do exercício do jornalismo, feita por uma repórter conhecida pela ousadia de seus temas. O olho da rua revela-se uma leitura deliciosa para todos aqueles que gostam de boas histórias e não temem o absurdo da realidade. E uma aula de jornalismo para quem quer se tornar repórter - ou mesmo para quem já é, mas acredita que a prática da profissão exige reflexão constante.

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