quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O Esperanto

por Verlaine Freitas*
Situação análoga — mas obviamente muito menos dramática — me parece a do Esperanto, idioma criado artificialmente para servir de língua universal, para a comunicação entre os povos. Trata-se de um idioma construído a partir de um grupo mais ou menos homogêneo de radicais, com variações sempre típicas, de modo a facilitar ao máximo seu aprendizado. Trata-se de uma linguagem sem a seiva das vicissitudes históricas que normalmente se sedimentam nos idiomas. Constituiu-se como uma forma esterilizada da linguagem, isenta de contradições, sobreposições artificiais de significado, excessos, ramificações enganosas, barroquismos de fonética, expressões idiomáticas etc., ou seja, expurgada de tudo aquilo que contraria a unidade cristalina de um idioma que se pretende acessível por todos e qualquer um que queira aprendê-lo. — Desnecessário dizer que também aqui se pode perceber que o desejo de contrariar a hegemonia do Inglês como língua universal deve certamente impulsionar muitos dos adeptos do Esperanto, mesmo que não tenha sido o caso quando de sua invenção por Ludwik Lejzer Zamenhof em 1887.

Em ambos os casos, no Euro e no Esperanto, a intenção é boa, o propósito é realmente nobre e louvável, mas o meio utilizado é francamente impróprio. Ambos passam por cima do quanto a realidade em seus extratos mais concretos é contraditória, antagônica, díspar, múltipla. Diante dessa efervescência vital, ambos os projetos, cada um a seu modo, mostram-se por demais totalitários, e sem o lastro das diferenças que ameaçam uma unidade abstrata, demonstrando o quanto o âmbito simbólico, seja da linguagem ou do dinheiro, como também da moral, da arte e das teorias, precisa refletir nossa necessidade de viver com as diferenças, com os excessos e com as contradições.
*Verlaine Freitas é Professor
Fonte: http://www.verlainefreitas.blogspot.com/

Um comentário:

José Passini disse...

Não discuto a argumentação a respeito do Euro, por falta de conhecimento de economia mundial. Mas a argumentação apresentada relativamente ao Esperanto estar a evidenciar que o comentarista nada entende de comunicação mundial. Ele não se lembra de que enquanto o Euro anula completamente as moedas nacionais, o Esperanto visa à manutenção das nações características de cada povo.
A ausência absoluta de conhecimento na área se revela, também, quando diz