quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Fim da Rádio Record AM de São Paulo alerta para concorrência desleal das FMs
Uma triste notícia atinge o rádio de São Paulo. A Rádio Record AM, da capital paulista, tende a se tornar estritamente religiosa, pondo fim a sua programação que, apesar de serem os donos da Igreja Universal do Reino de Deus, tinha caráter eminentemente popular, sem vínculo religioso, exceto nos horários reservados para orações e cultos da IURD. Entre seus profissionais, está o comunicador Paulo Barbosa, um dos três Paulos do rádio AM (Barbosa, Lopes e Giovani, sendo este último fora do rádio e trabalhando como empresário e publicitário).
Essa não é a única baixa. Muitas baixas atingiram o rádio AM, agravando a fama de "bode expiatório" que a Amplitude Modulada carrega nos últimos anos. É muito conhecido o mito fabricado pelas classes dominantes de que os donos de rádio AM são "sovinas" e os de FM "generosos". Mas a pressão que as FMs impõem contra o rádio AM, usurpando a mesma programação jornalística ou esportiva, faz com que as AMs entrem em falência, enquanto as FMs passam a ganhar cadeira cativa no Congresso Nacional (especialmente com a chamada "Bancada da Bola"), na barganha política, principalmente aquelas FMs que não possuem vínculo partidário declarado, mas recebem tratamento VIP pelas mais poderosas elites econômicas e políticas de nosso país.
O fim da Record AM também mostra outro lado: a invasão de seitas religiosas no rádio AM. Algumas delas adquiriram rádio AM espontaneamente, mas outras não, sendo chamadas, nos bastidores, por empresários ávidos pelo lucro fácil e por isso defensores de um arremedo de rádio AM numa FM, que exige baixos investimentos, garante lucros astronômicos, mantém o status quo sócio-político mas dá uma imagem "politicamente correta" a essa FM que, tida como "informativa", é enquadrada, equivocadamente, numa suposta e irreal "esquerda" radiofônica.
As seitas religiosas quase não têm cuidado na comunicação radiofônica. Seus pastores, salvo exceções, não têm dicção elaborada, falam muitos erros de português, fazem pregação fanática e intolerante e partem para a mesma ladainha das pessoas que "sofreram na vida" e que "encontraram a salvação" na tal igreja que controla a emissora.
A Igreja Universal do Reino de Deus, em várias partes do país, até selecionou uma divisão de emissoras que não tivesse formato estritamente religioso. O poderoso conglomerado radiofônico tinha três tipos de emissoras, em várias partes do país: uma, geralmente AM, de caráter estritamente religioso. Outra, também AM, de programação popular eclética, sem pregação religiosa exceto em alguns horários menos comercializados. E outra, FM, chamada Rede Aleluia, com música "gospel" (sobretudo da Line Records, gravadora da IURD) e pregação religiosa, numa estrutura parecida a uma FM popularesca de música romântica.
A excessiva compra de emissoras fez com que o faturamento da IURD pesasse, apesar de algumas emissoras do grupo terem grande êxito de audiência. A Rádio Sociedade da Bahia se torna um fenômeno de sucesso, sendo a única AM ainda resistente em popularidade em Salvador (seduzido pelo embuste do "Aemão" da Rádio Metrópole FM), havendo até um projeto de rede de rádio, que poderia muito bem compensar a crise na Record AM de SP.
A atitude de emissoras AM, além de algumas FMs, de adotar uma programação religiosa é de interesse meramente de seus líderes, sob o consentimento dos fiéis. Não é uma medida viável, uma vez que seu conteúdo é monótono, baseado sempre na alternação entre pregação religiosa e consultório emocional, neste caso um espaço para os fiéis relatarem sua suposta angústia e o também suposto milagre obtido quando começou a conhecer determinada igreja.
A fórmula, aliás, se desgasta em outros países. A monotonia dos programas religiosos acaba perdendo audiência e dando lugar a programas de interesse público, variados, sem vínculo religioso (mas ainda sob a proibição de fugir de seus princípios, como abordar, por exemplo, religiões hostis à seita dona da rádio ou TV).
No Brasil, no entanto, impera a "lei do jumento", ou seja, fórmula que não dá certo não se revoga. E assim os programas religiosos acabam "enchendo linguiça" no rádio AM e poucas FMs, enquanto o FM em geral apresenta emissoras comerciais forjando um falso bom mocismo, parasitando o formato do rádio AM ao bel prazer, para garantir o enriquecimento dos profissionais dessa minoria de FMs "AnêMicas" para as quais parecem terem nascido em berço de ouro.
Jesus Cristo deve estar ouvindo uma web radio de música folk dos EUA, de tão triste ele deve estar com as AMs "religiosas" que bajulam seu nome e com as FMs "informativas" que usurpam o seu caráter.
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