domingo, 24 de julho de 2011

Logradouros Públicos

Outros tempos, mesmo endereço
Histórico de mudanças nos nomes de ruas de Juiz de Fora mostra como a trajetória política do país pode reescrever o mapa da cidade

Por muitos anos, os fins de tarde dos juiz-foranos foram preenchidos com passeios pela Rua da Califórnia. A elegante via era interceptada pela Rua Direita, local onde Murilo Mendes nasceu. O poeta, entretanto, passou parte da infância perto dali, na Rua da Imperatriz. Já o memorialista Pedro Nava faz divertidas referências à Rua do Sapo no livro "Baú de ossos", antiga zona de meretrício da cidade. Por estranho que pareça, estamos falando de locais conhecidos de Juiz de Fora. Antes de serem rebatizadas como Rua Halfeld, Avenida Rio Branco, Rua Marechal Deodoro e Rua Fonseca Hermes, respectivamente, os logradouros da região central da cidade possuíam denominações bem diferentes, consonantes com os contextos político e cultural de outros tempos.
A propósito, a Avenida Independência pode ser a próxima a mudar de nome. Um projeto em análise pela Câmara Municipal discute a possibilidade de rebatizar a via como Avenida Itamar Franco, escrevendo no mapa da cidade uma homenagem ao ex-presidente morto no dia 2 de julho. Outro exemplo recente é o da Avenida Guadalajara, que passou a se chamar Avenida Mello Reis, em memória do ex-prefeito de Juiz de Fora, falecido em janeiro.
A lista de ruas que mudaram de nome em Juiz de Fora não é pequena. A Proclamação da República, em 1889, motivou uma das mais profundas mudanças na região central da cidade. Assim que a República foi proclamada, em 1889, as vias que homenageavam a monarquia tornaram-se motivo de incômodo. Na mentalidade da época, qualquer lembrança do Império poderia ser considerada símbolo de atraso. Em substituição, surgiam as figuras do Brasil republicano como status de modernidade. "A Rua do Imperador amanheceu como Rua XV de Novembro, a Rua da Imperatriz passou a ser Marechal Deodoro, a da Liberdade, Marechal Floriano Peixoto. Isso espantou pela rapidez com que a Câmara Municipal agiu, uma instituição que teve como último presidente, no Império, o Barão de Retiro, filho do Barão de Juiz de Fora, o primeiro a presidir o Legislativo Municipal", comenta o pesquisador e diretor da Fundação Museu Mariano Procópio (Mapro), Douglas Fasolato.
Outros momentos políticos da história do Brasil deixaram suas marcas no mapa da cidade, como a Era Vargas e a ditadura militar. Durante a Segunda Guerra Mundial, a perseguição aos países inimigos dos Aliados motivou a alteração dos nomes da Rua Itália (que passou a se chamar Rua Oswaldo Aranha), e da Rua Berlim (atual Avenida Governador Valadares). O pesquisador e coordenador da Biblioteca Municipal Murilo Mendes, Vanderlei Tomaz, acrescenta outros exemplos à lista. "Em 1922, quando comemoramos o centenário da Independência do Brasil, a então Rua do Botanágua virou Avenida Sete de Setembro. Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, o que era Rua XV de Novembro virou Avenida Getúlio Vargas. Depois do golpe de 1964, a mesma prática se deu: o que seria a Avenida Presidente João Goulart, o presidente deposto, virou Avenida Brasil", exemplifica.
Nos anos nascedouros de Juiz de Fora, a Avenida Rio Branco foi conhecida como Estrada Geral. À medida em que a cidade foi se desenvolvendo, a via cresceu em importância e passou a ser chamada de Rua Direita. Referências arquitetônicas também influenciam as trocas, caso do antigo Morro da Gratidão, que passou a ser conhecido como Morro da Glória, depois da construção da igreja em homenagem a Nossa Senhora da Glória. Já a antiga Rua da Gratidão, que cruza a região, teve o nome alterado para Avenida dos Andradas.
Fonte: Tribuna de Minas

Um comentário:

Luiz Carlos Martins Pinheiro disse...

Amigo Carlos Ferreira

Muito interessante esta história da nomenclatura dos logradouros de JF.

Como essa verdadeira dança das cadeiras é tradicional em todas as nossas cidades.

Contudo, precisa-se ter tanto respeito com as denominações das vias pública quanto as de pessoas.

As alterações de denominações afentam tremendamente a história, toirnando-a confusa e não raro indecifrável.

Para isto contornar em Logradouros de Miracema está publicada uma relação com denominações substituidas correlacionadas com elas. Em todas denominações sempre que possiveis se apresenta as anteriores desde o loteamento.

Recomenda-se que em locais estratégicos, junto com a placa atual haja uma realtiva as anteriores, não só para eliminar dúvidas, mas principalmente ao melhor conhecimento da própria cidade.

Sabe nos informar o que a CÃmara e/ou a Pefeitura oferece em termos de acesso à legislatição sobre os logradouros de JF.

Abraços, saúde e Paz de Cristo.
Luiz Carlos/MPmemória